47E a arte surge, na plenitu<strong>de</strong> da sua função expressiva e catártica, como objeto bom,como objeto i<strong>de</strong>al. Para o artista e para o especta<strong>do</strong>r. Para o artista, porque vivenciaa obra como um complemento <strong>do</strong> próprio ser que a ajuda, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> fora, aconfigurar a imagem que faz <strong>de</strong> sua ‘self image’ e a compreen<strong>de</strong>r o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> suaexistência. Para o especta<strong>do</strong>r, pela função especular e as conseqüentes oportunida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação projetiva que tôda obra <strong>de</strong> natureza artística oferece a quem admira.(1970, p. 26)Além <strong>de</strong> auxiliar o escritor na sua busca <strong>de</strong> conhecimento, a arte será elaborada segun<strong>do</strong><strong>de</strong>termina<strong>do</strong> público receptor, isto é, um público projeta<strong>do</strong> pelo artista no momento <strong>de</strong> feitura:“Ao contrário <strong>do</strong> que possa transparecer <strong>de</strong> certos conceitos <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> narcisistas <strong>de</strong> arte, acriação artística, quanto mais genuína, mais ligada estará à imagem <strong>do</strong> público fantasiada peloautor, através <strong>de</strong> um mecanismo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação projetiva” (MARTINS, 1970, p. 27). Assim,o escritor, ao elaborar sua narrativa, <strong>de</strong>ve investigar os fatores socioculturais e suasinfluências, isto é, a estrutura social, as i<strong>de</strong>ologias e aos valores presentes naquela socieda<strong>de</strong>que <strong>de</strong>seja retratar.Dessa maneira, po<strong>de</strong>mos refletir sobre a gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> e abrangência da Literaturaem elaborar e expressar problemas sociais individuais, mas que po<strong>de</strong>m ser inseri<strong>do</strong>s em umcontexto universal: “A construção literária po<strong>de</strong>ria atingir o universal pelo tratamento <strong>do</strong>stemas particulares e regionais, sem que com isso se empobrecesse.” (PESAVENTO, 1998, p.27)Sociologicamente, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a obra literária acabada no momento em queexerce alguma função, em que atua na socieda<strong>de</strong>. Ora, como já dissemos anteriormente, a arteé uma forma <strong>de</strong> comunicação que exige um comunicante (artista), um comunica<strong>do</strong> (obra) eum comunican<strong>do</strong> (público), através <strong>de</strong>sses surge um quarto elemento: o efeito que essa obrarepercute no indivíduo e, consequentemente, no meio on<strong>de</strong> se insere.2.1.8 Literatura e História na formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social e individualA História e a Literatura seguem caminhos distintos, mas que convergem no momentoem que representam uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> porque ambas jogam com estratégias <strong>de</strong> convicção, daverossimilhança, da credibilida<strong>de</strong> e da autorida<strong>de</strong> da fala, pois, “literatura e históriacontribuem para a atribuição <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, social e individual, provocan<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>
48comportamento”. (PESAVENTO, 1998, p. 14). Ambas apreen<strong>de</strong>m o real e oferecem leituraspossíveis da vida, além <strong>de</strong> apresentarem ao leitor o jogo <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r e forças sociais existentesna socieda<strong>de</strong> que buscam retratar.Ao longo <strong>de</strong>ssa pesquisa po<strong>de</strong>mos constatar o gran<strong>de</strong> esforço empreendi<strong>do</strong> pelaLiteratura e pela História para apresentar uma realida<strong>de</strong> que, por mais que não seja totalmenteverda<strong>de</strong>ira, possa ser aceita, pois, as duas permitem ao presente uma leitura <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Semdúvida é a história que tem uma fala “autorizada” sobre os acontecimentos passa<strong>do</strong>s, já que aLiteratura não tem intenção <strong>de</strong> comprovar a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s fatos narra<strong>do</strong>s. Essa última, porém,também expressa uma carga <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> em suas linhas: “Há, pois, um componentemanifesto <strong>de</strong> ficcionalida<strong>de</strong> no discurso histórico, assim como, da parte da narrativa literária,constata-se o empenho <strong>de</strong> dar veracida<strong>de</strong> à ficção literária” (PESAVENTO, 1998, p.22)Cyro Martins enfatiza que o passa<strong>do</strong> é <strong>de</strong> extrema relevância para a criação artística:“Parece, pois, que estamos no caminho certo quan<strong>do</strong> afirmamos que na criação artística opassa<strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenha um papel importante” (1970, p. 30)Hay<strong>de</strong>n White afirma que não há Literatura sem historicida<strong>de</strong> nem História sem ficção:“Com efeito, po<strong>de</strong>-se afirmar que, assim como não po<strong>de</strong> haver explicação na história semuma estória, também não po<strong>de</strong> haver estória sem um enre<strong>do</strong> por meio <strong>do</strong> qual ela sejaconvertida num tipo particular <strong>de</strong> estória.” (2001, p. 79)Dessa maneira, indiferente <strong>de</strong> ser um texto literário ou histórico, ele precisa ser bemarticula<strong>do</strong> e convincente para passar uma impressão <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> ao leitor. Devi<strong>do</strong> a issoescritores <strong>de</strong> ficção buscam contextualizar seus personagens, ambientes e acontecimentos paraque sejam aceitos pelo público leitor. Mas é preciso ter em conta que Literatura e História têmmaneiras diferentes <strong>de</strong> expressar a realida<strong>de</strong>, procuram recriar o mun<strong>do</strong>, cada uma com níveisdistintos <strong>de</strong> aproximação da realida<strong>de</strong>.O texto literário é uma forma <strong>de</strong> expressão da maneira <strong>de</strong> sentir, pensar e agir, aLiteratura é um objeto que testemunha o seu tempo, é um registro <strong>do</strong>s seres humanos <strong>de</strong> ummomento histórico porque é escrita com a sensibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> homem em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momentohistórico. Assim, a Literatura elabora e transmite a energia que a envolve, entran<strong>do</strong> nos<strong>do</strong>mínios da História Cultural, já que procura registrar a vida e, sobretu<strong>do</strong>, impressão <strong>de</strong> vida,
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