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dissertação de mestrado a gestão ea mudança cultural da telemar ...

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Meu facão guarani quebrou na ponta, quebrou no meio<br />

Eu falei pra morena que o trem tá feio, iá, iê, iá, oiá (2x)<br />

E a cana-caiana eu disse a raiva, carne <strong>de</strong> sol<br />

Palha, forró e fumo <strong>de</strong> rolo, tudo é motivo pra meu facão<br />

Arma <strong>de</strong> pobre é fome, é facão<br />

Abre semente, aperta inimigo, espeta até gavião<br />

Corta sabugo e lança um <strong>de</strong>safio, não conta nem até três<br />

Que o trem tá feio e é bem por aqui<br />

Meu facão guarani quebrou na ponta, quebrou no meio<br />

Eu falei pra morena que o trem tá feio, iá, iê, iá, oiá (3x)<br />

Murilo Antunes e Tavinho Moura foram muito felizes ao <strong>de</strong>screver o facão como ferramenta<br />

que corta a semente, corta o sabugo e espeta o inimigo, não o inimigo do trabalhador, mas o<br />

inimigo do patrão. Entretanto, na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o trabalhador, ele está quebrado na ponta e<br />

no meio. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele só pesa na cintura do trabalhador. É como o sindicato: pesa no<br />

bolso do trabalhador, na forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontos e contribuições, mas na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo<br />

contra a po<strong>de</strong>rosa Telemar, está quebrado na ponta e no meio. Uma arma inútil, difícil <strong>de</strong><br />

explicar em casa que não funcionou quando o confronto é com o empregador. Os autores<br />

<strong>de</strong>ixam transparecer, embora não afirmem que os Guaranis são os trabalhadores. Mas o que é<br />

um Guarani?<br />

Segundo Brandão (1990), os Guarani eram, antes <strong>da</strong> conquista, 1.500.000 índios, repartidos<br />

por 350.000 km 2 , numa <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> 4 habitantes por quilômetro quadrado.<br />

Esses guerreiros do sul <strong>da</strong>s Américas ocupavam, junto com os índios Tupis, agora<br />

<strong>de</strong>nominados tupi-guaranis, uma região que vai <strong>da</strong> Amazônia à Bacia do Rio <strong>da</strong> Prata, <strong>de</strong> um<br />

lado, e ao Oc<strong>ea</strong>no Atlântico, do outro. Uma distância maior que 4.000 quilômetros entre o Sul<br />

e o quase extremo Norte do continente, não tornaria muito diversifica<strong>da</strong>s as culturas <strong>de</strong> uma<br />

tão gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tribos tupi-guaranis. Mas essas tribos foram dizima<strong>da</strong>s numa<br />

proporção <strong>de</strong> um sobrevivente para ca<strong>da</strong> 500 ou mais índios mortos ao longo <strong>da</strong> conquista <strong>de</strong><br />

seus territórios. Por um longo tempo, e mesmo <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> Conquista, os tupi-guarani lograram<br />

preservar uma surpreen<strong>de</strong>nte uniformi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> língua, organização social e sistema <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Pierre Clastres, apud Brandão (1990), afirma que os tupi-guaranis são tribos situa<strong>da</strong>s a<br />

milhares <strong>de</strong> quilômetros umas <strong>da</strong>s outras, vivendo do mesmo modo, praticando os mesmos<br />

rituais e falando a mesma língua. Um Guarani do Paraguai se sentiria em terreno<br />

perfeitamente familiar entre os tupis do Maranhão, distantes, entretanto, em 4.000 quilômetros<br />

um do outro.<br />

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