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Untitled - Saída de Emergência

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— Oh, Deus — exclamou Becky, com um sorriso amarelo.Através da abertura das sandálias Christian Loubotin, viam-se-lhe distintamenteas unhas dos pés. Estavam pintadas com um rosa pérola, suave eluminoso, e cada unha tinha sido <strong>de</strong>licadamente rematada com um círculobranco. As pernas eram macias e bronzeadas e as unhas das mãos tambémtinham passado pela manicura. Nas orelhas viam-se pequenos brincos <strong>de</strong>diamantes e tudo nela dizia perfeito. Olharam uma para a outra e <strong>de</strong>satarama rir.Alice apercebeu-se <strong>de</strong> que já terminara a bebida e que bebera a maiorparte do gelo já <strong>de</strong>rretido.— Pedimos mais duas?— Infelizmente tenho <strong>de</strong> trabalhar esta tar<strong>de</strong>. Mas não quero saber.Vou beber uma taça <strong>de</strong> vinho — <strong>de</strong>cidiu Becky. — Tu vais regressar <strong>de</strong> lá asalvo, não vais?— Vou — prometeu Alice.Ninguém voltava igual ao que fora, recordou-se.— Como vai a Jo? — perguntou Becky.Beberam o vinho e Becky terminou o seu prato. Falaram sobre Jo e osbebés, e sobre se Vijay seria exactamente, ou apenas satisfatoriamente, o homemque Becky procurava. Nada daquilo diferia das dúzias <strong>de</strong> almoços queela e Becky tinham compartilhado ao longo daquele ano, mas Alice sentia--se ligeiramente longe dali. Nos seus ouvidos havia uma voz, um turbilhão<strong>de</strong> sílabas. Antárctida.Da sua ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> espaldar alto, ao lado da cama, Margaret avistouAlice a caminhar pela enfermaria, na sua direcção. Não queria que a filha<strong>de</strong>scobrisse como estivera ansiosamente à sua espera, pelo que se permitiuapenas um olhar rápido, antes <strong>de</strong> dobrar compenetradamente o jornalsobre o colo. Mas num só segundo conseguira ver que ela estava mais coradae tinha o rosto aberto como uma flor ao sol. As novida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>viam serboas.Um fluxo <strong>de</strong> memórias tomou conta <strong>de</strong> si e aliviou-lhe a visão da enfermariaabafada. Tinham passado quase quarenta anos exactos em que sesentira tal como Alice estava agora: prestes a iniciar os principais anos dasua vida, com a vasta imensidão da Antárctida à sua espera. Mesmo nessemomento, em que as dores lhe dominavam as articulações, conseguia recordar-seda sensação <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>itada numa tenda com o vento a assobiar<strong>de</strong> encontro à lona, ou <strong>de</strong> olhar extasiada para a garganta azul e voraz <strong>de</strong>uma fissura, com a ponte <strong>de</strong> neve a ameaçar <strong>de</strong>smoronar-se sob o sol dofim da estação. A Antárctida era um local penoso e perfeito. Havia um saboráspero a inveja na boca <strong>de</strong> Margaret, e esta frisou para si própria que era87

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