77O passa<strong>do</strong> <strong>de</strong> nosso mun<strong>do</strong> está atulha<strong>do</strong> <strong>de</strong> incontáveis estórias <strong>de</strong> Amazonas erainhas assírias guerreiras, <strong>de</strong>usas-mães e Gran<strong>de</strong>s Elefantas, concumbinas imperiaisque subiram até governar o mun<strong>do</strong>, cientistas, psicopatas, santas e peca<strong>do</strong>ras,Brunhilds, Marie <strong>de</strong> Branvilliers, madre Teresa, Chiang Ch’ing. (MILES, 1989, p.09)Porém, apenas no século XIX começou o reconhecimento <strong>do</strong> papel histórico-social damulher, já que antes disso eram os homens que na maioria das vezes, registravam, <strong>de</strong>finiam einterpretavam os fatos. Devi<strong>do</strong> a isso o <strong>do</strong>mínio da história pertencia ao sexo masculino queretratava os gran<strong>de</strong>s feitos <strong>de</strong> homens governantes e gênios, excluin<strong>do</strong> e sufocan<strong>do</strong> diversasvozes femininas. Essa atitu<strong>de</strong> machista acabou por sufocar muitas i<strong>de</strong>ias e opiniões femininasque po<strong>de</strong>riam acrescentar novos conhecimentos aos atuais.Rosalind Miles cita que as mulheres constituem a maior gênero <strong>de</strong> oprimi<strong>do</strong>s que se temnotícia. Devi<strong>do</strong> a essa opressão, os interesses masculinos e femininos sempre divergiam e obom <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um significava uma baixa no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> outro: “Não épara<strong>do</strong>xal que perío<strong>do</strong>s históricos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> progresso para os homens tenham muitas vezes,implica<strong>do</strong> em perdas e recuos para as mulheres” (MILES, 1989, p. 11).Algumas mulheres permitiam a <strong>do</strong>minação masculina pelo fato <strong>de</strong> seremsobrecarregadas com as tarefas que lhes cabia e mais a maternida<strong>de</strong>, que envolvia tempo eproteção, proteção essa, que aceitavam vinda <strong>de</strong> seu mari<strong>do</strong>. Dessa maneira, durante séculos amulher foi sujeitada fisicamente e economicamente ao po<strong>de</strong>rio masculino, sen<strong>do</strong> concedi<strong>do</strong>aos homens, inclusive, o direito <strong>de</strong> matá-la sob suspeita <strong>de</strong> adultério.[...] a <strong>do</strong>minação masculina foi elaborada em to<strong>do</strong>s os aspectos da vida, sen<strong>do</strong>, naverda<strong>de</strong>, reinventada a cada época com vasta bateria <strong>de</strong> arrazoa<strong>do</strong>s religiosos,biológicos, ‘científicos’, psicológicos e econômicos que suce<strong>de</strong>m na tarefa sem fim<strong>de</strong> justificar a inferiorida<strong>de</strong> da mulher em relação ao homem. (MILES, 1989, p. 12)De início, as mulheres primitivas, segun<strong>do</strong> registros históricos, possuíam mais liberda<strong>de</strong>e igualda<strong>de</strong> <strong>do</strong> que as <strong>de</strong> certas culturas que viriam se impor mais tar<strong>de</strong>. Nos temposprimitivos a mulher <strong>de</strong>senvolvia muitas ativida<strong>de</strong>s. Arqueólogos citam que na Ida<strong>de</strong> da Pedraas mulheres ocupavam-se com tarefas como: coletar comida, cuidar <strong>do</strong>s filhos, trabalhar comcouro fazen<strong>do</strong> roupas e <strong>de</strong>mais artigos com peles <strong>de</strong> animais, cozinhar, fazer artesanatos comopotes e cestas com cerâmica, capins, cascas <strong>de</strong> árvores e fibras, além <strong>de</strong> enfeites com <strong>de</strong>ntes eossos como colares, construir abrigos, fabricar as ferramentas necessárias para asobrevivência <strong>do</strong>s seus, utilizar ervas para tratamentos medicinais. Além disso, elas
78trabalhavam junto com os homens e não eram exploradas em seu trabalho, não havia fetichessobre virginda<strong>de</strong>, nem existia a exclusivida<strong>de</strong> sexual.O primeiro pensamento simbólico <strong>de</strong> que se tem notícia é o da mulher en<strong>de</strong>usada. Deusera uma mulher para os povos primitivos, que a chamavam <strong>de</strong> “Gran<strong>de</strong> Deusa”,reverencian<strong>do</strong>-a com mitos e cultos. O principal fato que contribuiu para a exaltação <strong>do</strong>feminino foi o nascimento, pois antes <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> reprodução, os bebêssimplesmente nasciam das mulheres, portanto, a mulher era responsável pela vida e suacontinuida<strong>de</strong>. Por causa <strong>de</strong>ssa falta <strong>de</strong> conhecimento sobre a reprodução humana, as mulherespossuíam o po<strong>de</strong>r, tinham o controle <strong>do</strong> dinheiro, das proprieda<strong>de</strong>s, possuíam direitosconjugais respeita<strong>do</strong>s e gozavam <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.Esse po<strong>de</strong>rio feminino durou até o homem enten<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> reprodução. A partirdaí surgiu uma guerra entre os sexos que dividiu a socieda<strong>de</strong> por milênios. Os homens nãobuscavam a igualda<strong>de</strong> e sim a superiorida<strong>de</strong> masculina, já que eles eram os filhos da Deusa,pois carregavam a “semente” da vida que cabia a mulher receber e servir-lhe como uma terra<strong>de</strong> plantio. Para esse fim, os homens usaram da morte e <strong>de</strong>struição, articularam ataques contraa natureza feminina e aos seus direitos, levaram as mulheres a um nível <strong>de</strong> quase servidão,como se fossem proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses gran<strong>de</strong>s filhos da Deusa: “Os novos sistemas social emental, roubavam-lhes sua liberda<strong>de</strong>, autonomia, controle, e até mesmo o mais básico direito<strong>de</strong> controle <strong>do</strong> próprio corpo. Pois elas agora pertenciam aos homens – ou antes, a umhomem”. (MILES, 1989, p. 77)Com o surgimento <strong>do</strong> Judaísmo e <strong>do</strong> Islamismo em aproximadamente 600 ac – 600 dc,as mulheres sofreram um gran<strong>de</strong> impacto, pois em qualquer sistema – judaísmo,confucionismo, Budismo, Cristianismo ou Islamismo – os homens eram apresenta<strong>do</strong>s comosantos, filhos <strong>de</strong> um Deus único. Essa crença em um Deus único criava uma relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<strong>do</strong> mais forte sobre o mais fraco quase in<strong>de</strong>strutível. É importante salientar que qualquer um<strong>de</strong>sses sistemas religiosos enaltecia a supremacia masculina ante a inferiorida<strong>de</strong> feminina.A auto-elevação <strong>do</strong> homem transformou a mulher num ser inferior e a excluiu <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> importante. A fé em um único Deus fazia acreditar que homens e mulhereseram seres opostos e, portanto, se o homem era o escolhi<strong>do</strong> por Deus e possui<strong>do</strong>r <strong>de</strong> todaforça e virtu<strong>de</strong>, a mulher era consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong>feituosa e fraca:
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