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www.nead.unama.br<br />
clarins ressoam, atroa os ares o rufo dos tambores! Oficiais, refulgentes de ouro,<br />
galopam sobre os rastros do meu Imperador. Como vai belo! Da palidez da sua<br />
fronte e da sombra de seus olhos transparecem fulgurações divinas. O seu sorriso É<br />
um clarão de glória... Ei-los que partem! Já mal se avista o fuzilar das armas e mal<br />
se ouvem trovejar os tambores. É a tempestade que se afasta para rebentar além.<br />
Rompeu o fogo! Estão em plena batalha! A pólvora os embebeda numa nuvem de<br />
fumo. Ninguém mais se entende! Chocam-se os esquadrões, retinem os ferros,<br />
ronca a metralha! Avante! Avante!<br />
"E Laura, de pescoço estendido, a boca aberta, o olhar disparado em flecha,<br />
deixou-se cair sobre as mãos, numa atitude de esfinge, e murmurou, apenas<br />
perceptivelmente:<br />
''— Viva Napoleão<br />
"E, num estranho chorar de morta, começaram-lhe as lágrimas a escorrer<br />
dos olhos pelas faces emurchecidas, sem um soluço, nem um gemido.<br />
"— Laura chamei, tomando-a nos meus braços.<br />
"Ela deixou pender molemente a cabeça sobre meu ombro, estirou os<br />
membros, e um extremo suspiro lhe fugiu do peito.<br />
"Já não vivia.<br />
"Apoderei-me dela então, louca, sem consciência de mim (Ainda era tão<br />
formosa!) e colei meu lábios aos seus amortecidos, e enlacei-a toda fria contra o<br />
meu colo ardente, bebendo o derradeiro calor daquele idolatrado corpo já sem vida.<br />
"E foi a última vez que amei... para sempre!"<br />
— Vês tu? interrogou Ambrosina, entre sorrindo e triste, quando Gustavo<br />
fechou o livro; para sempre!...<br />
Ele demorou-se um instante a contemplar, muito abstrato, a capa do<br />
manuscrito; depois, como se despertasse, o restituiu à dona, e foi buscar o chapéu e<br />
a bengala.<br />
— Adeus... disse.<br />
— Para onde te atiras? indagou ela.<br />
— Não sei...<br />
— E quando voltas?<br />
— Nunca mais...<br />
— Hein? Nunca mais?!<br />
— Sim. Adeus.<br />
Houve um silêncio, durante o qual o desgraçado em vão esperou que a<br />
amante lhe cortasse a retirada com uma carga de carícias; Ambrosina não se moveu<br />
do divã em que estava, e murmurou afinal, de olhos meio cerrados:<br />
— Pois adeus...<br />
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