• 35CAPÍTULO 2O Planalto II e o projeto defortalecimento da comunidadeAchilles G. Coelho Jr.Érlia E. BenevidesPaulo F. BulosA comunidade do Planalto II: aspectos históricosA cidade Ipatinga, localizada no Vale do Aço, Minas Gerais, a 217 Km deBelo Horizonte, cresceu sob influência marcante da industrialização, sendoatingida pelo fluxo imigratório ocorrido nas cidades brasileiras durante as últimasdécadas. Esse fenômeno provocou o “inchaço” das cidades e o crescimentodesordenado dos centros urbanos, gerando áreas com graves problemas. Essesespaços urbanos foram ocupados de maneira não planejada e tornaram-senúcleos de pobreza cujas características são, dentre outras, o crescente nível deviolência, a falta de serviços básicos de infra-estrutura e a inadequação das edificações.Os seus habitantes geralmente têm insegurança quanto à posse doterreno, possuem baixa escolaridade, dificuldades de inserção no mercado detrabalho, fragilidades em sua saúde, precária participação comunitária, enfim,são assolados por um alto grau de vulnerabilidade. O Planalto II foi formado pormuitas famílias que ocupavam a área central da cidade, algumas desde suafundação e outras a partir do “boom” de crescimento populacional provocadopela implantação da indústria Usiminas, na década de 60. Nesta época, umnúmero elevadíssimo de pessoas e famílias foi atraído pela possibilidade deconseguir um trabalho, ocasionando um aumento desordenado da área centralda cidade. Verificou-se uma rápida passagem de um município com característicase hábitos ainda rurais para uma cultura mais urbana.
36 •POBREZA E PATRIMÔNIOPara enfrentar esta situação, a Prefeitura Municipal de Ipatinga – PMI –vinha realizando um conjunto de Programas de melhorias urbanas. Podemosdestacar o programa de intervenção na área central da cidade, o Programa NovoCentro, financiado pelo PROGRAMA SOMMA, com o objetivo de remover apopulação que ocupava irregularmente a parte baixa da cidade, em especial osresidentes das margens do Ribeirão Ipanema 18 . Tais programas deram origem àconstrução do bairro Planalto II, onde seriam reassentadas as famílias retiradasdesta parte baixa da cidade.A população dessa parte baixa, que viria a ser reassentada no Planalto II,apresentava um conjunto de fatores que tornava seus moradores muito vulneráveis:do ponto de vista físico ocupavam áreas passíveis de alagamentos ao longodo Ribeirão Ipanema, em habitações de baixa qualidade; do ponto de vistasocial, configurava-se uma situação crítica que envolvia prostituição, uso deálcool e drogas, desemprego, baixo nível de escolaridade e condições precáriasde saúde. Os moradores reassentados no Planalto II integravam dois grupos:moradores das áreas que poderiam sofrer com os alagamentos e de áreas quenão corriam este risco, cuja remoção também fazia-se necessária para a reurbanizaçãodo centro da cidade, e inserção de comerciantes daquelas áreas.Evidentemente, existiam, ainda que frágeis, alguns laços entre aqueles que viviamna mesma rua e no mesmo beco, mas o grupo que passou a constituir acomunidade do Planalto II não configurava ainda, em essência, uma comunidade,pois tratavam-se de grupos diferentes, embora, do ponto de vista social, agrande maioria vivesse situações de vulnerabilidade muito semelhantes.Reassentados no Planalto II, num total de 600 moradias, os moradoresforam novamente divididos em dois grupos: o grupo de proprietários (300moradias cujos núcleos familiares detinham a posse de imóveis na área afetadapelo Projeto Novo Centro), e outros 300 domicílios cujas casas foram construídasem regime de mutirão, por aqueles moradores que residiam na área doprojeto, mas que não eram proprietários de imóveis.Do ponto de vista social, os poucos e frágeis laços (provavelmente laçosconstruídos pelas necessidades) que ligavam de alguma forma as pessoas quemoravam mais próximas umas das outras antes da remoção, tornaram-se aindamais frágeis ou foram, em muitos casos, destruídos, dando origem ao isolamentode alguns, e a relações conflitantes em outros casos.18“O projeto Novo Centro, concluído em 1997, foi o maior programa de obras do projeto SOMMA em Minas Gerais e,hoje, é apontado pelo Banco Mundial como referência para empreendimentos semelhantes em toda a América Latina.”O projeto contou com investimentos de US$3 milhões, de uma parceria da Prefeitura com o Bird e o Governo do Estado.(Fonte: http://www.ipatinga.mg.gov.br).