ao mesmo tempo. É impossível <strong>de</strong>scansar mais <strong>de</strong> uma hora. O que vou eufazer?— Em breve, eles vão começar a dormir melhor. — Alice segurou nasmãos da amiga e esfregou-as entre as suas.— Quando? — perguntou Jo com um gemido. — Quero a minha vida<strong>de</strong> volta. Quero voltar a ser o que era.— E vais voltar a sê-lo. É só uma questão <strong>de</strong> tempo.Becky chegou atrasada. O seu companheiro actual era um psicólogo,um indiano atraente e calmo, que falava pouco. Como sempre, Becky falavao suficiente pelos dois.— Desculpa, Al, já per<strong>de</strong>mos tudo? Nem te passa pela cabeça comoestá o trânsito <strong>de</strong> Londres para aqui. Vijay dizia que nos <strong>de</strong>víamos mudarpara Oxford. Não era engraçado, se eu voltasse para cá? Jo! Vem cá, mãezinha,dá-me um abraço. Hum, olha para ti. Meu Deus, estás com umasmaminhas fantásticas.Alice, Becky e Jo eram amigas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o quarto ano. Uma vez, Jo tinhacomentado — Eu sou a boa rapariga, Alice é a rapariga inteligente e Beckya estrela do firmamento.Nesse momento, Jo dizia — Tenho <strong>de</strong> ir outra vez lá acima para vercomo eles estão. Não sei on<strong>de</strong> pára o Harry. — Parecia estar prestes a começara chorar.Becky e Alice trocaram olhares.— Harry está no jardim com Pete. Eu vou lá e vejo se eles estão a dormir;tu ficas aqui sentada, a conversar com a Beck — disse-lhe Alice.Deu um copo <strong>de</strong> vinho a cada uma e subiu as escadas em silêncio. Osconvidados tinham começado a dançar e a música infiltrava-se pelas tábuasdo soalho, sem parecer perturbar os bebés <strong>de</strong> Jo. Estes dormiam nos seusberços <strong>de</strong> plástico acolchoado. Um <strong>de</strong>les conservava o punho fechado juntoà bochecha, com o polegar mal tocando na boca. Alice inclinou-se para over mais <strong>de</strong> perto e <strong>de</strong>u por si a <strong>de</strong>sejar tocar com a ponta do <strong>de</strong>do naquelapele rosada. Deteve-se para não o <strong>de</strong>spertar, mas <strong>de</strong>ixou-se ficar ali curvadadurante um longo minuto, a observar e a ouvir. Lá em baixo, alguém aceleraraainda mais a música. A festa aumentara <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>.Voltou a erguer-se quase com relutância, e encaminhou-se para a porta.Esta estava entreaberta e do quarto semi-obscuro, a sua vista conseguiaabarcar meta<strong>de</strong> do patamar, on<strong>de</strong> uma bela janela em arco dava para o jardim.Pete estava na esquina das escadas, exactamente no ponto que ficavaoculto para quem pu<strong>de</strong>sse vir da entrada. A sua mão <strong>de</strong>slizava lentamentepelas costas <strong>de</strong> uma rapariga que se encostava a ele, e <strong>de</strong>tinha-se na coxa. Arapariga vestia uma blusa rosa, justa e sem mangas, que lhe <strong>de</strong>ixava à mostrauma gran<strong>de</strong> parte do corpo por cima <strong>de</strong> umas calças a roçar o chão.42
Alice ficou completamente petrificada. Ele curvou a cabeça e beijou-a,segredando-lhe a seguir qualquer coisa ao ouvido. Ela aconchegou-se aindamais a ele, num movimento eloquente <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> e familiarida<strong>de</strong>. Osdois conheciam os corpos um do outro.Um segundo <strong>de</strong>pois, a rapariga afastava-se <strong>de</strong>le. Ergueu os polegarespara pren<strong>de</strong>r o cabelo longo atrás das orelhas e sorriu-lhe com um ar insinuante,antes <strong>de</strong> se escapulir pelas escadas. Pete encostou-se por segundosà pare<strong>de</strong>, a fitar para o jardim. Se tivesse olhado na outra direcção, para ocimo das escadas, teria dado com os olhos <strong>de</strong> Alice. Mas não o fez. Ergueu--se nas pontas dos pés, como se estivesse a avaliar a iminência <strong>de</strong> algo <strong>de</strong>licioso,e <strong>de</strong>pois foi atrás da rapariga.Era apenas um beijo numa festa.Dizia para si própria que aquilo não significava nada, que era para issoque as festas serviam. Ela po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>scer as escadas e ir beijar Mark ou, <strong>de</strong>preferência, Vijay.Mas tudo o que se relacionava com aquele pequeno encontro lhe diziaque havia mais alguma coisa; que era muito mais que apenas um beijonuma festa.Quando regressou, tanto Becky como Jo olharam para ela atentas.