isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

Mas o atraso não deixou que conseguisse um bom lugar. O máximo que conseguiu<br />
foi ver pelo telão da sala de reuniões. Se ela pudesse estar naquele lugar; se, de alguma<br />
forma, pudesse alcançar alguma parte sensível da aparelhagem; se tivesse<br />
condições de estragar a experiência...<br />
Ela encontrou forças para controlar sua loucura. A destruição por si só não adiantaria<br />
muito. Eles consertariam, religariam e fariam tudo de novo. E ela nunca mais<br />
teria permissão de voltar para Timmie.<br />
Nada ajudaria. Nada, a não ser que a experiência fracassasse por si própria, que<br />
tivesse um defeito irrecuperável.<br />
Ela acompanhou a contagem regressiva, seguindo cada movimento da tela gigantesca,<br />
examinando o rosto dos técnicos à medida que o foco passava de um para o<br />
outro, esperando pelo olhar de preocupação e incerteza que revelaria que alguma<br />
coisa estava dando errado; esperando, esperando...<br />
Ela não teve sorte. A contagem chegou a zero e, muito calmamente, totalmente<br />
despretensiosa, a experiência foi bem-sucedida.<br />
Na nova Stasis, que tinha sido instalada lá, estava um camponês, de idade indeterminada,<br />
barbudo, ombros curvados, com roupas sujas e esfarrapadas e tamancos,<br />
olhando completamente horrorizado para essa mudança repentina e louca que acabava<br />
de ocorrer.<br />
E enquanto o mundo enlouquecia de felicidade, a Srta. Fellowes ficou paralisada<br />
de tristeza, levando encontrões e empurrões, quase esmagada, cercada por comemorações<br />
e derrotada por completo.<br />
O alto-falante que a convocou, com uma força estridente, precisou chamá-a três<br />
vezes antes que respondesse.<br />
- Srta. Fellowes. Srta. Fellowes. Está sendo procurada na Seção 1 de Stasis, imediatamente.<br />
Srta. Fellowes. Srta. Fel...<br />
- Deixe-me passar - gritou ela sem fôlego, enquanto o alto-falante continuava a repetir<br />
seu nome sem parar. Ela abriu caminho através da multidão com raiva, batendo<br />
nas pessoas, dando socos com os punhos fechados, andando na direção da porta<br />
como se estivesse num pesadelo.<br />
Mandy Terris estava chorando.<br />
- Não sei como isso aconteceu. Fui só até a pontinha do corredor dar uma olhada<br />
no vídeo de bolso que eles tinham colocado lá. Só por um minuto. E, antes que pudesse<br />
me mexer ou fazer alguma coisa... - Ela gritou, num tom subitamente acusador.<br />
- Você disse que eles não dariam trabalho. Você disse para deixá-os sozinhos...<br />
A Srta. Fellowes, toda desgrenhada e tremendo incontrolavelmente, depositou-lhe<br />
um olhar brilhante.<br />
- Onde está Timmie?<br />
Jerry gemia. Uma enfermeira estava limpando o seu braço com um desinfetante e<br />
outra preparava-lhe uma vacina anti-tétano Havia sangue nas roupas de Jerry.<br />
- Ele me bateu, Srta. Fellowes - gritou Jerry, com raiva. - Ele me bateu.<br />
Mas a Srta. Fellowes sequer chegou a olhá-o.<br />
Ela correu para a casa de bonecas. Atrapalhou-se com a porta do banheiro. Levou<br />
uma eternidade para conseguir abri-a e achar o menino assustado, num canto.<br />
- Não me chicoteie, senhorita Fellowes - sussurrou. Seus olhos estavam vermelhos.<br />
Os lábios tremiam. - Não tive a intenção de fazer isso.<br />
- Oh, Timmie, que história é essa de chicotear?!... - Ela puxou-o contra si e o abraçou<br />
desajeitadamente.