análise do fenômeno da violência analisada pelo romance. A violência contra supostoscriminosos é largamente aceita pela sociedade, o monopólio estatal da violência, noentanto, não, ou pelo menos não na sua limitação pelos direitos humanos.Isso é a base social que permite com que pessoas como o dentista dr. Carvalho ou odelegado Santana organizem o assassinato de pessoas por eles não consideradas dignas decontinuar vivendo.3. A visão de mundo dos mandantes dos assassinatosPara dr. Carvalho “há crimes que só a pena de morte pode resolver” (Melo 1995: 30), osdireitos humanos são uma invenção inaceitável. Ele considera delinqüentes como nãohumanos:“Essa história de direitos humanos é uma piada. Eles não são humanos, osestupradores, os seqüestradores, eles não são humanos” (Melo 1995: 30). Isso não oimpede de se declarar religioso e procurar uma justificativa no Novo Testamento edesenvolve como legitimação dos assassinatos de supostos delinqüentes até uma própriainterpretação da Summa Theologica de São Thomas de Aquino 10 :“O próprio são Tomás de Aquino diz isso, matarás, se necessário, matarás em nome da lei, diz Tomás deAquino, quer dizer não é bem isso que ele diz, mas é mais ou menos isso, estou adaptando, entendeu? Oque ele quer dizer é quem mata em nome da justiça não é um criminoso porque isso Não é crime, deu paraentender?” (Melo 1995: 31).Além disso, ele se confessa abertamente racista: “Aquele preto filho da puta mereciamorrer. Eu odeio preto, sou racista mesmo, esses pretos estão acabando com a vida dagente” (Melo 1995: 32). O discurso do seu amigo Sílvio Dantas não é muito diferente,mas inclui ainda os pobres na classe dos inimigos: “Pobres e pretos. Pragas” (Melo 1995:63). Sua inclinação sanguinária revela-se, porém, seguindo a análise de Barthes ([1957]1985: 77-79), na sua predileção para carne, de preferência sangrando (Melo 1995: 123).O ato concreto de matar, porém normalmente é verbalizado por eufemismosvalorizadores como p. ex. trabalho (cf. também Mossa 2002: 217). “Eu tenho10 As passagens relevantes são disponíveis em: http://www.corpusthomisticum.org/sth3061.html (acesso em07/05/<strong>2009</strong>).10
acompanhado seu trabalho” (Melo 1995: 123), “O Carvalho falou do seu trabalho” (Melo1995: 64). Mas também com dêiticos e pronomes que evitam nomear o ato: “Gostei doque você fez com o Suel” (Melo 1995: 32), “O dr. Carvalho me deu dinheiro, comprelogo o que tiver que comprar, acabe com isso o mais rápido possível” (Melo 1995: 44).Chega-se até a subsumir os assassinatos como filantropia e a analisar a situação commetáforas econômicas como mercado: “ninguém quer sujar às mãos, ele disse, há umbom mercado, ele disse, um mercado muito bom mesmo, pode-se ganhar muito com isso”(Melo 1995: 123). Os autores dos crimes contra os supostos pequenos delinqüentes sãoportanto guiados por um alto grau de racionalidade (cf. também Melo 2007, Koçak 2006)determinada pela lógica do sistema econômico vigente. Do outro lado, estes mandantesdos assassinatos mostram todas as características do homem cordial, valorizando a pessoa(no caso o Máiquel) com a qual pretendem fazer seus negócios mortais.4. ConclusãoEm O Matador Patrícia Melo não apresenta nenhuma solução para o problema daviolência, nem um diagnóstico completo do fenômeno. Mas <strong>of</strong>erece uma análise quemostra até nos pequenos detalhes a cultura da violência já descrita por Ventura (2001)(que Melo (2007), aliás, cita como uma das fontes de inspiração) dizendo “A cultura daviolência é um padrão de relacionamento entre pessoas [...] desde a agressividade emsituações corriqueiras [ 11 ...] às grades cercando prédios e praças 12 ” (Ventura 2001: 346).Descreve o racismo aberto como no caso do dr. Carvalho e seu amigo, bem como oracismo camuflado cujos julgamentos de valor fazem parte do estoque social dosconhecimentos, começando com a elevação da auto-estima de Máiquel pintando seucabelo de loiro (sendo este julgado mais bonito do que cabelo preto) até o lugar previstona sociedade para os de pele negra 13 . O romance confronta a sociedade brasileira com os11 Cf. p.ex. “Começamos a dançar, uma mulher ficou nos olhando, Érica se irritou, o que é, quer levarporrada?” (Melo 1995: 55).12 Cf. p.ex. “Um inferno, disse o dr. Carvalho. Dê uma volta por aí. Sabe o que vai encontrar? Vai encontrargrades. Muros. Arame farpado. Cacos de vidro, é isso que você vai encontrar por aí. Vai encontrar alarmes.Portas blindadas. Aço. […] É verdade, eu pensei, grades, muros, cacos de vidro, tenho tudo isso dentro demim” (Melo 1995: 42).13 Cf. p. ex. “[…] alguém quer me foder. E quem quer te foder? Sei lá, disse o Marcão, agora eu sou bacana[…] um preto com dinheiro num carro bacana, um preto entrando num restaurante, um preto numa boa11
