15pelo leitor a partir <strong>de</strong> uma limitada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação, habilmente repartida entreautor, narra<strong>do</strong>r e personagens”.(1983, p.18)Dessa maneira, a realida<strong>de</strong> é observada e captada pelo autor, que vai permeá-la <strong>de</strong>fantasia e imaginação, o mesmo trabalho fará o leitor. Se levarmos em conta que a palavraescrita é uma forma <strong>de</strong> comunicação, como to<strong>do</strong> ato comunicativo precisa <strong>de</strong> emissor(escritor) e receptor (leitor), esse último, portanto, faz parte <strong>do</strong> processo tanto quanto oescritor. Sem leitor não há obra literária. A Literatura existe para ser <strong>de</strong>sfrutada por outro serque não seja o autor.Para que o autor possa expressar a sua visão <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> através da ficção fazem-senecessárias as personagens no enre<strong>do</strong> narrativo. As personagens da narrativa são os seresresponsáveis pela vivacida<strong>de</strong> da obra, pois são elas que <strong>de</strong>sempenham um papel ativo noenre<strong>do</strong>. Elas nos são apresentadas pelas características que o autor lhes atribui, essascaracterísticas são atributos verbais, mas que dão a ilusão <strong>de</strong> pertencerem à realida<strong>de</strong>. Forsterpreocupa-se em fazer a distinção entre o homo sapiens (homem real) e o homo fictus(personagem fictício). Para esse autor o escritor escreve sobre aquilo que conhece, pois é umser humano, conhece suas características e algumas das <strong>de</strong>mais pessoas e, por isso po<strong>de</strong>utilizar esse conhecimento para compor sua ficção:É cria<strong>do</strong> nas mentes <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> romancistas, que possuem méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> gestaçãoantagônicos e a seu respeito não <strong>de</strong>vemos generalizar. Ainda assim, se po<strong>de</strong> dizeralgo sobre ele: geralmente nasce, é capaz <strong>de</strong> morrer, requer pouco alimento ou sono,está incansavelmente ocupa<strong>do</strong> com relações humanas, e – o mais importante –po<strong>de</strong>mos saber mais sobre ele <strong>do</strong> que sobre qualquer um <strong>do</strong>s nossos semelhantes,porque seu cria<strong>do</strong>r e narra<strong>do</strong>r é um só. (1970, p. 43)Dessa maneira, inicialmente, a personagem po<strong>de</strong> ter características reais criadas peloautor, mas é um ser <strong>de</strong> palavras e suas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem correspon<strong>de</strong>r à verossimilhança internada obra. Isso a torna um ser livre, pois po<strong>de</strong> agir com atitu<strong>de</strong>s que não correspon<strong>de</strong>m às <strong>do</strong>autor ou <strong>de</strong> outra pessoa real em que possa ter si<strong>do</strong> inspirada Como afirma Tacca : “[...]olhan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> perto, <strong>de</strong>scobrimos que nenhuma <strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong> a uma forma<strong>de</strong> existência (referencial, ‘real’), mas que cada uma se constitui exclusivamente no plano <strong>do</strong>discurso e só a partir <strong>de</strong>le.” (1983, p.14)
16Assim, a personagem é um ser verbal, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> intenções que apresentamcaracterísticas reais filtradas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> pela sensibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> escritor, e esse, para criá-lanecessita <strong>de</strong> imaginação, observação e memória. Através <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> criação é que elastornam-se transparentes à visão leitora, conforme menciona Antônio Cândi<strong>do</strong>:[...] a gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> arte literária (ficcional) é o lugar em que nos <strong>de</strong>frontamos comseres humanos <strong>de</strong> contornos <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>finitivos, em ampla medida transparentes,viven<strong>do</strong> situações exemplares <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> exemplar (exemplar também no senti<strong>do</strong>negativo). Como seres humanos encontram-se integra<strong>do</strong>s num <strong>de</strong>nso teci<strong>do</strong> <strong>de</strong>valores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cognoscitiva, religiosa, moral, social e tomam <strong>de</strong>terminadasatitu<strong>de</strong>s em face <strong>de</strong>sses valores. Muitas vezes <strong>de</strong>batem-se com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>cidir-se em face da colisão <strong>de</strong> valores, passam por terríveis conflitos e enfrentamsituações-limite em que revelam aspectos essenciais da vida humana: aspectostrágicos, sublimes, <strong>de</strong>moníacos, grotescos e luminosos.Esse autor ainda enfatiza que há três elementos essenciais em um romance: o enre<strong>do</strong>, aspersonagens e a técnica utilizada pelo escritor, salientan<strong>do</strong> que esses três elementos <strong>de</strong>vemestar interliga<strong>do</strong>s para que ocorra um bom <strong>de</strong>senvolvimento da obra. Levan<strong>do</strong> emconsi<strong>de</strong>ração o que diz respeito às personagens, cabe-nos comentar que são essas asresponsáveis pelo <strong>de</strong>senrolar da trama existente na obra:Geralmente, da leitura <strong>de</strong> um romance fica a impressão duma série <strong>de</strong> fatos,organiza<strong>do</strong>s em enre<strong>do</strong>, e <strong>de</strong> personagens que vivem estes fatos. É uma impressãopraticamente indissolúvel: quan<strong>do</strong> pensamos no enre<strong>do</strong>, pensamos simultaneamentenas personagens; quan<strong>do</strong> pensamos nestas, pensamos simultaneamente na vida quevivem, nos problemas em que se enredam, na linha <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>stino – traçadaconforme uma certa duração temporal, referida a <strong>de</strong>terminadas condições <strong>de</strong>ambiente. O enre<strong>do</strong> existe através das personagens; as personagens vivem noenre<strong>do</strong>. Enre<strong>do</strong> e personagem exprimem, liga<strong>do</strong>s, os intuitos <strong>do</strong> romance, a visão davida que <strong>de</strong>corre <strong>de</strong>le, os significa<strong>do</strong>s e valores que o animam. (p. 53-54)É importante comentar que, assim como os seres humanos, as personagens apresentamcaracterísticas próprias, algumas se salientam em relação às <strong>de</strong>mais, outras são comuns,corriqueiras e triviais, há ainda as que são semelhantes às outras e as que se distinguem porterem características particulares. Devi<strong>do</strong> a isso, houve uma gran<strong>de</strong> preocupação <strong>do</strong>s críticosliterários em qualificar as personagens conforme o papel que <strong>de</strong>sempenham na obra, Forsterclassifica-as em: planas, as que “são construídas ao re<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma única qualida<strong>de</strong>” (1974,p.54) e re<strong>do</strong>ndas, as que são capazes <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r o leitor, <strong>de</strong> causar impacto com suasatitu<strong>de</strong>s inesperadas.
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