isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

circo, em lugar bastante protegido da ação direta dos raios solares, havia crescido<br />
uma cidade. É claro, começou como um acampamento provisório, porém, com o<br />
transcurso dos anos, os hurrianos trouxeram fêmeas de sua espécie e nasceram filhos.<br />
Atualmente havia ali escolas e complicadas plantações hidropônicas, grandes<br />
depósitos de água e tudo quanto era necessário para abastecer uma cidade em um<br />
mundo sem ar.<br />
Era ridículo! E tudo porque um planeta que tinha armas atômicas não se decidia a<br />
desencadear uma guerra.<br />
O Arqui-administrador, cuja chegada era iminente, se faria sem dúvida a mesma<br />
pergunta que Devi-en se havia formulado em um incontável número de vezes: Porque<br />
não havia sido iniciada uma guerra nuclear?<br />
Devi-en observou como os toscos e pesados mauvs preparavam o terreno para a<br />
aterrissagem, alisando as desigualdades do mesmo e estendendo a capa protetora<br />
de cerâmica, destinada a absorver o empuxo hiperatômico que se exerceria conta o<br />
campo, com o fim de evitar o menos incômodo para os passageiros que ocupariam a<br />
astronave.<br />
Mesmo cobertos por seus escafandros espaciais, os mauvs aparentavam força, porém<br />
era unicamente força muscular. Mais além via-se a figura de um hurriano dando<br />
ordens, que os mauvs obedeciam com docilidade, naturalmente.<br />
A raça mauviana era a única, entre as restantes espécies de grandes primatas inteligentes,<br />
que pagava tributo com algo completamente insólito: sua contribuição pessoal,<br />
em lugar de enviar artigos de consumo. Aquilo constituía um tributo verdadeiramente<br />
útil, melhor que o aço, o alumínio ou as especiais.<br />
Uma voz ressoou no receptor de Devi-en:<br />
- Avistamos a nave, Senhor. Aterrissará antes de uma hora.<br />
- Muito bem, disse Devi-en. Que preparem meu carro para levar-me à nave, enquanto<br />
iniciam a aterrissagem.<br />
Algo lhe dizia que as coisas não iam muito bem.<br />
Apareceu o Arqui-administrador, escoltado por um séquito de cinco mauvs, sua<br />
guarda pessoal. Penetraram na cidade com ele, um de cada lado e três fechado a<br />
marcha. Ajudaram-no a despojar-se de seu escafandro e logo tiraram os seus.<br />
Seus corpos quase sem pelos, suas largas e toscas feições, seus narizes aplastados<br />
e pomos faciais salientes, eram repulsivos porém não causavam espanto. Embora tivessem<br />
o dobro da estatura dos hurrianos e fossem muito mais fornidos que estes,<br />
havia uma docilidade em seu olhar, algo tão submisso em seu aspecto, que não inspiravam<br />
temos, apesar de seus grossos e musculosos troncos e seus poderosos braços,<br />
que pendiam desamparados.<br />
O Arqui-administrador os despediu com um gesto e eles se foram como um bando<br />
de cães obedientes. Na realidade, ele não necessitava da sua proteção, porém o cargo<br />
que ostentava requeria um séquito de cinco mauvs, e tinha que ater-se ao protocolo.<br />
Nem durante a refeição, nem durante o interminável ritual de boas vindas, falaram<br />
de assuntos de Estado, porém quando chegou o momento que era mais adequado<br />
para ir dormir, o Arqui-administrador acariciou a barbicha com seus pequenos dedos<br />
e perguntou:<br />
- Quanto tempo teremos que esperar ainda por este planeta, Capitão?<br />
Devi-en observou que estava muito envelhecido. O pelo de suas extremidades superiores<br />
era grisalho e as mechas dos cotovelos eram semelhantes, em brancura,