39A autora acima referida acredita que o entrecruzamento entre a ciência histórica e a arteliterária está na noção <strong>de</strong> representação. Pesavento cita a representação como uma“presentificação <strong>de</strong> um ausente, que é dada a ver por uma imagem mental ou visual que, porsua vez, suporta uma imagem discursiva.” (1998, p. 19) o que estabelece uma relação entreimaginário e realida<strong>de</strong> concreta.Com isso, po<strong>de</strong>mos afirmar que História e Literatura são narrativas que buscam dar umaexplicação para o real, estão presentes em to<strong>do</strong>s os espaços e tempos, pois as pessoas semprese expressaram através da linguagem oral, escrita, não-verbal (imagem), sonora (música), etc.Concordamos com Sandra Jatahy Pesavento quan<strong>do</strong> afirma que ambas as disciplinas buscamacima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> um conhecimento, uma explicação para a vida e o ser humano, por isso,História e Literatura possuem relações muito estreitas.Assim, literatura e história são narrativas que tem o real como referente, paraconfirmá-lo ou negá-lo, construin<strong>do</strong> sobre ele toda uma outra <strong>versão</strong> oriunda paraultrapassá-lo. Como narrativas, são representações que se referem a vida e que aexplicam.7 (2006)2.1.3 A História e o historia<strong>do</strong>rO historia<strong>do</strong>r é um ser humano, e, portanto, é pesquisa<strong>do</strong>r ao mesmo tempo em que éagente na História. Sua função é reunir e selecionar da<strong>do</strong>s para estabelecer ligações entre umfato e outro, com o objetivo <strong>de</strong> aproximar-se o máximo possível da realida<strong>de</strong> passada. Demo<strong>do</strong> que o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa seleção serão fatos interpreta<strong>do</strong>s pelo historia<strong>do</strong>r em resposta àsperguntas que foram feitas durante a pesquisa, o que confirma que a História <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> quaseque totalmente da interpretação <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r. Pesavento posiciona-se a respeito <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>rna História. Para ela, o historia<strong>do</strong>r se transforma em narra<strong>do</strong>r ao relatar os fatos ocorri<strong>do</strong>s<strong>de</strong>scobertos em sua pesquisa:Neste campo temos também o narra<strong>do</strong>r – o historia<strong>do</strong>r – que tem também tarefasnarrativas a cumprir: ele reúne os da<strong>do</strong>s, seleciona, estabelece conexões ecruzamentos entre eles, elabora uma trama, apresenta soluções para <strong>de</strong>cifrar a intrigamontada e se vale <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> retórica para convencer o leitor, com vistas aoferecer uma <strong>versão</strong> o mais possível aproximada <strong>do</strong> real aconteci<strong>do</strong>. 8 (2006)7 Disposto em: http://nuevomun<strong>do</strong>.revues.org/in<strong>de</strong>x1560.html8 Ibi<strong>de</strong>m.
40Dessa forma, o historia<strong>do</strong>r apresenta fatos verossímeis com a realida<strong>de</strong> passada, nãototalmente reais, mas passíveis <strong>de</strong> concordância, já que não irá criar os fatos no seu senti<strong>do</strong>absoluto, vai <strong>de</strong>scobri-los e atribuir-lhes senti<strong>do</strong>. Paul Veyne em Como se escreve a históriamenciona que o historia<strong>do</strong>r simplifica e organiza os fatos durante sua pesquisa, <strong>de</strong> maneiraque faz uma síntese narrativa parecida com o nosso procedimento ao lembrar os últimos <strong>de</strong>zanos que vivemos. Devi<strong>do</strong> a isso o historia<strong>do</strong>r “tem a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> recortar a história a seumo<strong>do</strong> [...] pois a história não possui articulação natural.” (1982, p. 19)Além disso, Veyne salienta que um leitor crítico e profissional não acreditará fielmenteem um texto histórico, também não o subestimará, irá vê-lo com um amplo campo <strong>de</strong>possibilida<strong>de</strong>s: “Para to<strong>do</strong> o leitor <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> espírito crítico e para a maior parte <strong>do</strong>sprofissionais, um livro <strong>de</strong> história não é, na realida<strong>de</strong>, o que aparenta ser, assim, ele não trata<strong>do</strong> Império Romano, mas daquilo que ainda po<strong>de</strong>mos saber sobre esse império.” (1982, p. 18)Hay<strong>de</strong>n White afirma que o historia<strong>do</strong>r, no momento em que recolhe os fatos e pesquisaos acontecimentos passa<strong>do</strong>s, irá salientar alguns e suprimir outros, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o fim que<strong>de</strong>seja obter durante o ato da leitura:[...] nenhum conjunto da<strong>do</strong> <strong>de</strong> acontecimentos históricos casualmente registra<strong>do</strong>spo<strong>de</strong> por si só constituir uma estória; o máximo que po<strong>de</strong> oferecer ao historia<strong>do</strong>r sãoos elementos <strong>de</strong> estória. Os acontecimentos são converti<strong>do</strong>s em estória pelasupressão ou subordinação <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les e pelo realce <strong>de</strong> outros, porcaracterização, repetição <strong>do</strong> motivo, variação <strong>do</strong> tom e <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista, estratégias<strong>de</strong>scritivas alternativas e assim por diante – em suma, por todas as técnicas quenormalmente se espera encontrar na urdidura <strong>do</strong> enre<strong>do</strong> <strong>de</strong> um romance ou umapeça. (2001, p. 100)Dessa maneira, a História <strong>de</strong>ve reimaginar alguns aspectos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e apresentá-los<strong>de</strong> maneira verossímil e persuasiva. As fontes históricas são indícios forma<strong>do</strong>s acerca <strong>do</strong> quepo<strong>de</strong> ter aconteci<strong>do</strong>, com a <strong>versão</strong> <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r e o enre<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong> por esse a partir daseleção <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos. Através <strong>de</strong>sses fatores existentes na pesquisa em História é quenotamos a presença da ficcionalida<strong>de</strong> em seu discurso.
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