— Então? — murmurou Becky.— Eles estão bem? — Jo já estava a levantar-se.— Estão óptimos. Acabei <strong>de</strong> ver Pete a beijar uma rapariga qualquer,nas escadas.Agora eram Becky e Jo que olhavam uma para a outra.— Que rapariga?Alice olhou <strong>de</strong> relance para a sala cheia <strong>de</strong> gente. Entre o fumo e amúsica, viam-se os rostos agitados, movendo os lábios. Junto à pare<strong>de</strong> haviauma pilha <strong>de</strong> pratos sujos e cinzeiros.— Aquela. — Ela estava em pé, junto à prateleira do fogão. Entre acurva acentuada do seu osso ilíaco e um umbigo perfeito via-se a tatuagem<strong>de</strong> uma borboleta.— Nunca a tinha visto — afirmou Becky.— É uma das alunas <strong>de</strong> Pete.— E on<strong>de</strong> é que ele está? — perguntou Jo, no tom <strong>de</strong> quem se queriaatirar a ele.Alice forçou-se a sorrir. — É melhor que eu não lhe ponha a vista emcima durante uma hora.Bebeu mais vinho e tentou reatar a sua animação anterior. Continuoua conversar e a rir, e <strong>de</strong>pois dançou com Mark e com Harry. Via Pete a movimentar-seentre os grupos, chegando mesmo a captar-lhe o olhar, comoacontecera ao princípio da noite, mas apenas num contacto breve. Gostaria43
- Page 2: T í t u l o : Sol à Meia-NoiteA u
- Page 5 and 6: Capítulo UmO vento soprava da dire
- Page 7 and 8: ficar para o dia seguinte, o que eq
- Page 9 and 10: Ele não sabia onde iria estar quan
- Page 11 and 12: — Edith, não percebo porque est
- Page 13 and 14: alcance do outro. A seguir enfrento
- Page 15 and 16: para o mandar suturar. Chegou a ter
- Page 17 and 18: cópteros e das aeronaves a levanta
- Page 19 and 20: A blusa da rapariga ergueu-se um po
- Page 21 and 22: do com a sua experiência, a arte e
- Page 23 and 24: pequena mesa rústica, e ainda uma
- Page 25 and 26: Nessa manhã, Margaret respondia a
- Page 27 and 28: tiu que a filha a conduzisse suavem
- Page 29 and 30: são. — Tratava-se sempre da tele
- Page 31 and 32: disposição as infra-estruturas de
- Page 33 and 34: posta, nem teses sem provas. Gostav
- Page 35 and 36: nente científica respeitável; pro
- Page 37 and 38: tas, como um desafio de despedida.
- Page 39: — Sabes uma coisa, Al? Quando sor
- Page 43 and 44: Capítulo Quatro— A tua mãe não
- Page 45 and 46: puxava o fecho das calças. Depois,
- Page 47 and 48: conseguir descobrir a lógica que a
- Page 49 and 50: cer e começar a correr por todo o
- Page 51 and 52: nados numa sociedade em desintegra
- Page 53 and 54: de poder vir de avião para casa, a
- Page 55 and 56: soa estranha que escutasse o que se
- Page 57 and 58: De repente, viram uma enfermeira a
- Page 59 and 60: dido coisa alguma. Tudo quanto fize
- Page 61 and 62: Capítulo CincoCom a aproximação
- Page 63 and 64: pela cabina de rádio-transmissão,
- Page 65 and 66: pessoas. No quarto reservado ao alo
- Page 67 and 68: O céu tinha escurecido, estando ag
- Page 69 and 70: O céu carregara-se entretanto de n
- Page 71 and 72: Parecia ter-se já estabelecido que
- Page 73 and 74: Capítulo SeisAlice estava de pé,
- Page 75 and 76: As paredes do átrio da Sullavanco
- Page 77 and 78: Por detrás das janelas fumadas da
- Page 79 and 80: sobre ela, como se isso lhe transmi
- Page 81 and 82: a exploração e a descoberta cient
- Page 83 and 84: — O que posso eu fazer? — pergu
- Page 85 and 86: — Oh, Deus — exclamou Becky, co
- Page 87 and 88: chas acastanhadas eram as suas pró
- Page 89 and 90: vazia - tudo o que não necessitava
- Page 91 and 92:
um milhão de centros nervosos.Porq
- Page 93 and 94:
dos CDs. Comeu muito pouco, mas est
- Page 95 and 96:
Heathrow a piscar à distância. Tr