ir no Zodiac, através das placas <strong>de</strong> gelo, para receber a recém-chegada etrazê-la para terra.— Roger — disse ele.Disparou com a moto <strong>de</strong> neve e a gaivota lançou-se num voo amplo econfiante. Rook foi seguindo pelo traçado <strong>de</strong>ixado pelas marcas dos esquis,até chegar ao ponto mais próximo do local on<strong>de</strong> se encontravam os outros,<strong>de</strong>smontando para lhes dizer on<strong>de</strong> ia a seguir. Caminhou a custo, por entreo manto fofo <strong>de</strong> neve que cobria o gelo, com as botas quase afundadas atéaos tornozelos.— Não nos vais abandonar aqui durante a noite, só com uma san<strong>de</strong>s?— inquiriu Valentin, a rir.— Não te preocupes, Val, conseguimos ir para casa, sem problemas.Será o Rook quem vai ter <strong>de</strong> se preocupar quando lá chegarmos — ameaçouPhil.Deixou-os com as suas ban<strong>de</strong>iras, <strong>de</strong>satrelou o trenó e acelerou coma moto <strong>de</strong> neve em direcção à base. O percurso da ida fora lento, porqueele e Phil tinham <strong>de</strong> parar para testar a neve à sua frente com uma sondacomprida, sempre que encontravam uma sombra ou uma cova. Durante ahistória já tinham já <strong>de</strong>saparecido <strong>de</strong>masiados cães e trenós, e até homens,sugados pelas entranhas do gelo, para que valesse a pena correr qualquerrisco. Mas nesse momento seguia a toda a velocida<strong>de</strong>, ressaltando ao longodo caminho, sentindo o frio a fustigar-lhe o rosto, enquanto os esquisdianteiros planavam sobre os trilhos seguros já marcados pela viagem davinda. O trilho <strong>de</strong>senrolava-se à sua frente, numa linha que serpenteavaaté a uma distância infinita. Com o entusiasmo, a boca abrira-se-lhe numenorme sorriso.A base ficava a <strong>de</strong>z quilómetros <strong>de</strong> distância. Ao chegar à última elevação,Rooker avistou à sua frente dois pontos minúsculos em vermelhocarmim, abrigados pela baía e ro<strong>de</strong>ados por uma vastidão <strong>de</strong> neve, com aplataforma <strong>de</strong> gelo e uma língua <strong>de</strong> água negra como pano <strong>de</strong> fundo. Decada um dos lados erguiam-se escarpas <strong>de</strong> rocha exposta e, por <strong>de</strong>trás, ocampo <strong>de</strong> neve em <strong>de</strong>clive estava encimado por um afloramento rochosoelevado que <strong>de</strong>limitava a margem do glaciar. Na ponta estreita da baía, outralíngua do glaciar <strong>de</strong>spenhava-se em blocos traiçoeiros e fissuras até ao níveldo mar.Descreveu uma volta ampla em redor do emaranhado dos rochedos e<strong>de</strong>sceu a encosta em direcção às cabanas, acompanhado pelo troar do motor.Depois <strong>de</strong> fazer um novo círculo, Rooker arrumou a moto <strong>de</strong> neve<strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um abrigo tosco, nas traseiras das cabanas. Uma das suas tarefasextras envolvia a construção <strong>de</strong> um abrigo sólido, utilizando as estruturas <strong>de</strong>ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>ixadas por um dos navios <strong>de</strong> abastecimento, no início da estação.68
O céu tinha escurecido, estando agora numa tonalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinzento carregadoe Rook reparou que o vento se estava a levantar. Em volta dos seus pésvoavam pequenos re<strong>de</strong>moinhos <strong>de</strong> neve.— Ah, já chegaste — foi o comentário <strong>de</strong>snecessário <strong>de</strong> Shoesmith.Este estava sentado à mesa coberta com uma pano <strong>de</strong> oleado, ao centro dasala <strong>de</strong> estar, com um monte <strong>de</strong> papéis espalhados à sua frente. A outra zona<strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> Kandahar era composta pelas bancadas estreitas do laboratóriogelado, pelo que a maior parte das pessoas preferia executar o trabalhomenos exigente na atmosfera aquecida da área comunitária.Na ponta mais afastada da sala, on<strong>de</strong> ficavam as duas janelas que davampara a encosta <strong>de</strong> neve, o encarregado da base, Russell Amory, e Nikyocupavam todo o espaço da cozinha. Niki <strong>de</strong>scascava batatas para uma bacia<strong>de</strong> metal e Russ fazia pão. Rooker pensou que um dos principais atractivosda vida <strong>de</strong> Kandahar era o pão <strong>de</strong> Russ Amory.Cada um <strong>de</strong>les parecia a antítese do outro. Niki era imensamente alto e<strong>de</strong> uma magreza cadavérica. Usava um cabelo longo e <strong>de</strong>salinhado e a sombra<strong>de</strong> uma barba que não lhe ocultava as faces cavadas. Quando ria, soltandoumas gargalhadas estrondosas, repuxava a pele e os lábios <strong>de</strong>lgados,<strong>de</strong>ixando ver um <strong>de</strong>ntes feios que pareciam estar na eminência <strong>de</strong> saltar dasgengivas com mais um safanão da cabeça. Russell era baixo, estava queimadopelo sol e quase não tinha cabelo, à excepção <strong>de</strong> uns tufos por cima dasorelhas. Nesse dia, amarrara um avental branco, que lhe punha em <strong>de</strong>staquea barriga proeminente.Russ e Nikolai não interromperam as suas tarefas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scascar e <strong>de</strong>amassar. Niki <strong>de</strong>u uma sacudi<strong>de</strong>la ao pulso e lançou uma espiral enorme <strong>de</strong>casca <strong>de</strong> batata para <strong>de</strong>ntro da taça.— A Laure? Já está pronta? — perguntou Rooker da entrada. Não lheapetecia muito per<strong>de</strong>r tempo a <strong>de</strong>scalçar as botas e a roupa impermeável,uma vez que tinha <strong>de</strong> sair logo a seguir. Além disso, Russ não gostava que aspessoas patinhassem o chão com neve ou cascalho.Como se lhe respon<strong>de</strong>sse, a francesa Laure Heber emergiu da portado dormitório das mulheres. Numa das mãos transportava uma mochilavolumosa e na outra um par <strong>de</strong> botas impermeáveis. Os outros três homensergueram a cabeça.— Merci, Jeeem — disse com um sorriso. — Tout prêt.Laure tinha o cabelo brilhante e negro, com um corte acentuadamentecurto. Colocara nas orelhas uns brincos <strong>de</strong> pérola e até a camisola <strong>de</strong> lã estavafavoravelmente talhada para lhe fazer sobressair o pescoço longo. Nãofalava muito, mas o seu hábito <strong>de</strong> erguer uma das sobrancelhas sempre quealguém lhe dirigia a palavra, dava-lhe um certo ar <strong>de</strong> distanciamento e <strong>de</strong>cepticismo. Estabelecera-se uma rotina, em que cabia a um <strong>de</strong>les, em cada69
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ficar para o dia seguinte, o que eq
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Ele não sabia onde iria estar quan
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