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A rabeca de Vil<strong>em</strong>ão Trin<strong>da</strong>de <strong>em</strong> Mario de Andrade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .<br />

pra mim escutar uma espécie de monstrengo sublime, que intitulara “A Boia<strong>da</strong>”. Às<br />

vezes parava a execução pra me contar o que estava se passando... no violino. Eram<br />

os bois saindo no campo; eram os vaqueiros ajuntando o “comboio”; era o trote<br />

miudinho no estradão; o estouro; o aboio de vaqueiro dominando os bichos<br />

assustados... Está claro que a peça era horrível de pobreza, má execução,<br />

ingenui<strong>da</strong>de. Mas assim mesmo tinha frases aproveitáveis e invenções descritivas<br />

engenhosas. E principalmente comovia. Quando se t<strong>em</strong> o coração b<strong>em</strong> nascido,<br />

capaz de encarar com serie<strong>da</strong>de os “abusos” do povo, uma coisa dessas comove<br />

muito e a gente não esquece mais. Do fundo <strong>da</strong>s imperfeições de tudo quanto o<br />

povo faz, v<strong>em</strong> uma força, uma necessi<strong>da</strong>de que, <strong>em</strong> arte, equivale ao que é fé <strong>em</strong><br />

religião (ANDRADE, 1984: 388-89).<br />

A segun<strong>da</strong> citação está no 3º tomo de Danças dramáticas do Brasil:<br />

Mulato escuro. Hom<strong>em</strong> feito. Rabequista e cordeonista de profissão. Tocador de<br />

bailaricos, tocador de “Boi”, ignorante de música teórica, intuição excelente,<br />

reproduzindo imediatamente no instrumento dele o que a gente cantava ou<br />

executava no piano. Ouvido excelente. T<strong>em</strong>peramento barroco, enfeitador <strong>da</strong>s<br />

melodias na rabeca. Alguma incerteza de execução que se tornava freqüent<strong>em</strong>ente<br />

fantasista. Coisa proveniente <strong>da</strong> própria musicali<strong>da</strong>de improvisatória do rabequista e<br />

não de insuficiência. E por humil<strong>da</strong>de e tímido, só depois de certo trabalho se<br />

acamaradou mais comigo. Assim mesmo não dizia nunca que estava errado. Se<br />

limitava a tocar de novo o documento pra que eu mesmo descobrisse os meus<br />

enganos. Muito paciente. As peças dele foram toma<strong>da</strong>s com bastante dificul<strong>da</strong>de.<br />

Vil<strong>em</strong>ão as variava <strong>em</strong> extr<strong>em</strong>o nos enfeites e era de ritmo bastante divagativo<br />

<strong>em</strong>bora b<strong>em</strong> batido nas <strong>da</strong>nças. Quero dizer que nas peças coreográficas acentuava<br />

b<strong>em</strong> metrônomicamente os t<strong>em</strong>pos fortes. Nas outras peças, pelo fato mesmo de<br />

estar s<strong>em</strong>pre acompanhando cantores, duplicando no instrumento o canto alheio,<br />

não tinha ritmo próprio, acostumado a servilmente seguir os outros. Isso lhe <strong>da</strong>va na<br />

execução solista dessas melodias aquela hesitação de expectativa do acompanhador à<br />

primeira vista. Mas com as reservas relativas a tudo isso, anotei com o máximo de<br />

fideli<strong>da</strong>de possível as melodias que Vil<strong>em</strong>ão tocava, <strong>em</strong> repetições numerosíssimas<br />

(ANDRADE, 1959: 11).<br />

Aqui, pod<strong>em</strong>os perceber um relato rico <strong>em</strong> detalhes <strong>da</strong> prática musical específica<br />

<strong>da</strong> rabeca, a partir <strong>da</strong> execução de Vil<strong>em</strong>ão <strong>da</strong> Trin<strong>da</strong>de, <strong>em</strong> Bom-Jardim, RN, 1929. Ao<br />

contrário do primeiro, ele nomeia o instrumento adequa<strong>da</strong>mente e descreve indiretamente<br />

um perfil de sua função musical no Bumba-meu-Boi: acompanhamento <strong>da</strong>s melodias<br />

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