117Imagina só o <strong>de</strong>sastre que ia se dan<strong>do</strong>!... – exclamou Teo<strong>do</strong>ro, refletidamente,paran<strong>do</strong>-se em frente à mulher duma maneira pensativa o queixo <strong>de</strong>scansa<strong>do</strong> na mãoesquerda fechada em punho, enquanto a direita segurava com firmeza o cotovelo<strong>do</strong>bra<strong>do</strong> em ângulo agu<strong>do</strong>. Essa era uma postura que ele assumia às vezes, emocasiões <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> preocupação. Por isso, <strong>do</strong>na Almerinda largou o crochê no coloe, toda frouxa, ergueu os olhinhos apaga<strong>do</strong>s, pisca-piscas, numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>expectativa <strong>de</strong>sagradável, esperan<strong>do</strong> o pior. (1992, p 48)Sabemos <strong>do</strong> me<strong>do</strong> que sente a personagem feminina nesse acontecimento pelo fato <strong>de</strong>ela piscar rapidamente, tomar uma atitu<strong>de</strong> receosa, olhar com olhos submissos, apaga<strong>do</strong>s,afrouxar sua postura <strong>de</strong> fazer crochê e esperar uma reação agressiva <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>.Acontecimentos como esses ocorrem na maioria <strong>do</strong> enre<strong>do</strong> das três narrativas em estu<strong>do</strong>.Dessa maneira o narra<strong>do</strong>r poucas vezes permite ao leitor saber exatamente o que sepassa no íntimo <strong>de</strong>ssas mulheres, elas não falam e pouco sabemos o que se passa em seuspensamentos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que para enten<strong>de</strong>rmos o universo ficcional on<strong>de</strong> elas estão inseridasfaz-se necessário uma leitura e análise <strong>de</strong> seus gestos na presença <strong>do</strong> companheiro: suspiros,passos leves e ligeiros, postura corporal submissa, olhar para baixo, cabeça abaixada, oraçõescom pedi<strong>do</strong>s incessantes, frases como a <strong>de</strong> Siá Catarina quan<strong>do</strong> presencia a cena em queClarimun<strong>do</strong> bate em Chiru e não se atreve a auxiliar o menino, limitan<strong>do</strong>-se a perguntar se amulher <strong>do</strong> capataz já pôs a água aquecer para o mate, comentan<strong>do</strong> “Tu sabes como é esse teumari<strong>do</strong>.” (1997, p. 80) preocupada para que não acontecesse coisa pior caso ele se aborrecessemais. Ou atitu<strong>de</strong>s como a <strong>de</strong> Evarista que não se atreve a olhar nos olhos <strong>do</strong> companheiro esurpreen<strong>de</strong>-se fitan<strong>do</strong> o cabo da adaga que ele carrega na cintura, amedrontada, temen<strong>do</strong> queele possa matá-la.Cyro Martins preocupou-se em expressar ao leitor o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> opressão e silêncio emque viviam os pobres da campanha. Dessa maneira em Sem rumo, Porteira fechada e Estradanova percebemos que as mulheres, indiferentes da classe social e posição que ocupam nãotêm uma voz ativa, mas os peões das estâncias também não opinam. Eles conversam eexpressam o que sentem em diálogos com os companheiros <strong>de</strong> trabalho, isso raramenteaparece no enre<strong>do</strong> das obras porque o narra<strong>do</strong>r prefere dar voz aos gran<strong>de</strong>s proprietários efazen<strong>de</strong>iros, por isso o jovem Ricar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Estrada nova causa tanto impacto quan<strong>do</strong> enfrenta oCoronel Teo<strong>do</strong>ro. Ele é um rapaz <strong>de</strong> origem pobre, mas que possui um conhecimento <strong>de</strong>mun<strong>do</strong> maior que as <strong>de</strong>mais personagens da obra, por isso o Coronel Teo<strong>do</strong>ro se ofen<strong>de</strong> comas opiniões <strong>do</strong> rapaz. Essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ricar<strong>do</strong> assusta não só o Coronel, mas também osleitores da obra, já que é um personagem pobre que se sobressai frente a um rico.
118Após essas consi<strong>de</strong>rações po<strong>de</strong>mos observar que nas narrativas literárias em estu<strong>do</strong> háhistórias <strong>de</strong> silêncio e opressão. A opressão <strong>do</strong>s ricos para com os pobres. Dessa maneira aobra <strong>de</strong> Cyro Martins aborda um problema social enfrenta<strong>do</strong> até os dias atuais. De certamaneira, o narra<strong>do</strong>r <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> la<strong>do</strong> as opiniões e a voz daqueles que realmente não são ouvi<strong>do</strong>sna socieda<strong>de</strong> patriarcal e rígida <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX. Com issopercebemos a gran<strong>de</strong> tirania em que viviam os homens pobres da campanha gaúcha retrata<strong>do</strong>sna obra, mas num mun<strong>do</strong> mais sufocante <strong>do</strong> que o <strong>de</strong>sses homens, estavam as mulheres,duplamente oprimidas e silenciadas.
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