isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

ESTOU EM PORTO MARTE SEM HILDA<br />
Tudo se desenrolou como num sonho, sem que eu tivesse necessidade de intervir<br />
diretamente. Limitei-me a assistir ao desenrolar dos acontecimentos. Tanta facilidade<br />
devia bastar para que pressentisse uma catástrofe, mas às vezes confio em excesso<br />
na minha boa estrela.<br />
O caso principiou com o meu habitual mês de folga entre duas missões. Mês sim,<br />
mês não, constitui a rotina de trabalho normal para os agentes do Serviço Galático, e<br />
desembarquei em Porto Marte para os usuais três dias de repouso antes do salto final<br />
para a Terra.<br />
Normalmente, Hilda (que Deus a abençoe), esposa dócil e terna em extremo, estaria<br />
à minha espera, a fim de desfrutarmos um interlúdio aprazível. No entanto<br />
desta vez minha sogra (que Deus a abençoe também, para variar) adoeceu dois<br />
dias antes de eu chegar a Porto Marte e, na noite que precedeu o desembarque,<br />
recebi um espaçograma de Hilda anunciando que tinha de permanecer na Terra ao<br />
lado da mãe, pelo que não me poderia fazer companhia.<br />
Enviei a resposta com prontidão, deplorando o fato e formulando votos para que<br />
minha sogra melhorasse e, quando desembarquei: estava em Porto Marte sem Hilda.<br />
Após breve ponderação do caso, resolvi contactar com Flora, protagonista de certos<br />
episódios esporádicos do meu passado, pelo que entrei numa cabina de vídeo<br />
sem me preocupar com a despesa envolvida. Entretanto, receava encontrá-a ocupada,<br />
com o videofone desligado ou possivelmente morta.<br />
Contudo, nada disso aconteceu e a sua imagem surgiu no écran com prontidão.<br />
Não me detenho a descrevê-a, porque além de me faltarem as expressões apropriadas,<br />
os contos têm um limite, para além do qual se transformam em romances. Basta<br />
sublinhar que as costuras magnéticas do seu roupão metálico... Mas, não. Passemos<br />
a assuntos de interesse geral.<br />
- Max! - exclamou, com aquela voz que... Lá me deixava arrastar novamente pelo<br />
entusiasmo. - Há anos que não te via<br />
- É verdade, Flora, mas agora aqui me tens ao teu dispor. Sabes uma coisa? Estou<br />
em Porto Marte sem Hilda!<br />
- Coitado! Então, vem pra cá.<br />
Percorreu-me um arrepio de satisfação, que se concentrou especialmente em toda<br />
a extensão da coluna vertebral.<br />
- Não me digas que estás livre!<br />
Abro um pequeno parêntese para esclarecer que Flora só se achava disponível<br />
desde que o interessado a prevenisse com várias semanas de antecedência. Por isto<br />
podem fazer uma pálida ideia da natureza dos seus atributos físicos. Acerca dos mo-