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Untitled - Saída de Emergência

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O céu tinha escurecido, estando agora numa tonalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinzento carregadoe Rook reparou que o vento se estava a levantar. Em volta dos seus pésvoavam pequenos re<strong>de</strong>moinhos <strong>de</strong> neve.— Ah, já chegaste — foi o comentário <strong>de</strong>snecessário <strong>de</strong> Shoesmith.Este estava sentado à mesa coberta com uma pano <strong>de</strong> oleado, ao centro dasala <strong>de</strong> estar, com um monte <strong>de</strong> papéis espalhados à sua frente. A outra zona<strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> Kandahar era composta pelas bancadas estreitas do laboratóriogelado, pelo que a maior parte das pessoas preferia executar o trabalhomenos exigente na atmosfera aquecida da área comunitária.Na ponta mais afastada da sala, on<strong>de</strong> ficavam as duas janelas que davampara a encosta <strong>de</strong> neve, o encarregado da base, Russell Amory, e Nikyocupavam todo o espaço da cozinha. Niki <strong>de</strong>scascava batatas para uma bacia<strong>de</strong> metal e Russ fazia pão. Rooker pensou que um dos principais atractivosda vida <strong>de</strong> Kandahar era o pão <strong>de</strong> Russ Amory.Cada um <strong>de</strong>les parecia a antítese do outro. Niki era imensamente alto e<strong>de</strong> uma magreza cadavérica. Usava um cabelo longo e <strong>de</strong>salinhado e a sombra<strong>de</strong> uma barba que não lhe ocultava as faces cavadas. Quando ria, soltandoumas gargalhadas estrondosas, repuxava a pele e os lábios <strong>de</strong>lgados,<strong>de</strong>ixando ver um <strong>de</strong>ntes feios que pareciam estar na eminência <strong>de</strong> saltar dasgengivas com mais um safanão da cabeça. Russell era baixo, estava queimadopelo sol e quase não tinha cabelo, à excepção <strong>de</strong> uns tufos por cima dasorelhas. Nesse dia, amarrara um avental branco, que lhe punha em <strong>de</strong>staquea barriga proeminente.Russ e Nikolai não interromperam as suas tarefas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scascar e <strong>de</strong>amassar. Niki <strong>de</strong>u uma sacudi<strong>de</strong>la ao pulso e lançou uma espiral enorme <strong>de</strong>casca <strong>de</strong> batata para <strong>de</strong>ntro da taça.— A Laure? Já está pronta? — perguntou Rooker da entrada. Não lheapetecia muito per<strong>de</strong>r tempo a <strong>de</strong>scalçar as botas e a roupa impermeável,uma vez que tinha <strong>de</strong> sair logo a seguir. Além disso, Russ não gostava que aspessoas patinhassem o chão com neve ou cascalho.Como se lhe respon<strong>de</strong>sse, a francesa Laure Heber emergiu da portado dormitório das mulheres. Numa das mãos transportava uma mochilavolumosa e na outra um par <strong>de</strong> botas impermeáveis. Os outros três homensergueram a cabeça.— Merci, Jeeem — disse com um sorriso. — Tout prêt.Laure tinha o cabelo brilhante e negro, com um corte acentuadamentecurto. Colocara nas orelhas uns brincos <strong>de</strong> pérola e até a camisola <strong>de</strong> lã estavafavoravelmente talhada para lhe fazer sobressair o pescoço longo. Nãofalava muito, mas o seu hábito <strong>de</strong> erguer uma das sobrancelhas sempre quealguém lhe dirigia a palavra, dava-lhe um certo ar <strong>de</strong> distanciamento e <strong>de</strong>cepticismo. Estabelecera-se uma rotina, em que cabia a um <strong>de</strong>les, em cada69

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