isaac asimov nove amanhãs contos do futuro ... - Mkmouse.com.br

pletamente insuportável, e foi a última que celebrou.<br />
O selvagem mostrava uma contusão na bochecha, como se houvesse resistido novamente<br />
aos mauvs. Realmente havia oferecido resistência. Havia-os enfrentado tantas<br />
vezes que os mauvs, apesar de todos seus esforços para não causar-lhe<br />
dano,não tinham podido evitar feri-lo em uma ocasião. Era de se supor que o selvagem<br />
se daria conta de até que ponto eles tentavam não causar-lhe dano, e que isso<br />
deveria tê-lo aplacado. Ao contrário, era como se o convencimento da segurança em<br />
que se achava o estimulasse a oferecer mais resistência.<br />
(Aquelas espécies de primatas superiores eram malignas, malignas e viciosas, disse<br />
para si mesmo Devi-en, com tristeza.)<br />
Durante mais de uma hora a conversação girou em torno de questões sem importância,<br />
até que o selvagem perguntou ousadamente:<br />
- Quanto tempo disse que estão nos observando, espantalho?<br />
- Quinze dos vossos anos – respondeu Devi-en.<br />
- Isso faz sentido. Os primeiros discos voadores foram vistos pouco depois da segunda<br />
guerra mundial. Quanto tempo faltava então para a guerra nuclear?<br />
Com automática sinceridade, Devi-en contestou:<br />
- Oxalá eu soubesse.<br />
E interrompeu-se de repente.<br />
O selvagem prosseguiu><br />
- Eu acreditava que a guerra nuclear era inevitável... A última vez que nos vimos<br />
disseste que haviam permanecido aqui dez anos ou mais. Estiveram esperando que<br />
explodisse a guerra durante dez anos, correto?<br />
- Prefiro não discutir o tema.<br />
- Não - vociferou o selvagem -. E que pensam fazer, diga-me. Quanto tempo pensam<br />
esperar? Porque não nos dão um empurrão? Não se limitem a esperar, abutres,<br />
comecem uma.<br />
Devi-en se pôs em pé de um salto.<br />
- Que está dizendo?<br />
- Que estão esperando, asquerosos...? - Pronunciou um epíteto completamente incompreensível<br />
e logo prosseguiu, quase sem ar -: Não é isso que fazem os abutres<br />
quando algum pobre animal fraco e macilento, ou talvez um homem, tarda demasiado<br />
a morrer? Não podem esperar. Baixam em bando e arrancam-lhes os olhos a bicadas.<br />
Então esperam que esteja completamente indefeso, para precipitar sua morte.<br />
Devi-en se apresou a ordenar que o levassem e logo retirou-se à sua cabine, onde<br />
permaneceu encerrado por várias horas, sentindo-se verdadeiramente mal. Naquela<br />
noite não conseguiu conciliar o sono. A palavra «abutre» ressoava em seus ouvidos,<br />
e aquela horrível imagem final bailava ante seus olhos.<br />
Devi-en disse com firmeza e decisão:<br />
- Alteza, não posso prosseguir falando com o selvagem. Embora você necessite de<br />
mais dados, sinto muito. Porém não posso ajudá-lo.<br />
O Arqui-administrador parecia abatido e cansado.<br />
- Eu compreendo. Isso de comparar-nos com abutres..., claro, no podes suportar.<br />
Entretanto você deve ter notado que essa ideia não faz marcas nele. Os grandes primatas<br />
são imunes a estas coisas; são seres duros e desapiedados. Sua mentalidade