Manual de Audiência e Prática Trabalhista - Gustavo Cisneiros - 2017
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
do reclamante (aluno) disse: “Excelência, data venia, como fica a revelia?”. O magistrado explicou que não po<strong>de</strong>ria consi<strong>de</strong>rar<br />
o reclamado revel, pois o sistema tinha “caído”, e, com isso, seria impossível realizar a audiência. Meu aluno (advogado do<br />
reclamante) silenciou. Sua mu<strong>de</strong>z, naquela oportunida<strong>de</strong>, serviu como chancela à aberração! Seu silêncio exalou anuência ao<br />
absurdo!<br />
Eis um típico caso do que costumo chamar <strong>de</strong> “ditadura do sistema”, fato que revela, sem qualquer pudor, as distorções<br />
que estão se tornando comum no serviço público. O computador e os programas usados pelo Judiciário são instrumentos<br />
facilitadores, acessórios, secundários. Não po<strong>de</strong>m assumir as ré<strong>de</strong>as da condução do processo. Cabe ao juiz essa missão.<br />
O PJE, data maxima venia, não tem o condão <strong>de</strong> tornar inócua a previsão contida no art. 771 da CLT, verbis:<br />
Os atos e termos processuais po<strong>de</strong>rão ser escritos a tinta, datilografados ou a carimbo.<br />
O magistrado presenciou a contumácia (ausência do reclamado à audiência), vislumbrando, nos autos, a realização da<br />
citação. Deveria ter constatado a revelia, e, se fosse o caso, encerrado a instrução, marcando data para a prolação da sentença.<br />
Po<strong>de</strong>ria, para tanto, usar uma folha <strong>de</strong> papel e uma caneta! Po<strong>de</strong>ria usar, caso o computador estivesse funcionando, o Word! O<br />
que não po<strong>de</strong>ria ter feito, mas infelizmente fez, era se ren<strong>de</strong>r ao “sistema”, como se o fato (ausência do reclamado à audiência)<br />
simplesmente não tivesse ocorrido. Mas o advogado (aluno) não insistiu. Foi conivente! Não exigiu uma certidão do ocorrido.<br />
Nada fez. Ele também não ousou <strong>de</strong>safiar o “sistema”, ren<strong>de</strong>ndo-se à irreflexão.<br />
6.3.1. Revelia da Pessoa Jurídica <strong>de</strong> Direito Público<br />
Comum encontrar doutrinadores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a inaplicabilida<strong>de</strong> da revelia e da confissão ficta às pessoas jurídicas <strong>de</strong><br />
direito público, sob o argumento <strong>de</strong> que a matéria discutida envolve direito indisponível. No mundo abstrato do “<strong>de</strong>ver ser”,<br />
essa posição po<strong>de</strong> até parecer coerente. Mas como fica a situação no mundo real?<br />
Lá está o juiz do trabalho, <strong>de</strong>pois do terceiro ou quarto pregão, aguardando, pacientemente, a chegada do procurador<br />
público, quer municipal, quer estadual, quer fe<strong>de</strong>ral, e nada. O que fará o juiz?<br />
Adiará a audiência sob o argumento <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> constatar a revelia do órgão público? E se, na audiência seguinte, o<br />
procurador novamente não comparecer? O juiz voltará a adiar a sessão?<br />
Ficará o Po<strong>de</strong>r Judiciário à disposição da boa vonta<strong>de</strong> da pessoa <strong>de</strong> direito público?<br />
Tornar-se-á o magistrado refém do advogado público?<br />
Para o TST, o juiz <strong>de</strong>ve sim constatar a revelia, como consta da OJ 152 da SDI-1:<br />
REVELIA. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. APLICÁVEL. (ART. 844 DA CLT). Pessoa jurídica<br />
<strong>de</strong> direito público sujeita-se à revelia prevista no artigo 844 da CLT.<br />
Eis algumas <strong>de</strong>cisões, também do TST, sobre o tema:<br />
AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. CONFISSÃO FICTA. APLICAÇÃO A ENTE PÚBLICO. Esta Corte tem o<br />
entendimento, consubstanciado na Orientação Jurispru<strong>de</strong>ncial nº 152 da SBI-1, <strong>de</strong> que a revelia é aplicável à pessoa<br />
jurídica <strong>de</strong> direito público. 2. (omissis). 3. (omissis). (TST, AIRR: 449-57.2010.5.15.0068, Rel. Valdir Florindo, 2 ª<br />
Turma, DEJT 30/08/2013).<br />
REVELIA. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. APLICÁVEL. A iterativa, notória e atual jurisprudência<br />
<strong>de</strong>sta Corte é no sentido <strong>de</strong> que a revelia é aplicável às pessoas jurídicas <strong>de</strong> direito público. Incidência do Enunciado<br />
nº 333/TST. Recurso <strong>de</strong> Revista não conhecido. (TST, RR: 500128-73.1998.5.20.5555, Relator: Carlos Alberto Reis<br />
<strong>de</strong> Paula, 3 ª Turma, DJ 29/06/2001).<br />
E on<strong>de</strong> fica a indisponibilida<strong>de</strong> do direito das pessoas jurídicas <strong>de</strong> direito público?<br />
Importante lembrar, ab initio, que a revelia gera a confissão quanto à matéria <strong>de</strong> fato, não atingindo a matéria <strong>de</strong> direito.<br />
Em segundo plano, sempre é bom <strong>de</strong>stacar a previsão contida na parte final do art. 37, § 6º, da CF, concernente ao direito <strong>de</strong><br />
regresso das pessoas jurídicas <strong>de</strong> direito público contra o responsável pelo dano, nos casos <strong>de</strong> dolo ou culpa. Uma vez<br />
constatada a revelia e a confissão ficta em face <strong>de</strong> uma pessoa jurídica <strong>de</strong> direito público, caber-lhe-á a responsabilida<strong>de</strong><br />
objetiva do fato, sem prejuízo, porém, da responsabilida<strong>de</strong> subjetiva do procurador a quem cabia comparecer à audiência.<br />
6.4.<br />
Súmula 122 do TST – Análise Crítica