“Procura-se faxineiro. Precisa-se porteiro. Contador com experiência. Escritório de contabilidade precisa defuncionário para trabalhar. Deus me livre. Você é jovem é quer ganhar dinheiro? Sou. Quer ter seu próprionegócio? Sabão. Sei como é que é isso, eles te recrutam para vender sabão. Você vai lá, fica dois diasfazendo curso, eles te catequizam, fazem você comprar uma tonelada de sabão e abrir o seu negócio. Vocêse anima e quando acorda para a realidade está sem emprego e com uma tonelada de sabão em casa” (Melo1995: 26-27).Máiquel está sem ilusões sobre seu lugar na sociedade:“Vender pipoca direitinho, eu pensei. Ou vender ração para animais. Ou vender carros usados. Ou cuidar daportaria de um prédio. Ou levantar paredes. Os trabalhos seriam estes, eu teria que fazer algum. Sim ounão” (Melo 1995: 64).Nas ponderações sobre aceitar ou não o pedido de matar Ezequiel evoca também umaoutra alternativa, mas diante das mesmas, a de ganhar dinheiro matando parece maisfácil: “Posso vender sapatos, descascar batatas, qualquer coisa. Foda-se. Posso matartambém. É fácil matar, você pega o revólver, aperta o gatilho e pronto” (Melo 1995: 34-35). Mais tarde chega à conclusão que matar é uma faculdade humana inata:“Até matar o primeiro cara a gente pensa que existe essa história de aprender a matar. Aprender a matar écomo aprender a morrer, um dia você morre e pronto. Ninguém aprende a matar. Isso é conversa furada detira. Todo mundo nasce sabendo. Se você tem uma arma na mão já sabe tudo” (Melo 1995: 93).Enquanto os trabalhos previstos para a classe social a qual Máiquel pertence, permitempor causa da baixa remuneração, apenas uma vida modesta e restrita e, além disso,expõem-no ao desprezo dos clientes, a matança de pessoas consideradas delinqüentes nãosó traz benefícios econômicos concedidos pelos mandantes, mas também admiração erespeito pelos moradores do bairro, e abrem o acesso a círculos da sociedade dantesinacessíveis.O romance articula, então, a inter-relação entre violência estrutural (lugar previstona sociedade sem perspectiva de mobilidade social, falta de respeito, falta de prevençãono sistema público de saúde, permitindo que uma dor de dente leve uma pessoa sem8
meios para um tratamento odontológico a aceitar matar uma pessoa em troca detratamento) e a violência exercida por pessoas como Máiquel. Este transforma-se de umapessoa que não sabia manejar armas, em uma que sabe, mas não gosta 9 (Melo 1995: 47) aalguém que ganha auto-estima no porte de armas e na sua nova “pr<strong>of</strong>issão”:“Eu estava mudando, armas mudam tudo. Antigamente, quando saía por aí, só olhava para os meus pés.Não via a rua, as pessoas, o sol, as bancas de jornais, os anúncios, eu só vi meus sapatos fodidos, via merdade cachorro, via pontas de cigarro, papel, tampa de refrigerante, lixo. Aprendi a andar depois que eu passeia usar armas. Esmagar calçadas. Aprendi a olhar para frente, para dentro das pessoas, os neurônios, <strong>of</strong>ígado delas. Eu mudei. Eu não era mais aquele homem do início, eu era um matador” (Melo 1995: 94).Matar pessoas passa a ser enfrentado com naturalidade:“você estará tentando olhar para aquilo com naturalidade, matar pessoas, muito bem, a gente mata, guerra,a gente luta, isso é bom, isso é ruim, pouco importa, eu não queria saber de nada, queria apenas fazer bemfeito,era isso que eu queria” (Melo 1995: 94).e passa a ser considerado um trabalho:“Decidi concentrar todas as minhas forças no meu trabalho. Nome: Pedro televisão. Vinte anos, pardo.Pedro é um homem cruel, disse o dr. Carvalho. Seja cruel. Serei” (Melo 1995: 110).Apesar desta última citação, em comparação com o cobrador de Fonseca (1979), Máiquelnão aplica brutalidade gratuita quando mata as pessoas. Assim, preserva a vítima Conando jogo sádico de ter que comer fezes antes de ser executado, mas mata-o friamente comtrês tiros imediatamente depois de ter recebido os agradecimentos da vítima por ter sidopreservada do jogo sádico. A brutalidade contra Ezequiel, acontece não de maneiraplanejada e premeditada, mas por causa da incompetência de matá-lo a tiros. A reaçãopositiva da população à crueldade com a qual Ezequiel foi morto: “As pessoas gostaramda parte em que eu martelei a cabeça e furei os olhos de Ezequiel. As mães adoraram e euachei normal que adorassem” (Melo 1995: 55), nos leva ainda a um outro aspecto da9 “No ônibus, Érica perguntou o que eu senti quando segurei a arma. Não senti nada, eu disse. Menti, eutinha sentido uma aflição, um arrepio, eu não gostava de armas” (Melo 1995: 47).9
- Page 2 and 3:
AbstractThis article explores some
- Page 4 and 5:
displaced people in relation to the
- Page 6:
