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isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

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- Cuida<strong>do</strong> <strong>com</strong> a agulha. - Havia outros que nos tomavam por confidentes e diziam:<<strong>br</strong> />

- Têm de te a<strong>br</strong>ir a cabeça <strong>com</strong> um corte. Usam uma faca afiada deste tamanho<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong> um gancho - e assim por diante <strong>com</strong> detalhes horríveis.<<strong>br</strong> />

George nunca acreditara neles, mas tivera pesadelos, e agora fechava os olhos e<<strong>br</strong> />

sentia puro terror.<<strong>br</strong> />

Não sentiu os fios na têmporas. O zumbi<strong>do</strong> era algo distante, e sentia nos ouvi<strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

o som <strong>do</strong> seu próprio sangue, soan<strong>do</strong> abafa<strong>do</strong> <strong>com</strong>o se ele e o sangue estivessem<<strong>br</strong> />

numa grande caverna. Lentamente, atreveu-se a a<strong>br</strong>ir os olhos.<<strong>br</strong> />

O médico estava de costas para ele. De um <strong>do</strong>s instrumentos desenrolava-se uma<<strong>br</strong> />

tira de papel, percorrida por uma ondulante e fina linha roxa. O médico rasgava pedaços<<strong>br</strong> />

e introduzia-os numa ranhura <strong>do</strong>utra máquina. Fazia-o vezes e vezes seguidas.<<strong>br</strong> />

De cada vez, saía um pequeno pedaço de filme, para o qual o médico olhava. Finalmente,<<strong>br</strong> />

virou-se para George, <strong>com</strong> um estranho franzi<strong>do</strong> entre os olhos.<<strong>br</strong> />

O zumbi<strong>do</strong> parou.<<strong>br</strong> />

- Já acabou? - disse George, sem fôlego.<<strong>br</strong> />

- Sim - disse o médico, mas ainda tinha a testa franzida.<<strong>br</strong> />

- Já consigo ler? - perguntou George. Não se sentia diferente.<<strong>br</strong> />

- O quê? - disse o médico, e depois sorriu de repente e por pouco tempo. - Correu<<strong>br</strong> />

tu<strong>do</strong> bem, George - disse. Daqui a quinze minutos conseguirás ler. Agora vamos utilizar<<strong>br</strong> />

outra máquina e vai demorar mais. Vou co<strong>br</strong>ir a tua cabeça toda, e quan<strong>do</strong> ligar<<strong>br</strong> />

não vais poder ver ou ouvir nada por um momento, mas não vai <strong>do</strong>er. Só para ter a<<strong>br</strong> />

certeza vou dar-te um pequeno interruptor para segurares. Se alguma coisa <strong>do</strong>er,<<strong>br</strong> />

aperte no pequeno botão e desliga-se tu<strong>do</strong>. Certo?<<strong>br</strong> />

Anos mais tarde, disseram-lhe que o pequeno interruptor era apenas fictício; que<<strong>br</strong> />

tinha si<strong>do</strong> introduzi<strong>do</strong> apenas para inspirar confiança. No entanto, ele nunca soube<<strong>br</strong> />

ao certo, já que nunca apertou o botão.<<strong>br</strong> />

Um grande capacete de curvas suaves e revestimento interior elástico foi coloca<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e a sua cabeça e deixa<strong>do</strong> aí. Três ou quatro pequenos botões pareciam agarrarse<<strong>br</strong> />

a ele e morder-lhe o crânio, mas era apenas uma pequena pressão que se esvaiu.<<strong>br</strong> />

Não havia <strong>do</strong>r.<<strong>br</strong> />

A voz <strong>do</strong> médico soou vagamente. - Tu<strong>do</strong> bem, George?<<strong>br</strong> />

E então, sem qualquer aviso, uma camada de espesso feltro fechou-se à volta<<strong>br</strong> />

dele. Estava desencorpa<strong>do</strong>, não havia sensação, não havia universo, apenas ele próprio<<strong>br</strong> />

e um murmúrio distante nos limites <strong>do</strong> nada, dizen<strong>do</strong>-lhe algo... dizen<strong>do</strong>-lhe...<<strong>br</strong> />

dizen<strong>do</strong>-lhe...<<strong>br</strong> />

Esforçou-se por ouvir e perceber mas havia to<strong>do</strong> aquele grosso feltro no meio.<<strong>br</strong> />

Depois o capacete foi-lhe tira<strong>do</strong> da cabeça, e a luz era tão <strong>br</strong>ilhante que lhe magoou<<strong>br</strong> />

os olhos, enquanto a voz <strong>do</strong> médico ressoou nos seus ouvi<strong>do</strong>s.<<strong>br</strong> />

- Aqui está o teu cartão, George - disse o médico -, que é que diz?<<strong>br</strong> />

George olhou de novo para o seu cartão e largou um grito abafa<strong>do</strong>. As marcas não<<strong>br</strong> />

eram apenas marcas, de forma alguma. Elas formavam palavras. Eram palavras, tão<<strong>br</strong> />

claramente <strong>com</strong>o se alguém as estivesse sussurran<strong>do</strong> aos ouvi<strong>do</strong>s. Ele podia ouvir as<<strong>br</strong> />

palavras a sen<strong>do</strong> sussurradas ao olhar para elas.<<strong>br</strong> />

- Que é que diz, George?<<strong>br</strong> />

- Diz... diz... «Platen, George. Nasci<strong>do</strong> a 13 de Fevereiro de 6492, filho de Peter e<<strong>br</strong> />

Amy Platen em...». - E interrompeu-se.<<strong>br</strong> />

- Já sabes ler, George - disse o médico. - Já acabou.<<strong>br</strong> />

- Para sempre? Já não me esqueço?<<strong>br</strong> />

- Claro que não. - O médico inclinou-se para cumprimentá-o gravemente. - Serás<<strong>br</strong> />

leva<strong>do</strong> para casa agora.

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