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— O homem passará sozinho, amanhã às quatro horas da madrugada, pela<br />
ponte de Santo Antônio. O lugar é magnífico, e a ocasião não pode ser melhor!<br />
Atira-se com o corpo ao mar, depois de sangrado...<br />
— Donde virá ele a essas horas?<br />
— Não vem; vai tomar o trem para uma viagem.<br />
— Bem! Retire-se, mas não se afaste; fique aí fora até que o chame. Você<br />
tem de acompanhar-me; irei infalivelmente!<br />
— Ordena mais alguma coisa?...<br />
— Não.<br />
O homem retirou-se, e Violante recolheu-se à alcova, para rezar. Acometeua<br />
um grande fervor religioso.<br />
Quando Gaspar voltou, às dez horas, ainda a encontrou nas suas orações.<br />
Acendeu o candeeiro, e pôs-se a ler. Depois foi à janela respirar um pouco de ar, e<br />
viu na rua, encostado ao lampião, o homem que falara com Violante. Desceu sem<br />
ruído ao encontro dele.<br />
— Então?... disse-lhe.<br />
— A senhora mando-me esperar...<br />
— Bem! resmungou Gaspar, disfarçando; o encontro é no mesmo lugar?<br />
— Sim, senhor, na ponte de Santo Antônio. O homem passa às quatro da<br />
madrugada...<br />
Gaspar afastou-se, afetando calma, mas levava uma grande agonia no<br />
coração. Correu à casa da irmã. Esta preparava as malas do marido.<br />
— Você a estas horas, mano?<br />
— Sim. Onde está Paulo? Ainda não voltou? Estive com ele até às nove<br />
horas...<br />
— É! ele me falou de que te ia procurar.<br />
— Diz-me uma cousa, Virgínia: teu marido sai infalivelmente esta<br />
madrugada?<br />
— Infalivelmente. Vai a uma viagem de negócio. Por quê?<br />
— É preciso que ele não vá!<br />
— Por quê? Tu assustas-me!<br />
— Porque o querem matar. Presta atenção ao que te digo; isto é um segredo<br />
perigoso, que não deve transparecer: há alguém que tenciona matá-lo esta<br />
madrugada, na ponte de Santo Antônio. Só eu sei disso, além dos encarregados do<br />
crime; por conseguinte, se descobrires alguma cousa do segredo, só eu o pagarei<br />
pela tua indiscrição. O resto fica por tua conta! Se não quiseres arriscar a vida de teu<br />
marido, evita que ele saia esta madrugada!...<br />
Virgínia ficou aflita.<br />
— Adeus, disse Gaspar! Faze o que te digo!<br />
— Mas, atende, Gaspar. E se eu nada puder conseguir? Esta viagem é<br />
muito urgente. Trata-se de salvar tudo o que possuímos. Paulo não me atenderá<br />
com certeza! valha-me Deus!<br />
— Mas se te digo que se trata de salvar-lhe a vida!<br />
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