- Page 2 and 3:
AbstractThis article explores some
- Page 4 and 5:
displaced people in relation to the
- Page 6:
Colombian case as a particular cond
- Page 9 and 10:
displacement instead of rejecting d
- Page 11 and 12:
5. Inter American Court contributio
- Page 13 and 14:
Moreover, the displaced are subject
- Page 15 and 16:
fabric on which lies the basis of t
- Page 17 and 18:
assistance; the right to exercise b
- Page 19 and 20: ordinating and improving assistance
- Page 21 and 22: and brutalisation of the armed conf
- Page 23 and 24: subjects a free legal consultation
- Page 25 and 26: 8. Conclusions: how can the protect
- Page 27 and 28: ReferencesACNUR, Balance de la pol
- Page 29 and 30: FAMIG (Fundación de atención al m
- Page 31 and 32: Una comunidad de Pazfrente al Estad
- Page 33 and 34: salud y la educación. La pérdida
- Page 35 and 36: gobierno es: “ser propositivo y d
- Page 37 and 38: esidente y a los refugiados que van
- Page 39 and 40: paramilitares, las comunidades camp
- Page 41 and 42: asesinado. 28 Esta afirmación fue
- Page 43 and 44: Los habitantes desplazados solicita
- Page 45 and 46: La segunda detención de Elkin Dari
- Page 47 and 48: Comunidad decidió declarar en la C
- Page 49 and 50: Comunidad de San José de Apartadó
- Page 51 and 52: Brigada XVII del Ejército. 62 Al d
- Page 53 and 54: la impunidad en que se mantienen, y
- Page 55 and 56: como la mafia o el narcotráfico, s
- Page 57 and 58: Ratifican su existencia como una Co
- Page 59 and 60: La autonomía de las comunidades ch
- Page 61 and 62: A violência no romance O matador d
- Page 63 and 64: “The characters are emptied of co
- Page 65 and 66: pelos leitores, confrontando o leit
- Page 67 and 68: No caso da segunda vítima, o que p
- Page 69: meios para um tratamento odontológ
- Page 73 and 74: LINS, Paulo (1997): Cidade de Deus:
- Page 75 and 76: transformação social. O Direito d
- Page 77 and 78: Constituição deveria ser a expres
- Page 79 and 80: O problema central desta discussão
- Page 81 and 82: Transitórias. A revisão é mais a
- Page 83 and 84: ultrapassada, que reduz o Direito
- Page 85 and 86: construção do discurso do estado
- Page 87 and 88: socialismo; o povo de El Salvador e
- Page 89 and 90: inquisição. Ser espanhol era ser
- Page 91 and 92: existência de um suposto “pacto
- Page 93 and 94: da família.Outro aspecto important
- Page 95 and 96: AbstractIn the past two decades, gl
- Page 97 and 98: 1. Introduction„Globalization Soc
- Page 99 and 100: a. THE IMPORTANCE IN BEING PART OF
- Page 101 and 102: 1990). However certain authors argu
- Page 103 and 104: author Jô Soares, that aims to upp
- Page 105 and 106: at home (…) and playing popular s
- Page 107 and 108: cannot afford, but is also a questi
- Page 109 and 110: Proportion of individuals that have
- Page 111 and 112: the distinction between the deterri
- Page 113 and 114: Routledge.Online References-2004 Un
- Page 115 and 116: IntroducciónEl presente trabajo se
- Page 117 and 118: datos históricos acerca del valor
- Page 119 and 120: producciones de La Gaceta, así com
- Page 121 and 122:
En lo que refiere a los discursos p
- Page 123 and 124:
marchar por algo, y si esta identid
- Page 125 and 126:
de representaciones del pasado con
- Page 127 and 128:
ApéndiceNota de La Gaceta, secció
- Page 129 and 130:
Atte.-„Que se vayan los que no si
- Page 131 and 132:
Ciudades blancas. Crónicas rojasLa
- Page 133 and 134:
econocimiento de su condición de c
- Page 135 and 136:
itmo de cumbia en esa zona que de l
- Page 137 and 138:
Los pibes chorros todavía mantiene
- Page 139 and 140:
El texto entra dentro de la línea
- Page 141 and 142:
El 11 de febrero de 1999, Magdalena
- Page 143 and 144:
Speranza, Graciela, “Cómo vivir
- Page 145 and 146:
Sin la complejidad teórica de Ratz
- Page 147 and 148:
pone el énfasis en la organizació
- Page 149 and 150:
el siglo XX, no logra conformar un
- Page 151 and 152:
primera) biografía sobre Raúl Pre
- Page 153 and 154:
Una rápida consulta a los periódi
- Page 155 and 156:
valiosos de la vida colectiva. Se t
- Page 157 and 158:
identificado como un caso de narrad
- Page 159 and 160:
La joven se refiere al arma que la
- Page 161 and 162:
Todas las veces en las que pudo mor
- Page 163 and 164:
atravesando una quinta a oscuras, c
- Page 165 and 166:
Notas:1 El proyecto consta de dos p
- Page 167 and 168:
Consumption society challenged: Bra
- Page 169 and 170:
due to unequal land distribution we
- Page 171 and 172:
Hence, the neo-liberal free trade a
- Page 173 and 174:
een to stand up to neo-liberalism a
- Page 175 and 176:
structural adjustment programs and
- Page 177 and 178:
a participant in the larger counter
- Page 179 and 180:
Löwy, Michael 2001. “The socio-r
- Page 181:
World Bank 2002. “What is empower