87capataz, que é um homem extremamente severo, autoritário e violento. Em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>momento surra Chiru, já moço, com agressivida<strong>de</strong>. O jovem não aceita os maus-tratosrecebi<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ir embora da Estância para juntar-se a uma coluna revolucionária daRevolução <strong>de</strong> 23 que passava perto da Estância naquele dia. Como não consegue alcançar astropas, Chiru aloja-se na pequena chácara <strong>de</strong> Tomás Barbosa, o chacareiro antigo da Estância<strong>do</strong> Silêncio, que tem um filho carreteiro.Após essa estadia na casa <strong>de</strong> Tomás Barbosa, a história toma novos rumos e Chiru já écarreteiro há <strong>do</strong>is anos, emprega<strong>do</strong> <strong>de</strong> André Barbosa, filho <strong>de</strong> Tomás. Já está adulto o Chiru,encorpa<strong>do</strong> e aparentemente mais maduro: “Estava entronca<strong>do</strong> e <strong>de</strong> braços grossos, bem outro,o Chiru.” (1997, p. 88). Esse seu emprego, porém, dura pouco, o rapaz é <strong>de</strong>spedi<strong>do</strong> porquebebe em serviço. A partir daí começa seu processo <strong>de</strong> ruína e <strong>de</strong>cadência, pois não conseguepermanecer por muito tempo em nenhum emprego. No último, <strong>de</strong> boteiro, não teve êxito pormotivos políticos.Com o passar <strong>do</strong> tempo, Chiru forma família com Alzira, filha <strong>do</strong>s posteiros daEstância. Isso ocorre quan<strong>do</strong> ele se vê <strong>de</strong>snortea<strong>do</strong> e sem emprego, o que o leva a voltar aospagos da infância para reviver boas lembranças. Ao retornar encontra Alzira a banhar-se norio e sente <strong>de</strong>sejo pela moça, enlaça-a pela cintura e a leva para viver com ele na cida<strong>de</strong>.Alzira, porém, já o esperava há alguns dias, pois os <strong>do</strong>is já haviam combina<strong>do</strong> a fuga hátempos. Na cida<strong>de</strong> o casal tem um filho, Joãozinho. Após passar por diversos empregosfracassa<strong>do</strong>s Chiru trabalha na construção <strong>de</strong> uma linha férrea, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> também é <strong>de</strong>spedi<strong>do</strong>por motivos políticos. Seu chefe, na construção, era ninguém menos que Clarimun<strong>do</strong>, ocapataz que o agrediu na Estância. No <strong>final</strong> da obra, Chiru e sua família estão partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sseúltimo emprego, a pé, sem rumo.Chiru é um personagem que representa a população pobre <strong>de</strong> um Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul emcrescente transformação sócio-econômica, ele está <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, humilha<strong>do</strong>, marginaliza<strong>do</strong>,<strong>de</strong>semprega<strong>do</strong> e sem perspectiva <strong>de</strong> um futuro melhor na cida<strong>de</strong>. As exigências da vidacitadina, o fazem terminar na miséria, na periferia <strong>do</strong>s centros urbanos.Nessa obra encontramos muitos casais, alguns são casa<strong>do</strong>s, outros vivem juntos sem a<strong>do</strong>cumentação que estabelece a união conjugal, são eles: Clarimun<strong>do</strong> e Evarista, Manuel eMaria e Alzira e Chiru. Vamos analisar cada um <strong>de</strong>sses casais, com o objetivo <strong>de</strong> verificar a
88maneira como se dá a relação homem/mulher nas situações apresentadas na obra. Tambémbuscamos constatar como era o tratamento <strong>do</strong> companheiro e da socieda<strong>de</strong> em geral, com asmulheres <strong>de</strong>sse tempo na Literatura ficcional. Dessa forma se enquadram em nossa análiseigualmente as mulheres solteiras que participam ativamente <strong>do</strong> enre<strong>do</strong>.Clarimun<strong>do</strong> e Evarista vivem na Estância <strong>do</strong> Silêncio em uma pequena casa, humil<strong>de</strong> esimples, coberta <strong>de</strong> capim, sem reboco, com pare<strong>de</strong>s tortas e pequenas peças. Evaristatrabalha <strong>de</strong> <strong>do</strong>na-<strong>de</strong>-casa e realiza to<strong>do</strong>s os afazeres <strong>de</strong> uma mulher: cuida da casa, dasgalinhas, <strong>do</strong>s filhos, lava roupas, etc. Evarista não gosta da presença <strong>de</strong> Clarimun<strong>do</strong> em casa,vive amedrontada pelo companheiro, um homem seco, autoritário e violento.De início o casal tinha um bom relacionamento. Clarimun<strong>do</strong> uniu-se com Evaristaquan<strong>do</strong> essa já tinha filhos, e isso não foi empecilho para o casal até que Florin<strong>do</strong>, um peão dafazenda, ridiculariza a atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> capataz, zomban<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>le para com aquelascrianças que não eram seus filhos. Diante disso, o capataz sente-se envergonha<strong>do</strong> em assumirEvarista e os filhos, passa, então, a rejeitá-los com gestos e atitu<strong>de</strong>s grosseiras e frias, apesar<strong>de</strong> ter um forte sentimento que o pren<strong>de</strong> à mulher e o impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>ná-la:Aquela mulher, com filhos que não eram seus – embora soubesse disso quan<strong>do</strong> aligou à sua vida – não lhe servia. Mas havia qualquer coisa, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, maispo<strong>de</strong>rosa que a sua vonta<strong>de</strong>, que o impedia <strong>de</strong> encilhar o pingo e ir embora, aqualquer rumo. (1997, p. 40-41)Em consequência <strong>de</strong>ssas atitu<strong>de</strong>s, Evarista sente-se reprimida diante da figura agressiva<strong>do</strong> companheiro e só se atreve a acariciar os filhos quan<strong>do</strong> ele não está em casa:Àquela hora era a única em que cevava o mate ao mari<strong>do</strong> com prazer! Não tardava,ele saía para o galpão, para as mangueiras, para o campo, para a lida diária, enfim, adar or<strong>de</strong>ns. Ficava <strong>de</strong>pois tão bom aquele quartinho aperta<strong>do</strong> <strong>de</strong> cozinheira, pare<strong>de</strong>stortas, sem reboco, e coberta <strong>de</strong> capim. Então, ela podia chegar sem constrangimentoao catrezinho <strong>do</strong>s filhos e mimá-los, acariciá-los, sem pensar, por momentos, nainclemência da vida. E tinha to<strong>do</strong> o pátio para andar à vonta<strong>de</strong>. Ficava ligeira,remoçada. (1997, p. 39)Evarista vive angustiada, sem saber o que se passa na cabeça <strong>de</strong> Clarimun<strong>do</strong> que estásempre distante, frio e silencioso, até mesmo na hora <strong>do</strong> mate, <strong>de</strong> manhã, antes <strong>de</strong> sair para asli<strong>de</strong>s. O silêncio <strong>de</strong>le torna o clima pesa<strong>do</strong> entre o casal e não permite nenhuma expressão damulher, que não se atreve a sequer olhá-lo no rosto: “Evarista ergueu mais o olhar. Viu olenço encarna<strong>do</strong> enrolan<strong>do</strong> o pescoço <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>. Viu o queixo pontu<strong>do</strong>, a boca, os lábios
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