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isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

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unhadas enquanto <strong>do</strong>rmia...<<strong>br</strong> />

Sua respiração ficou agitada. Ah, que ridículo, e ao mesmo tempo... Ela ouvia<<strong>br</strong> />

atenta e aflita. Dessa vez reconheceu um som. O garoto estava choran<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Não era um guincho de raiva ou de me<strong>do</strong>. Não era um berro ou um grito. Chorava<<strong>br</strong> />

mansamente, o choro era o soluço <strong>do</strong> coração parti<strong>do</strong> de uma criança solitária, muito<<strong>br</strong> />

solitária.<<strong>br</strong> />

Pela primeira vez, pensou <strong>com</strong> uma <strong>do</strong>r no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> peito: coitadinho! É claro, era<<strong>br</strong> />

uma criança. O que importava a forma de sua cabeça? Era uma criança que tinha<<strong>br</strong> />

si<strong>do</strong> afastada <strong>do</strong>s pais de uma maneira muito <strong>br</strong>utal, <strong>com</strong>o jamais acontecera <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

outro garoto. Não tinha perdi<strong>do</strong> apenas o pai e a mãe, mas toda a sua espécie. Arranca<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>utalmente de seu tempo, agora era a única criatura <strong>do</strong> seu tipo no mun<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

A última. A única.<<strong>br</strong> />

A pena que sentia dele se tornou mais forte ainda, e <strong>com</strong> ela a vergonha pela sua<<strong>br</strong> />

própria insensibilidade. Ajeitan<strong>do</strong> a camisola para ocultar as pernas ("que ridículo",<<strong>br</strong> />

pensou; "amanhã terei que conseguir um roupão de banho"), saiu da cama e entrou<<strong>br</strong> />

no quarto <strong>do</strong> garoto.<<strong>br</strong> />

- Garotinho - sussurrou. - Garotinho.<<strong>br</strong> />

Estava a ponto de se meter embaixo da cama, mas, <strong>com</strong> me<strong>do</strong> de uma possível<<strong>br</strong> />

mordida, desistiu. Em vez disso acendeu a luz e afastou a cama. O po<strong>br</strong>ezinho estava<<strong>br</strong> />

encolhi<strong>do</strong> num canto, <strong>com</strong> os joelhos encosta<strong>do</strong>s no queixo, olhan<strong>do</strong>-a <strong>com</strong> olhos lacrimejantes<<strong>br</strong> />

e apreensivos.<<strong>br</strong> />

Sob a luz tênue, ela não percebia sua feiura<<strong>br</strong> />

- Po<strong>br</strong>e garoto - disse ela. - Po<strong>br</strong>e garoto. - Ele se empertigou quan<strong>do</strong> ela lhe acariciou<<strong>br</strong> />

os cabelos, mas depois relaxou. - Po<strong>br</strong>e garoto. Posso pegar em você?<<strong>br</strong> />

Ela se sentou no chão a seu la<strong>do</strong> e, devagar e ritmadamente, acariciou seus cabelos,<<strong>br</strong> />

sua face, seus <strong>br</strong>aços. Suavemente, <strong>com</strong>eçou a cantar uma música lenta e delicada.<<strong>br</strong> />

Ele levantou sua cabeça para ela, e, <strong>com</strong>o se estivesse procuran<strong>do</strong> a origem daquele<<strong>br</strong> />

som, observou sua boca na escuridão.<<strong>br</strong> />

Aproveitan<strong>do</strong> a sua distração enquanto a ouvia, ela o trouxe mais para perto. Calmamente<<strong>br</strong> />

puxou sua cabeça da maneira mais delicada possível, encostan<strong>do</strong>-a no seu<<strong>br</strong> />

om<strong>br</strong>o. Colocou o <strong>br</strong>aço sob suas coxas e, <strong>com</strong> um movimento sutil e lento, levou-o<<strong>br</strong> />

para o colo.<<strong>br</strong> />

Ela continuou cantan<strong>do</strong> o mesmo verso várias vezes, enquanto o balançava para a<<strong>br</strong> />

frente e para trás.<<strong>br</strong> />

Ele parou de chorar. Depois de um tempo sua respiração mostrou que estava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>.<<strong>br</strong> />

Cuida<strong>do</strong>samente empurrou a cama dele de volta para a parede e deitou-o. Co<strong>br</strong>iuo<<strong>br</strong> />

e ficou contemplan<strong>do</strong>. Seu rosto parecia tão tranquilo e indefeso enquanto<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>rmia...<<strong>br</strong> />

Não importava que fosse tão feio. Realmente.<<strong>br</strong> />

Começou a sair na ponta <strong>do</strong>s pés, quan<strong>do</strong> pensou: e se ele acordar?<<strong>br</strong> />

Ela voltou, travan<strong>do</strong> uma feroz batalha consigo mesma, suspirou e se deitou na<<strong>br</strong> />

cama <strong>com</strong> a criança.<<strong>br</strong> />

A cama era pequena para ela. Sentia-se apertada e inquieta <strong>com</strong> a ausência <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>ssel, mas as mãos da criança estavam apertan<strong>do</strong> as suas. De alguma forma acabou<<strong>br</strong> />

a<strong>do</strong>rmecen<strong>do</strong> naquela posição.<<strong>br</strong> />

Acor<strong>do</strong>u <strong>com</strong> um so<strong>br</strong>essalto e um desejo selvagem de gritar, mas conseguiu<<strong>br</strong> />

transformar esse último num simples murmúrio. O garoto estava olhan<strong>do</strong>-a, os olhos<<strong>br</strong> />

arregala<strong>do</strong>s.

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