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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Engalfinharam-se, lutando peito a peito, cara a cara, como dois demônios<br />

possessos da mesma raiva; e afinal rolaram no chão, feitos num só, numa só massa<br />

iracunda e ofegante, que rodava na estreiteza da alcova, levando de roldão o que<br />

topava, despedaçando móveis, faianças e cristais, fundidos num infernal abraço de<br />

extermínio. Gabriel sentia as garras e os dentes do louco rasgarem-lhe as carnes,<br />

mas insistia em estrangulá-lo, tentando empolgar-lhe o pescoço.<br />

Felizmente, Gaspar, que havia apanhado no ar a situação e correra a<br />

chamar pelos de casa, invadia agora, acompanhado por outros, o revolto aposento<br />

dos noivos.<br />

Custou-lhe obter aquela gente prostrada por dois dias de festa.<br />

Quatro homens atiraram-se à unha a Leonardo, como a um touro: o insano,<br />

porém não largava dos dentes a espádua esquerda do rival. Então Gaspar, que<br />

acabava de abrir o seu portátil estojo de cirurgia, despejou no lenço o conteúdo de<br />

um frasquinho de prata que tirou dele, e conseguindo colar contra o nariz e a boca<br />

do furioso o pano ensopado. Leonardo acabou por fechar os olhos e deixar-se cair<br />

exânime nos braços dos que o detinham.<br />

— Carreguem com ele para lugar seguro, disse o operador; donde não<br />

possa fugir quando voltar a si. E tratemos agora destes!<br />

Estendeu-se a Gabriel sobre um divã, e carregou-se com Ambrosina para o<br />

seu infeliz e faustoso leito conjugal. A desditosa noiva continuava estarrecida e<br />

banhada em sangue.<br />

Gaspar pediu pontos falsos, trapos de linho, todos os recursos desse gênero<br />

que houvesse em casa; assentou-se expeditamente ao lado da cama, arregaçando<br />

as mangas, e pôs-se a observar atentamente a ferida da enferma.<br />

Só nessa ocasião apareceu na alcova o pai da noiva.<br />

Fora de si e quase sem poder falar, perguntava o comendador muito aflito<br />

que estranha e grande desgraça havia sucedido à sua pobre filha; mas dando com<br />

Gaspar ao lado dela, a auscultar-lhe o colo, estacou, exclamando fulminado:<br />

— O Médico Misterioso?!<br />

E rugiu de cólera.<br />

Gaspar, sem largar de mão o que fazia, olhou para ele de esguelha, e<br />

sacudiu os ombros.<br />

— O filho do coronel Pinto Leite em minha casa?! bramiu Moscoso, cerrando<br />

os punhos. Saia daqui, senhor! saia imediatamente, ou o farei despejar lá fora pelos<br />

meus escravos!<br />

calma:<br />

Gaspar, ainda sem largar de mão a desfalecida, respondeu com toda a<br />

— Sim, mas deixe-me primeiro cumprir com o meu dever profissional,<br />

medicando estes dois infelizes; uma é sua filha, e outro é a quem deve ela a vida, à<br />

custa do estado em que o vê... Há depois tempo de sobra para o comendador<br />

enxotar-me de sua casa uma vez por todas...<br />

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