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ALEXANDRA_versão final - UNISC Universidade de Santa Cruz do ...

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26Essa mesma opinião tem o autor sobre si mesmo. Ao relatar o processo <strong>de</strong> criação darealista trilogia <strong>do</strong> gaúcho a pé, expõe sutilmente o olhar sensível que possuía em relação àsmisérias alheias e a preocupação que tinha em expor o mais próximo possível da realida<strong>de</strong> ocotidiano <strong>do</strong> homem pobre <strong>do</strong> campo:Os pobres da campanha não passavam fome. Tomavam leite e comiam carne, arroz,feijão preto, abóbora nascida guacha ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> rancho, sim, guacha, sem mãe. [...]Quase to<strong>do</strong>s os posteiros, os que tinham como obrigação <strong>de</strong>clarada cuidar o fun<strong>do</strong>das estâncias, aqueles plantavam uma lavourinha <strong>de</strong> milho, batata-<strong>do</strong>ce, melancia eabóbora. E o patrão sempre lhe cedia uma ou duas vacas <strong>de</strong> leite. Mas, não restamdúvidas, eram marginais, porque não tinham a menor chance <strong>de</strong> melhorar <strong>de</strong> nívelsocial e econômico. Em síntese, senti minha própria gente, e eu mesmo, muito pertoda condição <strong>de</strong> marginal, não no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>linqüente, mas no <strong>de</strong> impossibilita<strong>do</strong>,por escassez <strong>de</strong> recursos, <strong>de</strong> participar da socieda<strong>de</strong> que vive em torno. (MARTINS,1990, p. 116)Através <strong>de</strong> suas obras, Cyro impressiona por ser um gran<strong>de</strong> observa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> homem, danatureza humana, numa linguagem clara “Cyro escrevia direto e simples como falava”(PECHANSKY, 1999, p. 53), dan<strong>do</strong> a impressão <strong>de</strong> que tentava facilitar para que o enre<strong>do</strong>permanecesse na memória <strong>do</strong> leitor. A maior preocupação <strong>de</strong>sse escritor era enten<strong>de</strong>r o serhumano, talvez por isso suas personagens apresentam uma certa profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimentosque, para Liana Timm (1999, p. 63) <strong>de</strong>rivam <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong> autor pois “além <strong>de</strong>escritor, era um sabe<strong>do</strong>r na prática, das necessida<strong>de</strong>s, possibilida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s humanas”.Nessa mesma linha, Décio Freitas (1999, p. 22) vai além e situa a importância <strong>de</strong> CyroMartins pela crítica que faz à história <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul:Curiosamente, são os escritores que fazem, na literatura, a crítica da história <strong>do</strong> RioGran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. São as visões mais lúcidas, as <strong>do</strong>s escritores. Um <strong>de</strong>les foiindubitavelmente o Cyro. Eu ficava pensan<strong>do</strong> naquele homem tão suave, como eleera e, no entanto, com tanta força em sua crítica, <strong>de</strong>vasta<strong>do</strong>ra, sobretu<strong>do</strong> corajosa.O próprio autor procura <strong>de</strong>finir-se ao comentar sobre o importante papel que o escritor<strong>de</strong>sempenha para a socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> está inseri<strong>do</strong>. Para isso, o autor observa que é precisoanalisar e transmitir às pessoas, através da escrita, algumas das experiências subjetivas vividaspara que essas possam enten<strong>de</strong>r o mun<strong>do</strong> em que vivem e melhorá-lo, tornan<strong>do</strong>-o maishumano:É assim que vemos o artista, o escritor, como órgão social, cuja função precípuaconsiste em elaborar e transmitir, esteticamente, experiências subjetivas eimpressões sensoriais provindas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior, mas transfiguradas pelaprojeção. (1999, p. 195)

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