61Nessa época, o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul abastecia o merca<strong>do</strong> interno brasileiro com produtosagropecuários (charque e couros); o maior problema enfrenta<strong>do</strong> foi a falta <strong>de</strong> acesso àtecnologia <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>res <strong>de</strong> ga<strong>do</strong>, pois os rebanhos não cresciam <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a <strong>do</strong>enças e pestesque causavam gran<strong>de</strong>s perdas e prejuízos econômicos, pois, muitas vezes, era volumoso onúmero <strong>de</strong> bovinos mortos e sacrifica<strong>do</strong>s. Também houve poucos cuida<strong>do</strong>s com a questãogenética, o cruzamento <strong>do</strong> mesmo sangue durante anos tornou o ga<strong>do</strong> enfraqueci<strong>do</strong>, issoresultou em pouco peso. Os campos também não estavam bem cerca<strong>do</strong>s, as divisóriaspermaneciam in<strong>de</strong>finidas.Os cria<strong>do</strong>res ainda <strong>de</strong>pendiam <strong>do</strong> tempo, os fenômenos meteorológicos precisavamestar <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com seus interesses, pois, com os campos cheios <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> uma simples seca,ou alguns dias <strong>de</strong> chuva além <strong>do</strong> previsto, causavam gran<strong>de</strong>s perdas já que o campo nãopropiciava espaço suficiente para o alimento bovino. Essa questão é retratada em Estradanova e é um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s me<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Coronel Teo<strong>do</strong>ro: “- Mas os meus campos – acentuouTeo<strong>do</strong>ro, com um certo exagero na fala e no gesto – estão muito povoa<strong>do</strong>s. Por isso receioque uma sequinha qualquer se faça sentir logo-logo” (1992, p. 69).Com to<strong>do</strong>s esses problemas, o estancieiro ainda <strong>de</strong>pendia <strong>do</strong>s preços ofereci<strong>do</strong>s peloscompra<strong>do</strong>res <strong>de</strong> charque, <strong>de</strong> lã, carne, e outros produtos ofereci<strong>do</strong>s pela pecuária. Oscompra<strong>do</strong>res, por sua vez, <strong>de</strong>pendiam <strong>do</strong> preço <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno brasileiro. Não haviapossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> competir com o preço estabeleci<strong>do</strong> pelos frigoríficos, o lucro, então,permanecia nas mãos das casas <strong>de</strong> comércio on<strong>de</strong> esses produtos eram vendi<strong>do</strong>s. Dessamaneira os cria<strong>do</strong>res <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> também sofriam explorações, claro que nada comparável àmiséria em que viviam os peões <strong>de</strong> estâncias, os agricultores, os carreteiros e os emprega<strong>do</strong>sdas lojas <strong>de</strong> comércio como comenta Chiru em Sem rumo:Estavam se logran<strong>do</strong>, os trouxas. Os cria<strong>do</strong>res, os compra<strong>do</strong>res e reven<strong>de</strong><strong>do</strong>res <strong>de</strong>ga<strong>do</strong>, os <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s sala<strong>de</strong>iros e seus emprega<strong>do</strong>s mais copetu<strong>do</strong>s, a gringada <strong>do</strong>sfrigoríficos, então, esses to<strong>do</strong>s, sim, tinham razão <strong>de</strong> falar. E os <strong>do</strong>nos <strong>de</strong> venda. Eos capatazes <strong>de</strong> tropas. Mas já o peão <strong>de</strong> tropa, o peão <strong>de</strong> estância, o agrega<strong>do</strong>, oplanta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> chacra, o caixeiro <strong>de</strong> venda e o peão <strong>de</strong> carreteiro como ele já fora...Ospatrões que pra eles também interessava. Mas o certo era que, vinha ano, passavaano, e eles, essa gentinha toda, ele inclusive, cada vez mais pelas caronas. (1997, p.99-100)A falta <strong>de</strong> recursos levou os estancieiros a fundarem a União <strong>do</strong>s Cria<strong>do</strong>res, em 1912,órgão que passou a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r seus interesses, buscan<strong>do</strong> novas técnicas, promoven<strong>do</strong> <strong>de</strong>bates,
62sempre com o objetivo <strong>de</strong> formar um frigorífico que respon<strong>de</strong>sse aos apelos <strong>do</strong>s pecuaristas: ofrigorífico Rio-Gran<strong>de</strong>nse. A eclosão da Primeira Guerra Mundial foi o fator que propiciouuma melhora na economia gaúcha, que exportava carne e <strong>de</strong>mais alimentos produzi<strong>do</strong>s paraos países bélicos.Paralelamente a essa crise superada pela pecuária, a agricultura colonial passava porgraves problemas com a competição <strong>de</strong> produtos agrícolas <strong>de</strong> outros Esta<strong>do</strong>s que selocalizavam no centro <strong>do</strong> país. Também ocorria esgotamento <strong>do</strong> solo e a divisão da terracomo herança <strong>de</strong> pai para filho, <strong>de</strong> filho para neto e assim por diante com famílias numerosasa ponto <strong>de</strong> não ter mais como fracionar. Também ocorria uma monopolização <strong>do</strong>s lucrospelos comerciantes que pagavam preços baixos ao produtor.A maneira que os produtores rurais encontraram para sair da crise foi exportar paranovos merca<strong>do</strong>s, como o Prata. As necessida<strong>de</strong>s criadas pela guerra também favoreceram aagricultura gaúcha a sair da crise, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que em 1920 o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul aumentou aprodução e exportação. A cultura <strong>do</strong> arroz expandiu-se nesse perío<strong>do</strong> e tornou-se uma gran<strong>de</strong>fonte <strong>de</strong> renda, muitas terras on<strong>de</strong> havia criações <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> foram arrendadas para o cultivo<strong>de</strong>sse grão. Esse fato econômico é menciona<strong>do</strong> no início <strong>do</strong> romance Estrada nova, quan<strong>do</strong>seu Fábio recorda a crise que o fez ven<strong>de</strong>r seu campo e lembra <strong>do</strong> alto valor <strong>do</strong> arroz naépoca:- Pois é, mas o linho estava em moda naqueles anos.- Eu me lembro, <strong>de</strong>u a febre <strong>do</strong> linho neste Rio Gran<strong>de</strong>.- Aguar<strong>de</strong> até o fim <strong>do</strong> causo. O linho só me <strong>de</strong>u prejuízo. Mas o arroz, no primeiroano, livrou as <strong>de</strong>spesa. (1992, p. 27)Com a agricultura e a pecuária fortifica<strong>do</strong>s pelas necessida<strong>de</strong>s geradas pela guerra, oRio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul acumulava dinheiro e, por isso, começava, calmamente, o processo <strong>de</strong>industrialização. Esse processo recebeu to<strong>do</strong> o apoio necessário <strong>do</strong> governo que pretendiaobter apoio político e financeiro <strong>do</strong>s pecuaristas.O perío<strong>do</strong> da Guerra, como dispunha <strong>de</strong> um ótimo merca<strong>do</strong> para o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul,foi o melhor perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> governo Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros. Mas no plano social a situação estava<strong>de</strong>licada, greves agitavam o Esta<strong>do</strong>, os operários estavam organiza<strong>do</strong>s em sindicatos, haviatendências socialistas, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a isso o governo
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