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deixaste, meu amor, que eu te tomasse as mãos? por que consentiste que eu me<br />
aproximasse tanto de ti?...<br />
— Porque ainda não voltei a mim do seu atrevimento e da sua grosseria!<br />
— E Ambrosina ergueu-se, indignada.<br />
— Têm toda a razão... balbuciou Gabriel, abaixando a cabeça. Perdoa-me!<br />
— Creio que o senhor disse que procurava por meu pai... Tenha a bondade<br />
de esperá-lo.<br />
— Ouça-me um instante, por piedade!.<br />
— Que deseja ainda?...<br />
— Não diga a seu pai que estou cá. Não me sinto em estado de falar com<br />
ele.... Diga-lhe antes que vim para autorizá-lo a liquidar o negócio como entender. O<br />
que ele fizer será bem feito!<br />
— Tenha a bondade de ver em que fica!<br />
— Ambrosina! Não seja cruel!... dê-me uma palavra, uma só! uma<br />
esperança de ser amado! Diga o que quer que eu faça!... eu tudo cumprirei, na<br />
esperança de ser seu esposo!...<br />
"Mil contos!" reconsiderou a filha do comendador, e sentiu um<br />
estremecimento no coração; conteve-se, porém com tal arte, que a sua fisionomia<br />
nada transpirou.<br />
E, voltando-se para Gabriel, inquiriu com um ar firme:<br />
— O senhor pode freqüentar esta casa?<br />
— Posso.<br />
— E, se encontrar oposição em seus parentes, o que fará?<br />
— Não sei! só sei que a amo loucamente!<br />
— Isso não é resposta — Quero saber se o senhor tem a necessária<br />
coragem para vencer todos os escrúpulos e freqüentar os bailes de meu pai.<br />
— E ele consentirá?<br />
— Se eu quiser, há de consentir.<br />
— Pois estou por tudo!<br />
— Venha então quinta-feira. Faço vinte e três anos. O convite lhe chegará às<br />
mãos...<br />
— E fico perdoado?...<br />
— Não sei!<br />
— E Ambrosina afastou-se de Gabriel, mas ficou perto do reposteiro, que<br />
apenas arredou com uma das mãos.<br />
— Ele correu até lá e estendeu-lhe os braços.<br />
— Adeus... disse.<br />
— Adeus, respondeu a dissimulada.<br />
— Nem uma palavra de esperança?...<br />
— Eu te amo, segredou ela.<br />
E fugiu para dentro.<br />
Gabriel quedou-se por algum tempo estático, a olhar abstratamente para o<br />
reposteiro que se fechara sobre a bela moça. Depois, rebentou-lhe no coração uma<br />
grande alegria, e ele saiu a chorar de contentamento.<br />
— Ama-me! exclamava, desgalgando a escada. Ama-me! Como sou feliz!<br />
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