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Untitled - Saída de Emergência

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pela cabina <strong>de</strong> rádio-transmissão, Niki tinha-lhe dito que o tempo quentee a ausência <strong>de</strong> vento prenunciavam uma tempesta<strong>de</strong>. Nikolai Pocius erao operador <strong>de</strong> rádio, um génio das comunicações lituano e esquálido, queestivera ao serviço do exército russo ao longo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos. Era provável queNiki acertasse, mas tornava-se difícil acreditar, no meio daquele momento<strong>de</strong> perfeita quietu<strong>de</strong>. Ao fechar os olhos, à parte a suave aragem fria quelhe passava sobre rosto, Rooker tinha a sensação <strong>de</strong> se encontrar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>um vácuo. A profundida<strong>de</strong> do silêncio era absoluta e cristalina, sem quehouvesse a mínima hipótese – em contraste com o que acontecia no restodo mundo – <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser perturbada no segundo seguinte, por um avião ajacto a passar sob a sua cabeça, por uma explosão <strong>de</strong> música cacofónica oupela chinfrineira do tráfego.Sem contar com as nove pessoas que presentemente ocupavam as duascabanas, na pequena elevação on<strong>de</strong> se instalava a estação <strong>de</strong> Kandahar, ahabitação humana mais próxima era Santa Ana, uma base chilena a aproximadamenteduzentos quilómetros, mais para o cimo da península. Os chilenosdispunham <strong>de</strong> uma pista <strong>de</strong> aterragem para as aeronaves no meio daneve, e a equipa <strong>de</strong> Kandahar tinha viajado até ali, sendo <strong>de</strong>pois transferida<strong>de</strong> helicóptero para a estação. Numa parceria com os chilenos, e durantea estação do Verão, Lewis Sullavan alugara dois helicópteros Squirrel aosneozelan<strong>de</strong>ses, a par dos respectivos pilotos e <strong>de</strong> um mecânico. Os veículose a tripulação ficavam se<strong>de</strong>ados em Santa Ana, mas estariam disponíveispara transportar os cientistas <strong>de</strong> Kandahar para os locais <strong>de</strong> pesquisa queficassem <strong>de</strong>masiado afastados para se recorrer à moto <strong>de</strong> neve ou ao trenó.Rooker invejava aqueles pilotos. Desejaria po<strong>de</strong>r voar sobre a imensidãodos glaciares, a observar ou a tentar <strong>de</strong>scortinar o tempo mais inóspito, masessa oportunida<strong>de</strong> não estaria ao seu alcance. Já tinha expirado a licençapara conduzir aeronaves e poucas tinham sido as vezes em que pilotara umhelicóptero.O silêncio cresceu e a<strong>de</strong>nsou-se à sua volta. Quase conseguia senti-lo,como uma matéria física a exercer pressão contra os tímpanos. Ao longodos <strong>de</strong>z dias em que ali permanecera, a paz tinha-o acalmado. Sempre quepodia, refugiava-se no exterior.O abrigo estava repleto <strong>de</strong> gente. Era-lhe difícil viver numas instalaçõestão exíguas, com aquele grupo heterogéneo que Shoesmith ali reunira.O dr. Richard Shoesmith era o chefe da expedição. Rooker sentira umaantipatia instintiva e imediata por ele, mas em relação aos restantes poucotinha a dizer. Era a interacção entre todos que lhe <strong>de</strong>sagradava. As pessoasfalavam continuamente, cada uma a tentar fazer-se ouvir sobre a algazarradas outras vozes. Todas pretendiam marcar o seu território. Até as piadas,na sua maior parte, aludiam aos pontos conquistados à custa <strong>de</strong> alguém ou65

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