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ALEXANDRA_versão final - UNISC Universidade de Santa Cruz do ...

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115Já Francisca e Rosa são consi<strong>de</strong>radas estúpidas em relação à Janguta e Ricar<strong>do</strong>. Ricar<strong>do</strong>é estuda<strong>do</strong>, mora na cida<strong>de</strong> e trabalha como conta<strong>do</strong>r, por isso tem uma visão mais ampla eum maior conhecimento <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> que seus pais, pois nunca saíram <strong>do</strong> pequeno pedaço <strong>de</strong>campo on<strong>de</strong> vivem e pouco conhecem <strong>de</strong> outras culturas. Isso <strong>de</strong>veria elevar Janguta,Francisca e Rosa ao mesmo patamar <strong>de</strong> conhecimento, mas isso não acontece. EnquantoRicar<strong>do</strong> e Janguta conversam sobre o problema que estão enfrentan<strong>do</strong>, as mulheres ficam aouvir. Francisca enten<strong>de</strong> um pouco mais que a filha <strong>do</strong> assunto e ouve maravilhada o queRicar<strong>do</strong> fala, apavorada com a inteligência daquele seu filho que nem parece ter nasci<strong>do</strong> ali eque utiliza palavras tão bonitas, que fogem ao seu entendimento. Rosa, no entanto, limita-se aouvir embasbacada, sem enten<strong>de</strong>r nada <strong>do</strong> diálogo entre os <strong>do</strong>is homens.Danda Pra<strong>do</strong> comenta que a socieda<strong>de</strong> espera da mulher comportamentos chama<strong>do</strong>s“femininos” e que “[...] prescin<strong>de</strong>m <strong>de</strong> aprendizagem. São inerentes à sua natureza pelosimples fato <strong>de</strong> ter nasci<strong>do</strong> mulher” (1979, p 58), o que nos leva a enten<strong>de</strong>r que a mulher<strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> machista não precisa adquirir conhecimentos já que vem para o mun<strong>do</strong> comos atributos que lhes cabe para servir ao seu homem.Em Porteira fechada existem situações <strong>de</strong> leitura, mas somente na camada social alta dacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boa Ventura. Querubina e Maria José são mulheres urbanas e por isso tiveramacesso ao mun<strong>do</strong> da leitura e escrita. Maria José ao casar-se com João Gue<strong>de</strong>s, peão <strong>de</strong>estância e ir morar no interior, passa a viver numa condição inferior à da prima. Em nenhummomento <strong>do</strong> romance Maria José está a ler, mas é alfabetizada e sabe fazer cálculos, já queabre seu negócio. Querubina, por sua vez, casa-se com um homem da burguesia da cida<strong>de</strong>,tem acessos à leitura e costuma ler revistas <strong>de</strong> modas em sua ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> balanço enquanto omari<strong>do</strong> lê o jornal Correio <strong>do</strong> Povo. Mesmo sen<strong>do</strong> uma leitora, o que representa umasignificativa conquista para o mun<strong>do</strong> feminino, ela <strong>de</strong>tém-se em textos fúteis com relação aos<strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, como se não fosse capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r ou que não fosse <strong>do</strong> seu interesse o quetraz o jornal.Como po<strong>de</strong>mos perceber, nas obras que compõem a trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé <strong>de</strong> CyroMartins, em to<strong>do</strong>s os campos sociais as mulheres são submetidas à renúncia, à maternida<strong>de</strong>, àsubmissão, à opressão e passivida<strong>de</strong>. O enre<strong>do</strong> <strong>de</strong>sses romances aborda o século XX, não tãodistante, e ainda notamos as regras patriarcais e machistas da socieda<strong>de</strong> com relação ao

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