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Untitled - Saída de Emergência

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do com a sua experiência, a arte estava sempre envolvida por argumentos.Era algo profundamente subjectivo. Para Pete, uma obra <strong>de</strong> arte podia sermagnífica e marcadamente impressionante, enquanto outra seria já tímida,um <strong>de</strong>rivativo da treta ou um emaranhado fora <strong>de</strong> moda (para utilizar assuas palavras), mas Alice nunca conseguiria <strong>de</strong>scobrir qual era o quê, ouse haveria alguma evidência empírica em que essas opiniões se baseassem.Achava difícil prever o que Pete iria admirar e o que iria rejeitar, e sempreque assimilava um léxico que po<strong>de</strong>ria pelo menos aplicar-se à discussão <strong>de</strong>um assunto, toda a linguagem entrara já num processo <strong>de</strong> mudança.Ao fim e ao cabo, achava que seria tudo uma questão <strong>de</strong> gosto e quenão havia uma forma <strong>de</strong> o medir ou avaliar.A ciência era outra coisa. Sendo ela uma cientista e filha <strong>de</strong> cientistas,Alice transportava no sangue a lógica e a razão. O conhecimento implicavaa medição, a <strong>de</strong>monstração, a prova. As teorias po<strong>de</strong>riam passar a dogmas,mas era necessário fundamentá-las com dados concretos. Obtidas e analisadasas provas, o conhecimento ia sendo sedimentado <strong>de</strong> forma gradual masfirme, através <strong>de</strong> pequenas acreções sobrepostas em camadas, a partir dasquais se formavam baluartes <strong>de</strong> factos inatacáveis. Era natural ocorrerem<strong>de</strong>bates e teorias antagónicas, e havia uma competitivida<strong>de</strong> internacionale pessoal, mas o movimento principal residia na construção e colaboraçãomútuas. Ao contrário da arte.— Qual é a piada? – perguntou-lhe Mark. Alice não se apercebera <strong>de</strong>que estava a sorrir.— Não é nada, <strong>de</strong> facto. Estava só a ouvir.— Mas o que é que tu achas?A luz do sol inundava a mesa. Na chávena <strong>de</strong> Alice, o chá reflectiauma auréola <strong>de</strong> bronze cintilante. Pete espreguiçou-se na ca<strong>de</strong>ira, numasilhueta flexível e <strong>de</strong>scontraída, sorrindo-lhe abertamente. A sua vida emcomum era constituída por uma série <strong>de</strong> pequenos encontros como este.Costumavam conviver com os amigos, lanchar ou jantar, ou irem juntos abares. Iam a festas e davam também as suas – <strong>de</strong> facto, ia até haver uma emsua casa no dia seguinte, ao começo da noite. Peter era uma pessoa sociávele para ele nada lhe dava mais prazer do que ter um monte <strong>de</strong> gente à suavolta. Isso significava que ela não o tinha muito tempo junto <strong>de</strong> si, mas nãose importava. A vida proporcionava-lhe aquilo que ela <strong>de</strong>sejava.Alargou ainda mais o seu sorriso. — Acho que vou comer outro scone,antes que Pete acabe com o que resta.Não lhe apetecia ser incluída numa discussão interminável sobre arte.De qualquer maneira, Pete nunca ouvia os que os outros diziam. Este paroucom quase meio scone a caminho da boca e voltou a colocá-lo no prato.Depois <strong>de</strong> lhe adicionar mais compota, transferiu-o para o prato <strong>de</strong> Alice.23

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