Antes da segunda encomenda para matar, desta vez um jovem suspeito de furtar, Máiquelnega-se dizendo: ”Muito obrigado, mas eu não vou atar ninguém” (Melo 1995: 65),quando encontra a vítima pela primeira vez fica escandalizado:“Eles queriam que eu matasse aquele menino? Pernas finas, cara de quem passou fome a vida inteira, dozeanos, no máximo, eles queriam que eu matasse um menino de doze anos? Nem fodendo, eu me enganei,disse para o garoto. Virei as costas e fui andando, matar um garoto de doze anos, o que eles pensam?”(Melo 1995: 85).Logo depois define seus limites éticos:“O dr. Carvalho que me desculpasse, homem eu matava, velho eu matava, matava preto, madame, japonês,matava qualquer um, mas criança eu não matava. Nem mulher grávida” (Melo 1995: 85).O que leva Máiquel então a matar, a transgredir seus próprios limites éticos? Aquipodemos, sim, observar uma evolução: No caso da primeira vítima, Suel, torna-se claroque é sua estratégia de preservação de face 8 que é responsável para desencadear a espiralda violência e ultrapassar todos os medos, escrúpulos, rejeitando as pontes douradas queos outros às vezes lhe <strong>of</strong>erecem.Suel ridiculariza Máiquel na presença da sua nova namorada como palhaço e gringo,rebaixando de novo a auto-estima ganhada pela cor mais clara do cabelo. Assim, odesafio do duelo é uma estratégia extrema de mostrar-se valente, mostrar-se homem. Damesma maneira, ele responde o pedido da sua nova namorada de renunciar ao duelo demaneira muito agressiva e vulgar com: “Nem fodendo”, embora do próprio medo e dasdúvidas, por não querer ou não conseguir mostrar-se fraco diante dela. A coragem paramatar Suel, finalmente vem do sentimento de poder – criado pelo fato do Suel desejardesistir do duelo e pelo sentimento de valorização por causa da atenção dispensada pelopúblico do bar (Melo 1995: 16).8 Estreitamente ligado à problemática da preservação da face é o conceito de masculinidade vigente queMáiquel adquiriu pela educação (cf. Melo 1995: 18), e que se manifesta também na sua violência nasrelações amorosas. Estas questões bem como a análise dos caracteres femininos mereceriam uma análise aparte (cf. Mossa 1999, Zolin 2006) que não poderemos apresentar aqui.6
No caso da segunda vítima, o que parece incomodá-lo é o fato de ter de matar mais umaoutra pessoa, assim Máiquel evoca a possibilidade de contratar alguém para executar aencomenda (Melo 1995: 34), mas continua com as investigações sobre Ezequiel,afirmando aos seus amigos que vai matar a pessoa (= Ezequiel) procurada por meio deuma foto, embora não tenha ainda certeza de querer fazê-lo: “Falei por que não tinhanada para falar” (Melo 1995: 36). Anúncios deste tipo contribuem porém a construção dasua imagem como um justiceiro temível e geram fatos. Somente pode voltar atrásperdendo sua face.Quanto à terceira vítima, Máiquel apenas começa a procurar o menino depois de ter-sesentido humilhado pela sua esposa diante de colegas de trabalho dela com afirmaçõescomo que o salário dele seria uma porcaria, mas ajudava, o fato dela ter jogado fora seussapatos velhos e furados pelos quais, aliás já tinha sentido vergonha em outras ocasiões(cf. Melo 1995: 82), procurando então uma saída desta vida que lhe causa humilhações.Inicialmente, Máiquel evoca não raras vezes formas alternativas de viver semviolência, sair do caminho traçado como matador, levar uma vida considerada pelasociedade como honesta, humilde, honrada, normal. Só três exemplos:“Jogaria a arma no rio Tietê. Faria as pazes com Cledir, arranjaria um emprego e me casaria com ela. Teriafilhos, uma vida normal. E nunca cheiraria pó também” (Melo 1995: 37).“Muito obrigado, mas eu não vou matar ninguém.Estava me sentindo bem, foi bom vomitar. Fui embora para a casa a pé, pensando: eu ia me casar comCledir, ia arranjar um emprego, ia cuidar de Érica, Érica ia estudar para ser pr<strong>of</strong>essora, ou médica, se elaquisesse. Tudo ia dar certo. A minha vida ia ser boa e eu não precisaria sair por aí matando pessoas” (Melo1995: 65).“Cledir estava linda [...] fechei os olhos, fiz o meu pedido, ser um homem normal, um homem que trabalhae ama sua esposa e seus filhos, foi isso que eu desejei” (Melo 1995: 66).As alternativas reais, no entanto, não parecem ter um grau de atratividade suficiente parafazer com que Máiquel consiga decidir a não continuar no caminho em direção de tornarseum matador pr<strong>of</strong>issional. Assim, quando depois de ser humilhado por uma cliente,decide não trabalhar mais na loja de carros usados vislumbra as outras alternativas:7
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