isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

O numerologista balançou cabeça.<br />
- Ninguém acreditaria em você, meu amigo. Isso sem falar que você jamais admitiria<br />
que esteve aqui.<br />
No dia 20, Marshall Zebatinsky estava diante da porta descascada, olhando para os<br />
lados, em frente à loja onde se via a palavra "Numerologia" impressa num pequeno<br />
cartaz pregado na vidraça embaçada, pouco legível embaixo da poeira. Ele investigou<br />
o lado de dentro, praticamente desejando que houvesse mais alguém ali e, assim,<br />
pudesse ter uma desculpa para ir logo para casa.<br />
Tinha tentado afastar esses pensamentos de sua cabeça várias vezes. Nunca conseguia<br />
passar muito tempo preenchendo o formulário que o numerologista lhe dera.<br />
Sentia-se embaraçado ao respondê-o. Achava uma grande besteira colocar o nome<br />
de seus amigos, o custo de sua casa, se sua mulher tinha feito algum aborto e, caso<br />
tivesse, quando. Deixava-o logo de lado.<br />
Mas também não conseguia abandoná-o em definitivo. Voltava a ele todas as noites.<br />
Talvez isso fosse por causa do computador. Não admitia que aquele baixinho presunçoso<br />
pudesse ter um computador. A tentação de desmascarar o blefe, de pagar<br />
para ver, estava se tornando irresistível.<br />
Finalmente, ele enviou o formulário completo pelo correio, colocando nove centavos<br />
de selos sem pesar a carta. Se ela voltasse, ele pensou, desistiria da ideia A carta<br />
não voltou.<br />
Ele olhou para dentro da loja e viu que estava vazia. Zebatinsky não teve outra escolha<br />
senão entrar. Uma campainha tilintou.<br />
O velho numerologista apareceu atrás de uma cortina.<br />
- Sim? Ah, Dr. Zebatinsky.<br />
- Você se lembra de mim? - perguntou Zebatinsky, tentando sorrir.<br />
- É claro.<br />
- E qual é o veredito?<br />
O numerologista esfregou suas mãos grossas.<br />
- Antes de irmos a ele, senhor, há um pequeno...<br />
- O problema diz respeito ao pagamento?<br />
- O trabalho já está pronto, senhor. Mereço ser pago por ele. Zebatinsky não fez<br />
nenhuma objeção. Estava preparado para pagar. Se já tinha ido tão longe, seria besteira<br />
desistir por causa do dinheiro. Ele contou cinco notas de dez dólares e colocouas<br />
em cima do balcão.<br />
- Então?<br />
Calmamente, o numerologista voltou a contar as notas e guardou-as na gaveta da<br />
escrivaninha.<br />
- Seu caso é muito interessante - disse o numerologista. - Eu aconselharia que o<br />
senhor mudasse seu nome para Sebatinsky.<br />
- Seba... como é que se escreve isso?<br />
- S-e-b-a-t-i-n-s-k-y. Zebatinsky encarou-o, indignado.<br />
- Você quer dizer que só preciso mudar a inicial? Trocar um z por um S? Só isso?<br />
- Basta isso. Desde que seja adequada, uma pequena mudança é mais segura do<br />
que uma grande.<br />
- Mas como essa mudança pode afetar alguma coisa?<br />
- Outro nome poderia? - perguntou o numerologista delicadamente. - Não posso<br />
dizer. Sei que, de alguma maneira, é possível, mas isso é tudo que posso dizer. Lem-