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www.nead.unama.br<br />
Foi justamente no pavilhão, que aqueles dois rapazes mais capricharam:<br />
havia cupidos por toda a parte, pombinhos, grinaldas, fitas e borboletas. Era um<br />
bouoir de mágica, um ninho casquilho e arrebicado.<br />
Mudaram-se também para a chácara, com pretexto de ajudarem, Ursulina e<br />
suas duas filhas: Eugênia e Miló.<br />
Chegou, afinal, o grande dia, e tudo correu às mil maravilhas, até à hora em<br />
que os noivos fugiram para a independência feliz do seu pavilhãozinho cor-de-rosa.<br />
E viu já o leitor, pelo segundo capítulo, todas as desgraças que então se sucederam.<br />
Pois bem; vamos agora encontrar de novo os nosso pobres heróis na crítica<br />
situação em que os deixamos.<br />
Gaspar, como vimos, fora surpreendido pelo comendador na ocasião em<br />
que socorria Ambrosina, e declarou, apesar de enxotado pelo dono da casa, que<br />
ficava no seu posto de médico; Gabriel fora recolhido a um quarto, e o noivo, tão<br />
violentamente atacado de insânia, teve de resignar-se a ser encerrado no porão da<br />
chácara.<br />
Quem imaginaria que o homem, para quem se faziam todos aqueles<br />
deslumbramentos, havia de ser encurralado no pior lugar da casa?...<br />
Depois de tais cenas, tudo se converteu em sobressalto e desordem. O<br />
comendador compreendeu que não dispunha de outro médico, e consentiu que<br />
Gaspar tratasse da filha; esta, porém, não queria voltar a si do tremendo abalo<br />
nervoso que a prostrara.<br />
Da gente quedada para passar a noite na chácara, muitas pessoas<br />
desapareceram com a catástrofe e outras se achavam chumbadas à cama pelo<br />
vinho. Melo Rosa e o Rêgo eram dos últimos. Além de muito cansados, havia neles,<br />
para os inutilizar de vez, uma formidável carga de champanha.<br />
Gaspar medicou o enteado, e voltou a cuidar de Ambrosina, cujo<br />
desfalecimento principiava a sobressaltá-lo. O comendador e a mulher encostaramse,<br />
a chorar, no quarto da filha e esperaram pelo dia.<br />
Ambrosina, estendida na cama, parecia morta.<br />
Gabriel ficara só; às cinco horas da manhã, abrira os olhos e percorrera-os<br />
com um ar infeliz e resignado pelo quarto, como um ferido à espera da ambulância.<br />
Entretanto, por detrás do seu leito, sem ser vista e sem ser ouvida, uma<br />
doce amiga lhe velava o sono, e parecia resguardá-lo com um véu de amor e de<br />
piedade.<br />
Era Eugênia.<br />
Leonardo havia enlouquecido totalmente, e só com muita dificuldade<br />
conseguiram alimentá-lo.<br />
De um moço bonito e elegante que era, estava um monstro. Tinha os olhos<br />
espantados e vermelhos, o cabelo hirsuto, a boca feroz. Não admitia nenhuma roupa<br />
no corpo e passeava a quatro pés na sua prisão, soltando uivos plangentes ou<br />
bramidos de fúria.<br />
E assim se passaram dois dias tristes e aborrecidos. Havia por toda a casa o<br />
constrangimento da desgraça. Ninguém se animava a rir e conversar livremente;<br />
ouviam-se gemidos e suspiros dolorosos, e de vez em quando os berros de<br />
Leonardo. Andavam todos espantados.<br />
Gaspar declarou que o louco não podia ficar ali:<br />
Ambrosina, se chegasse a ouvir aqueles berros, havia de piorar e talvez<br />
viesse a enlouquecer também. Leonardo foi com grande trabalho, conduzido para<br />
uma casa de saúde no bairro de Laranjeiras.<br />
Gabriel convalescia à sombra dos desvelos de Eugênia.<br />
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