59Algumas classes trabalha<strong>do</strong>ras começaram a se <strong>de</strong>stacar, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à circulação <strong>do</strong> capital. Astransformações ocorridas fizeram surgir novas classes como a burguesia e a classe média quese revoltaram e organizaram a queda <strong>do</strong> regime monárquico para o republicano.No Esta<strong>do</strong> gaúcho ocorreu uma baixa no capital <strong>de</strong> giro em relação às outras áreas, vistoque exportava para o abastecimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno brasileiro. A zona <strong>de</strong> imigraçãoalemã e italiana apresentava uma maior facilida<strong>de</strong> para abraçar o sistema capitalista aocontrário da pecuária, que ainda era a principal ativida<strong>de</strong> econômica <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Teo<strong>do</strong>ro, <strong>de</strong>Estrada nova, reflete sobre essa mudança econômica e chega a pensar na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>trocar a pecuária pela agricultura: “Entretanto, o seu ramo era aquele, a pecuária. Sair <strong>de</strong>le,meter-se em qualquer outro negócio, seria arriscar-se sem necessida<strong>de</strong>, nada aconselhável nasua ida<strong>de</strong>” (1992, p. 61).O PL pouco po<strong>de</strong> fazer para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os interesses <strong>do</strong>s sesmeiros e diante <strong>de</strong>ssa crisesurge nova i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> República <strong>do</strong> PRR (Parti<strong>do</strong> Republicano Rio-Gran<strong>de</strong>nse) que,fundamenta<strong>do</strong> no Positivismo <strong>de</strong> Comte, tinha Júlio <strong>de</strong> Castilhos como representanteprincipal. Em 1891 Castilhos foi eleito governa<strong>do</strong>r estadual e, nesse mesmo ano, <strong>de</strong>posto peloParti<strong>do</strong> Republicano Fe<strong>de</strong>ral e novamente reconduzi<strong>do</strong> ao po<strong>de</strong>r em 1892, o que ocasionou aRevolução Fe<strong>de</strong>ralista em 1893: os liberais li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por Silveira Martins formaram o Parti<strong>do</strong>Fe<strong>de</strong>ralista Brasileiro opon<strong>do</strong>-se ao governo <strong>de</strong> Júlio <strong>de</strong> Castilhos no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul eFloriano Peixoto no Brasil. A vitória ficou com Floriano e Castilhos porque uniram-se aoexército.Os fe<strong>de</strong>ralistas <strong>de</strong>puseram as armas em 1895, com a condição <strong>de</strong> que a constituiçãofosse revista e <strong>de</strong> que a reeleição fosse proibida no Esta<strong>do</strong>. A Revolução Fe<strong>de</strong>ralista garantiua continuação e centralização <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, pois em 1898 Castilhos passou o po<strong>de</strong>r a Borges <strong>de</strong>Me<strong>de</strong>iros: “[...] Borges <strong>de</strong>u seguimento à obra <strong>de</strong> Castilhos, consolidan<strong>do</strong> no Esta<strong>do</strong> o regimerepublicano autoritário e centraliza<strong>do</strong>” (PESAVENTO, 2002, p. 79). Esse regime autoritário<strong>de</strong> Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros comprova-se em Estrada nova na voz <strong>do</strong> Coronel Teo<strong>do</strong>ro, aorecordar as “boas lembranças” <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, tempos on<strong>de</strong> os fazen<strong>de</strong>iros não eram tãosacrifica<strong>do</strong>s: “No tempo <strong>do</strong> Dr. Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, no Esta<strong>do</strong>, e <strong>do</strong> coronel Januário noMunicípio, as eleições se faziam por assim dizer a grito “no mais”. Ninguém vinha amolar apaciência <strong>do</strong>s outros com ‘problemas nacionais’” (1992, p. 44).
602.2.5 O governo Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros e a Primeira Guerra MundialA filosofia <strong>do</strong> PRR <strong>de</strong> “viver as claras” revoltou certa parcela da população. Com aimposição por parte <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> voto a <strong>de</strong>scoberto, estava garanti<strong>do</strong> ao parti<strong>do</strong> apermanência no po<strong>de</strong>r estadual. Algumas pessoas se rebelaram contra essa imposição, autilização <strong>do</strong> termo “algumas”, dá-se ao fato <strong>de</strong> que muitos aceitaram as medidas autoritárias<strong>do</strong> governo, pois, na política positivista, essa atitu<strong>de</strong> não era algo fora da realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> povogaúcho que, ao longo <strong>de</strong> seu perío<strong>do</strong> formativo, viveu sob violências e arbitrarieda<strong>de</strong>s. Dessamaneira, a cada eleição ganha, mesmo que trocasse o governante, a i<strong>de</strong>ologia partidáriapermanecia a mesma, o que permitia que houvessem mais eleições com a vitória garantida.Em Estrada nova, Teo<strong>do</strong>ro recorda o passa<strong>do</strong> e comenta o governo <strong>de</strong> Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros:O borgismo mandava e <strong>de</strong>smandava no Esta<strong>do</strong>, discricionariamente, monta<strong>do</strong> numalei eleitoral que facilitava a votação em massa <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>funtos <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong>,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que fosse <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> governo, o que acontecia sempre. Os <strong>de</strong>funtos eramgovernistas. Talvez viesse daí a frase que vezes sem conta lera e ouvira no tempo <strong>do</strong>borgismo: “Os vivos são sempre e cada vez mais governa<strong>do</strong>s pelos mortos”. (1992,p. 63)Se, em Estrada nova o Coronel Teo<strong>do</strong>ro recorda esse passa<strong>do</strong>, em Sem rumo ManoelGarcia recebe, nos dias em que vive, uma proposta <strong>de</strong> trabalhar como professor <strong>do</strong> distrito.Em troca <strong>de</strong>ssa ajuda o Coronel Dutra não lhe exige nada <strong>de</strong>mais, apenas seu voto para o PRRe seu candidato Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros:- Pois então ficamos acerta<strong>do</strong>s. Você será nomea<strong>do</strong> professor rural, <strong>de</strong>ixará estavidinha miserável, própria <strong>de</strong> indivíduos incapazes, porque rabiça <strong>de</strong> ara<strong>do</strong> não foifeita para mãos <strong>de</strong> têmpera <strong>de</strong> um Manuel Garcia. E em troca <strong>de</strong>ssa mudança <strong>de</strong>vida, uma verda<strong>de</strong>ira loteria, o que lhe exigimos? Veja o nosso <strong>de</strong>sprendimento –nada! Apenas o seu voto e a sua cabala nas re<strong>do</strong>n<strong>de</strong>zas para o dr. Borges <strong>de</strong>Me<strong>de</strong>iros, o maior rio-gran<strong>de</strong>nse vivo! (1997, p. 67-68)Com o direito à reeleição proibi<strong>do</strong>, o PRF contava que havia encontra<strong>do</strong> uma maneira<strong>de</strong> voltar a ter certos po<strong>de</strong>res políticos, esquecen<strong>do</strong>-se que a filosofia <strong>do</strong> PRR continuaria vivamesmo com novos governa<strong>do</strong>res no po<strong>de</strong>r. Dessa maneira, os anos que se seguiram foramótimos para o Parti<strong>do</strong> Republicano Rio-Gran<strong>de</strong>nse, que recebia to<strong>do</strong> apoio <strong>do</strong> governo centralaté mesmo para a implantação da viação férrea nas terras gaúchas.
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