isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

ecido e o ter arrastado de volta a uma vida que não merecia ser vivida.<br />
Omani! Era velho! Tinha pelo menos 30 anos. «Serei assim aos 30 anos? Serei assim<br />
daqui a doze anos?», pensou George.<br />
E Porque receava que sim, gritou para Omani: - És capaz de parar de ler esse livro<br />
idiota?<br />
Omani virou a página e leu ainda algumas palavras, depois levantou a cabeça, com<br />
o seu cocuruto de cabelo encrespado, e disse:<br />
- O quê?<br />
- Que é que tu ganhas em ler esse livro? - Avançou e bufou. - Mais eletrônica - E<br />
arrancou-o das mãos de Omani.<br />
Omani levantou-se devagar e apanhou o livro. Endireitou uma página amarrotada<br />
sem visível rancor.<br />
- Chama-lhe satisfação da curiosidade - disse. - Aprendo alguma coisa hoje, talvez<br />
um pouco mais amanhã. De certa forma é uma vitória.<br />
- Uma vitória. Que espécie de vitória? É isso que te satisfaz na vida? Chegares a<br />
saber o suficiente para seres um quarto de engenheiro eletrônico registrado quando<br />
já tiveres 65 anos?<br />
- Talvez quando tiver 35.<br />
- E nessa altura quem é que te quererá? Quem é que te vai usar? Para onde é que<br />
vais?<br />
- Ninguém. Ninguém. Para lado nenhum. Ficarei aqui a ler outros livros.<br />
- E isso satisfaz-te? Diz-me! Tu arrastaste-me para a aula. Fizeste-me ler e memorizar,<br />
também. Para quê? Nada disso me satisfaz.<br />
- O que é que ganhas em negar-te a satisfação?<br />
- O que te estou dizendo é que desisto desta farsa. Vou fazer o que sempre planejei<br />
fazer desde o início, antes de me teres convencido com tua conversa mansa. Vou<br />
forçá-os a... a...<br />
Omani pousou o livro. Deixou o outro parar e disse: - A quê, George?<br />
- A corrigir uma decisão injusta. Uma maquinação. Vou apanhar aquele Antonelli e<br />
forçá-o a confessar que... que...<br />
Omani baixou a cabeça.<br />
- Todos os que vêm para aqui insistem em que é um erro. Pensei que já tinhas ultrapassado<br />
essa fase.<br />
- Não lhe chames fase - disse George violentamente, no meu caso é um fato. Já te<br />
disse...<br />
- Pois disseste, mas no fundo sabes que ninguém se enganou no que te diz respeito.<br />
- Por que ninguém o admite? Achas que algum deles admitiria um erro a não ser<br />
que fossem forçados a isso? Pois bem, eu forço-os.<br />
Era Maio que estava fazendo isto com George; era o mês das Olimpíadas. Ele sentia-as<br />
trazer de volta o velho entusiasmo e não podia pará-o. Não queria pará-o. Tinha<br />
corrido o risco de esquecer.<br />
- Ia ser um programador de computadores e posso ser - disse. - Podia sê-o hoje,<br />
independentemente do que eles dizem que as análises mostram. - Esmurrou o colchão.<br />
Eles estão enganados. Têm de estar.<br />
- Os analistas nunca se enganam.<br />
- Têm de estar. Duvidas da minha inteligência?<br />
- A inteligência não tem nada a ver com isto. Não te disseram isso vezes suficientes?<br />
Não entendes isso?<br />
George rolou para trás, deitou-se de costas, e olhou melancolicamente para o teto.