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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Os credores caíram logo sobre a viúva e lançaram mão do que puderam. Só<br />

lhe ficou uma casinha no Engenho Novo, que havia sido comprada em nome da<br />

filha.<br />

Mãe e filha mudaram-se para lá.<br />

Ambrosina, porém, não se queria conformar com semelhante miséria.<br />

— No fim de contas, argumentava ela, sou casada com um homem<br />

remediado de fortuna e não devo levar esta vida quase de privações. Não tenho<br />

culpa de que meu marido enlouquecesse. O curador faz-me dar uma mesada, que<br />

mal chega para acudir às primeiras necessidades! Sebo!<br />

E parecia que ia repetir a frase do Reguinho.<br />

A mãe ouvia-a com um ar tolo; tudo aquilo para a pobre mulher era negócio<br />

complicado.<br />

Todavia, Gabriel, por esse tempo, freqüentava a família do Sr. Windsor.<br />

Windsor é o negociante inglês, marido de Ursulina. Este inalterável homem<br />

tomara afeição a Gabriel, e via com bons olhos a inclinação de sua filha Eugênia<br />

pelo rapaz.<br />

Gabriel aparecia-lhe regularmente duas vezes por semana, para o chá.<br />

Fazia-se então palestra à roda da mesa ou fazia-se música no salão.<br />

Eram aqueles serões tranqüilos e confortadores. Eugênia, às vezes, cosia<br />

ou bordava, e Gabriel assentava-se ao lado dela, esquecido a olhar para o<br />

movimento da agulha ou para os olhos da rapariga, abaixados sobre a costura.<br />

— Creio que já lhe mereço alguma confiança, disse-lhe ele em uma dessas<br />

vezes; por que não me revela os seus segredos?...<br />

— Não os tenho... respondeu ela, sem levantar os olhos.<br />

— E contudo, observou Gabriel, há muito de misterioso e triste em todos os<br />

seus gestos... Diga-me a verdade!... às vezes uma revelação suaviza os nossos<br />

pesares...<br />

— Não, nunca lhe direi uma palavra... é exato haver cá dentro um motivo de<br />

desgosto, mas esse motivo nunca será denunciado por mim... Eu o confessaria<br />

francamente, no caso que o senhor o descobrisse... porém, declará-lo eu... isso<br />

nunca!<br />

— Minha amiga!...<br />

— Não insista. Aqui, onde me vê, feia e pobre, também tenho o meu<br />

bocadinho de orgulho...<br />

— E se eu adivinhasse o seu segredo? se eu descobrisse o que a faz<br />

mergulhar assim nessas indefinidas tristezas?... Diga-me: confessaria tudo?<br />

— Sim, já disse que sim...<br />

— Mas eu tenho receio de enganar-me... Às vezes supomos distinguir aquilo<br />

que desejamos ver, e essa ilusão é uma felicidade que se desfaz ao tentarmos<br />

alcançar a bela miragem!...<br />

Gabriel calou-se por algum tempo; depois, aproximou mais a sua cadeira da<br />

de Eugênia, debruçou-se para ela e acrescentou quase em segredo:<br />

— Se soubesse como sofro!... nem mesmo sei explicar o que sinto... São<br />

desejos vagos e incompletos, um querer sem vontade, um desejar sem ânimo, um<br />

aspirar sem destino e sem coragem. E contudo, sinto que me falta alguma cousa...<br />

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