isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br
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PROFISSÃO<<strong>br</strong> />
George Platen não conseguia esconder a ânsia na sua voz. Era grande demais para<<strong>br</strong> />
poder contê-a.<<strong>br</strong> />
- Amanhã é o primeiro de Maio. Olimpíadas! - disse ele.<<strong>br</strong> />
Rolou so<strong>br</strong>e o estômago e olhou o seu <strong>com</strong>panheiro de quarto por so<strong>br</strong>e o pé da<<strong>br</strong> />
cama. «Ele não sentia, também? Isso não lhe causava qualquer emoção?»<<strong>br</strong> />
A cara de George era magra e tinha emagreci<strong>do</strong> mais ainda no quase ano e meio<<strong>br</strong> />
que tinha passa<strong>do</strong> na Casa. A sua figura era frágil mas o olhar <strong>do</strong>s seus olhos azuis<<strong>br</strong> />
era tão intenso <strong>com</strong>o sempre fora, e agora havia um ar de clausura na forma <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
os seus de<strong>do</strong>s se enroscavam na colcha.<<strong>br</strong> />
O <strong>com</strong>panheiro de quarto de George levantou os olhos <strong>do</strong> livro por um momento,<<strong>br</strong> />
e aproveitou a oportunidade para ajustar a intensidade da luz no pedaço de parede<<strong>br</strong> />
junto à sua cadeira. Chamava-se Hali Omani e era Nigeriano de nascimento. A sua<<strong>br</strong> />
pele castanha-escura e a sua figura imponente pareciam feitas para a tranquilidade,<<strong>br</strong> />
e a menção das Olimpíadas não o perturbou.<<strong>br</strong> />
- Eu sei, George - disse ele.<<strong>br</strong> />
George devia muito à paciência e bondade de Hali, quan<strong>do</strong> era preciso, mas até a<<strong>br</strong> />
paciência e a bondade podiam ser de mais. «Isto é hora de estar ali senta<strong>do</strong> <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />
uma estátua feita de uma madeira qualquer, negra e quente?»<<strong>br</strong> />
George perguntou-se se ele mesmo não ficaria assim depois de estar dez anos ali<<strong>br</strong> />
e rejeitou esse pensamento violentamente. «Não!»<<strong>br</strong> />
- Acho que te esqueceste <strong>do</strong> que Maio significa - disse, desafia<strong>do</strong>ramente.<<strong>br</strong> />
- Lem<strong>br</strong>o-me muito bem <strong>do</strong> que isso significa - disse o outro. - Não significa nada!<<strong>br</strong> />
Tu é que te esqueceste disso.<<strong>br</strong> />
Maio não significa nada para ti, George Platen, e - acrescentou suavemente - não<<strong>br</strong> />
significa nada para mim, Hali Omani.<<strong>br</strong> />
- As naves vêm ai buscar recrutas - disse George. Em Junho, milhares e milhares<<strong>br</strong> />
delas partirão <strong>com</strong> milhões de homens e mulheres em direção a um mun<strong>do</strong> qualquer<<strong>br</strong> />
e tu<strong>do</strong> isso não significa nada?<<strong>br</strong> />
- Menos que nada. De qualquer forma, que é que tu queres que eu faça em relação<<strong>br</strong> />
a isso? - Omani percorreu <strong>com</strong> o de<strong>do</strong> uma passagem difícil <strong>do</strong> livro que estava a<<strong>br</strong> />
ler e os seus lábios moveram-se silenciosamente.<<strong>br</strong> />
George observou-o. «Droga», pensou, «gritar, berrar; isso podes fazer. Dá-me pontapés,<<strong>br</strong> />
faz qualquer coisa.»<<strong>br</strong> />
Ele queria apenas não estar tão só <strong>com</strong> a sua raiva. Não ser o único cheio de indignação,<<strong>br</strong> />
não ser o único a morrer uma morte lenta.<<strong>br</strong> />
Eram melhores aquelas primeiras semanas, quan<strong>do</strong> o Universo era uma pequena<<strong>br</strong> />
concha de luz e som difusos, pesan<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e ele. Era melhor antes de Omani ter apa-