Colombian case as a particular cond
- Page 9 and 10:
displacement instead of rejecting d
- Page 11 and 12:
5. Inter American Court contributio
- Page 13 and 14:
Moreover, the displaced are subject
- Page 15 and 16:
fabric on which lies the basis of t
- Page 17 and 18: assistance; the right to exercise b
- Page 19 and 20: ordinating and improving assistance
- Page 21 and 22: and brutalisation of the armed conf
- Page 23 and 24: subjects a free legal consultation
- Page 25 and 26: 8. Conclusions: how can the protect
- Page 27 and 28: ReferencesACNUR, Balance de la pol
- Page 29 and 30: FAMIG (Fundación de atención al m
- Page 31 and 32: Una comunidad de Pazfrente al Estad
- Page 33 and 34: salud y la educación. La pérdida
- Page 35 and 36: gobierno es: “ser propositivo y d
- Page 37 and 38: esidente y a los refugiados que van
- Page 39 and 40: paramilitares, las comunidades camp
- Page 41 and 42: asesinado. 28 Esta afirmación fue
- Page 43 and 44: Los habitantes desplazados solicita
- Page 45 and 46: La segunda detención de Elkin Dari
- Page 47 and 48: Comunidad decidió declarar en la C
- Page 49 and 50: Comunidad de San José de Apartadó
- Page 51 and 52: Brigada XVII del Ejército. 62 Al d
- Page 53 and 54: la impunidad en que se mantienen, y
- Page 55 and 56: como la mafia o el narcotráfico, s
- Page 57 and 58: Ratifican su existencia como una Co
- Page 59 and 60: La autonomía de las comunidades ch
- Page 61 and 62: A violência no romance O matador d
- Page 63 and 64: “The characters are emptied of co
- Page 65 and 66: pelos leitores, confrontando o leit
- Page 67: No caso da segunda vítima, o que p
- Page 71 and 72: acompanhado seu trabalho” (Melo 1
- Page 73 and 74: LINS, Paulo (1997): Cidade de Deus:
- Page 75 and 76: transformação social. O Direito d
- Page 77 and 78: Constituição deveria ser a expres
- Page 79 and 80: O problema central desta discussão
- Page 81 and 82: Transitórias. A revisão é mais a
- Page 83 and 84: ultrapassada, que reduz o Direito
- Page 85 and 86: construção do discurso do estado
- Page 87 and 88: socialismo; o povo de El Salvador e
- Page 89 and 90: inquisição. Ser espanhol era ser
- Page 91 and 92: existência de um suposto “pacto
- Page 93 and 94: da família.Outro aspecto important
- Page 95 and 96: AbstractIn the past two decades, gl
- Page 97 and 98: 1. Introduction„Globalization Soc
- Page 99 and 100: a. THE IMPORTANCE IN BEING PART OF
- Page 101 and 102: 1990). However certain authors argu
- Page 103 and 104: author Jô Soares, that aims to upp
- Page 105 and 106: at home (…) and playing popular s
- Page 107 and 108: cannot afford, but is also a questi
- Page 109 and 110: Proportion of individuals that have
- Page 111 and 112: the distinction between the deterri
- Page 113 and 114: Routledge.Online References-2004 Un
- Page 115 and 116: IntroducciónEl presente trabajo se
- Page 117 and 118: datos históricos acerca del valor
- Page 119 and 120:
producciones de La Gaceta, así com
- Page 121 and 122:
En lo que refiere a los discursos p
- Page 123 and 124:
marchar por algo, y si esta identid
- Page 125 and 126:
de representaciones del pasado con
- Page 127 and 128:
ApéndiceNota de La Gaceta, secció
- Page 129 and 130:
Atte.-„Que se vayan los que no si
- Page 131 and 132:
Ciudades blancas. Crónicas rojasLa
- Page 133 and 134:
econocimiento de su condición de c
- Page 135 and 136:
itmo de cumbia en esa zona que de l
- Page 137 and 138:
Los pibes chorros todavía mantiene
- Page 139 and 140:
El texto entra dentro de la línea
- Page 141 and 142:
El 11 de febrero de 1999, Magdalena
- Page 143 and 144:
Speranza, Graciela, “Cómo vivir
- Page 145 and 146:
Sin la complejidad teórica de Ratz
- Page 147 and 148:
pone el énfasis en la organizació
- Page 149 and 150:
el siglo XX, no logra conformar un
- Page 151 and 152:
primera) biografía sobre Raúl Pre
- Page 153 and 154:
Una rápida consulta a los periódi
- Page 155 and 156:
valiosos de la vida colectiva. Se t
- Page 157 and 158:
identificado como un caso de narrad
- Page 159 and 160:
La joven se refiere al arma que la
- Page 161 and 162:
Todas las veces en las que pudo mor
- Page 163 and 164:
atravesando una quinta a oscuras, c
- Page 165 and 166:
Notas:1 El proyecto consta de dos p
- Page 167 and 168:
Consumption society challenged: Bra
- Page 169 and 170:
due to unequal land distribution we
- Page 171 and 172:
Hence, the neo-liberal free trade a
- Page 173 and 174:
een to stand up to neo-liberalism a
- Page 175 and 176:
structural adjustment programs and
- Page 177 and 178:
a participant in the larger counter
- Page 179 and 180:
Löwy, Michael 2001. “The socio-r
- Page 181:
World Bank 2002. “What is empower