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inteira! Quanto invejo os que partem deste mundo, sem deixar atrás de si um só eco<br />
de rugir de ódio ou de gargalhar de escárnio!<br />
E voltando para Gabriel, disse-lhe numa agonia crescente:<br />
— Vai! Foge de mim. Evita-me! És moço; vai gozar em paz, vai viver! Casate,<br />
constitui família, faze-te amado por uma mulher digna de ti! Meus carinhos te<br />
secam o sangue, meus beijos te umedecem a inteligência! Foge-me, querido! Amote<br />
muito, para consentir que te associes à minha estrela!<br />
— Onde diabo queres tu chegar com tudo isso. Não te compreendo!<br />
— Quero arrancar-te deste degredo!<br />
— Mas, filha, não foste tu própria quem escolheu isto aqui para morarmos?...<br />
— Sim, porque não previa as conseqüências; agora porém, receio perderte...<br />
Esta solidão está a matar-te lentamente, eu sofro por te ver nesse estado... Não!<br />
não ! É preciso salvar-te!<br />
— Qual! por mim, não! por mim não te incomodes. Em toda a parte me<br />
aborreço do mesmo modo... O mal vem de mim e não do lugar em que me acho...<br />
Se é só por isso, põe o coração à larga, e não te preocupes com os enfados de uma<br />
mudança.<br />
— Mas é que eu própria começo a sucumbir de tédio!<br />
— Ah! isso agora é outra cousa. Compreendo! Sentes falta do ruído da<br />
cidade. O corpo pede-te pândega. Já me tardava, confesso-te!<br />
— E é exato. Esta existência calma, entre cascatas e mangueiras, em vez<br />
de acalmar-me os nervos, tem a propriedade de irritá-los... Não nasci para isto! No<br />
fim de contas, o mais digno e honesto é submeter-se cada qual ao seu<br />
temperamento e deixar-se de hipocrisias; mais vale a franca jovialidade do que uma<br />
austeridade fingida e falsa. Sinto-me bem disposta como nunca; amo e sou amada<br />
— quero viver! quero gozar, em plena expansão de alegria o resto de minha<br />
mocidade ao lado do meu amante. Venham de novo as ceias, os vinhos, os delírios<br />
do jogo e das madrugadas de prazer! Sou de novo a <strong>Condessa</strong> <strong>Vésper</strong>!<br />
Gabriel sacudiu os ombros, enjoado.<br />
— Faze o que entenderes, disse ele; mas talvez te arrependas...<br />
— É difícil... Pois se isto já é um arrependimento de arrependimento!... Não!<br />
Não! Preciso sair daqui. Vou fatalmente! Se me não acompanhares, irei só.<br />
Daí a dias, mudavam-se para a cidade, tomando na Praia da Lapa, em<br />
frente ao mar, um sobradinho de três janelas, que era um brinco. E a <strong>Condessa</strong><br />
<strong>Vésper</strong> começou a reaparecer nos teatros e nas corridas, ao lado do seu taciturno<br />
amante.<br />
Apesar de já inteiramente fora do calendário das mulheres de alto bordo,<br />
fizeram-se logo comentários de todo o gênero a seu respeito. Uns, naturalmente por<br />
espírito de contradição, achavam que ela agora estava ainda mais bela; outros,<br />
sistematicamente pessimistas, pretendiam que a sazonada ex-estrela do Alcazar, já<br />
não valia dois caracóis. E atribuíam-lhe uma grande regeneração por amor, falavase,<br />
por aqui e por ali, ora de uma formidável paixão, que esteve a dar com ela num<br />
convento de freiras, ora de uma moléstia, não menos terrível, que por pouco não lhe<br />
deixara os ossos a descoberto. E citavam com pasmo as toilettes sérias de<br />
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