Untitled - Saída de Emergência

A blusa da rapariga ergueu-se um pouco, deixando ver uma tatuagemno ventre. A embarcação estava suficientemente próxima para Alice conseguirdistinguir a imagem de uma borboleta, antes de reconhecer que eraPeter o homem sentado na proa achatada, de costas para ela. Lá estava oseu cabelo espesso, com o seu corpo bem delineado e a camisa desbotadaque ela tinha lavado na véspera e pusera a secar no jardim das traseiras.Recostava-se para trás e apoiava o peso do corpo sobre as mãos espalmadas.Aquela visão inesperada fez com que o seu coração saltasse.A chata aproximara-se mais. As vozes e as risadas cresciam de tom, sobrepondo-seà estridência da música. A rapariga da vara não deu por ela. Alonga embarcação deslizou à sua frente, despertando um cheiro vivo a lodoe a plantas, misturado com o da tinta do casco.Peter moveu languidamente a cabeça e em seguida descobriu Alice, jáa retroceder na margem do rio. Abandonou a sua posição e esticou-se — Al!Eh, Al!Pôs-se de pé, a agitar os braços na sua direcção. A chata oscilou perigosamente,enquanto ele se tentava equilibrar descalço, sobre a madeiraescorregadia. Ela notou-lhe um brilho breve de surpresa, como um sinaldissonante no rasgar imediato do seu sorriso.— Aaaaa-al — gritou ele outra vez. No momento seguinte, preparavaum salto, dobrando os joelhos sob o queixo, parecendo que o seu sorrisopairava no ar, quando o corpo atingiu a água. Uma pequena nuvem de espumabrilhante cruzou o espaço, acompanhada pelos gritinhos dos passageirosda chata. A rapariga não gritou. Ficou parada, a olhar para trás, porcima do ombro, descansando o peso sobre uma das ancas e formando como corpo uma curva grácil que se destacava do fundo de salgueiros na margemoposta. A vara pendia-lhe imóvel da mão.A cabeça de Peter emergiu à superfície e ele nadou em direcção a Alice.Um minuto depois, trepava para a margem. Em seguida, a rir e a escorrerágua, agitou-se como um cão enorme. A terra ficou salpicada de gotas escuras.— Olá — foi a saudação que dirigiu a Alice. — Adeus! — exclamou,em direcção à chata, enquanto esta se afastava.Sem querer saber da roupa encharcada, Peter rodeou-a com o braço eassentou-lhe um beijo molhado na face.— Pete — disse ela. Não se mostrava surpreendida. A gritaria, o mergulhointempestivo para dentro de água, tudo era típico dele. Mas sentiu-seperturbada ao perceber que lhe faltava a habitual tolerância tranquila, relativamenteao seu comportamento extravagante. O sol, em curva descendente,reflectia-se directamente sobre os seus olhos, levando-a a franzir a testa.— Quem eram eles?21