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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

insultar-te ainda a branca memória com esta minha dor hipócrita e covarde. Nelas<br />

não creias, nem com elas se enterneça a tua alma compassiva e meiga! Fui eu<br />

quem te matou! Fui eu o teu algoz, anjo envenenado pelo amor que te inspirei!<br />

Desceste ao pântano, imaculada pomba; deletérios miasmas foi o que encontraste<br />

em lugar de amor que procuravas no meu coração de lobo. E agora choras tu,<br />

miserável! Cala-te, que o teu pranto põe feias nódoas na virginal mortalha da tua<br />

vítima! Traga em silêncio o remorso do teu crime, e volta à tua lama, libertino!<br />

Mergulha de novo na vasa em que agora bracejas aflito, e não levantes sequer o<br />

pensamento àquela que no mundo só teve uma falha cometida — a de haver um dia<br />

suposto digno de ser amado por ela!<br />

E Gabriel, sufocado por uma nova explosão de soluços, rugiu apertando a<br />

cabeça entre as mãos:<br />

— Maldito seja eu, contra quem tudo conspira! Foi-se-me a última esperança<br />

de salvação! Já nada me resta na vida! Acabou-se tudo!<br />

— Ainda não! bradou numa voz à porta do quarto. Ainda te resta um amigo!<br />

Gaspar! gritou o moço, caindo nos braços do padrasto. Perdoa— me, meu<br />

Gaspar!<br />

— Cheguei neste instante e ainda não sei onde tenho a cabeça! disse o<br />

Médico Misterioso. Imagina que estava em Cantagalo à cabeceira de um moribundo,<br />

quando recebi de Pernambuco uma carta de meu cunhado Paulo Mostella, na qual<br />

me participava a crítica situação dos seus negócios e o estado perigoso da mulher.<br />

Podes calcular como fiquei com semelhante notícia; eu adorava minha irmã, era ela<br />

o último laço da infância que me restava no mundo... Três dias depois, meu doente<br />

de Cantagalo expirou. Não esperei por mais nada, corri a Pernambuco, sem me<br />

despedir de ti. Chego a essa cidade justamente no dia da falência de Paulo, e<br />

encontro Virgínia completamente perdida... Meus esforços foram baldados! Morreume<br />

nos braços! Paulo tinha de entregar-se no dia seguinte à prisão, a sua quebra foi<br />

considerada fraudulenta... mas, quando no momento terrível lhe invadiram o<br />

escritório, deram com o seu cadáver aos pés da secretária. Envenenara-se com<br />

ópio. Ao lado dele estava esta carta a mim dirigida.<br />

E Gaspar tirou uma carta do bolso, e leu:<br />

"Meu cunhado e amigo.<br />

"Escrevo-lhe na ocasião de morrer, e se lanço mão deste último recurso, é<br />

porque confio que o senhor olhará por meu pobre órfão, e nessa hipótese morro<br />

descansado.<br />

"Estou desonrado e estou viúvo; isto é, perdi as duas únicas cousas que me<br />

faziam viver — minha honra e minha família.<br />

"Gustavo já não é uma criança, tem dezenove anos e pode principiar a vida<br />

sem o meu auxílio; peço-lhe, porém, que o ajude com os seus conselhos e com a<br />

sua estima.<br />

"Adeus, beijo-lhe as mãos e agradeço-lhe tudo o que fez, e tudo o que fará<br />

por nos. — Paulo Mostella".<br />

— Marido e mulher foram enterrados na mesma ocasião e no mesmo lugar,<br />

continuou o Médico Misterioso. No dia seguinte, tratei do órfão, e uma semana<br />

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