isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

guém; nem ao Trevelyan; nem aos pais, exatamente aquilo que estava fazendo e<br />
que o tornava tão confiante. Mas ele não estava preocupado. Estava simplesmente<br />
confiante (essa era a pior das memórias que teria nos dias sem esperança que se seguiriam).<br />
Estava tão brandamente confiante como qualquer garoto médio de oito<br />
anos aproximando-se do Dia da Leitura, essa antecipação infantil do Dia da Educação.<br />
Claro que o Dia da Leitura tinha sido diferente. Em parte, pelo simples fato da infância.<br />
Um rapaz de 8 anos encara muitas coisas importantes com ligeireza. Um dia<br />
não se sabe ler e no seguinte já se sabe. É assim que são as coisas. Como o brilho<br />
do Sol.<br />
E de qualquer forma, pouca coisa dependia dele. Não havia recrutadores em frente<br />
esperando e acotovelando-se pelas listas e resultados da próxima Olimpíada. Um rapaz<br />
ou uma garota que passe pelo Dia da Leitura é apenas alguém que tem mais dez<br />
anos de vida indiferenciada sobre a fervilhante face da Terra; apenas alguém que<br />
volta para a sua família com uma nova capacidade.<br />
Quando o Dia da Educação chegou, dez anos depois, George já não tinha sequer a<br />
certeza de grande parte dos pormenores do seu próprio Dia da Leitura.<br />
Mais claramente que tudo, lembrava-se de ter sido um dia triste de Setembro com<br />
uma chuva suave a cair. (Setembro para o Dia da Leitura, Novembro para o Dia da<br />
Educação, Maio para as Olimpíadas, faziam versos com isto, no jardim da infância.)<br />
George encontrava-se vestido junto às luzes de parede, com os pais bem mais excitados<br />
do que ele próprio estava. O seu pai era um montador de tubos registrado e tinha<br />
encontrado a sua ocupação na Terra. Este fato tinha sido sempre uma humilhação<br />
para ele, embora, claro, como qualquer um pode ver, a maior parte de cada geração<br />
deva ficar na Terra, pela natureza das coisas.<br />
Tinha de haver lavradores e mineiros e até técnicos na Terra. Apenas os exemplares<br />
recentes de profissão altamente especializadas, que tinham grande procura nos<br />
Mundos Exteriores, e apenas alguns milhões por ano da população de oito biliões da<br />
Terra podiam ser exportados. Nem todos os homens e mulheres da Terra podiam estar<br />
nesse grupo.<br />
Mas cada homem e mulher podia esperar que pelo menos um dos seus filhos pudesse<br />
estar, e Platen, pai, não era decerto excepção. Era claro para ele (e, com certeza,<br />
também para outros) que George era notavelmente inteligente e sagaz. Estaria<br />
destinado a sair-se bem e teria de o fazer, já que era filho único. Se George não acabasse<br />
num Mundo Exterior, teriam de esperar pelos netos para que houvesse outra<br />
oportunidade, e isso estava demasiado afastado no tempo para ser grande consolação.<br />
É claro que o Dia da Leitura não provava muita coisa, mas seria a única indicação<br />
que teriam antes do grande dia propriamente dito. Todos os pais da Terra ouviriam a<br />
qualidade da leitura quando os seus filhos voltassem para casa com ela, procurando<br />
ouvir qualquer fluência particularmente fácil e construindo com ela alguns augúrios<br />
do futuro. Havia poucas famílias que não tivessem pelo menos um rapaz promissor<br />
que, devido à forma como dizia os trissílabos, fosse, desde o Dia da Leitura, a sua<br />
grande esperança.<br />
George tinha uma vaga consciência da causa da tensão dos seus pais, e se havia<br />
alguma ansiedade no seu coração jovem, naquela manhã chuvosa, era apenas o<br />
medo de que a expressão esperançosa do seu pai se esvaísse quando ele regressasse<br />
para casa com a sua leitura.