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www.nead.unama.br<br />
daquele colo, reconstruía vertiginosamente toda a felicidade perdida, e rolava em<br />
delírio nos braços da perjura, exclamando entre beijos:<br />
— Eu te amo — Eu te amo! Suma-se tudo que não seja nosso amor!<br />
Vivamos somente para nós! Esqueçamo-nos do resto do mundo, fechados um para<br />
o outro!<br />
Mas Gabriel, ao chegar a esta conclusão do seu desvario, estremeceu e<br />
estacou em meio da rua, como se por dentro lhe picasse uma víbora.<br />
Era a Razão, que continuava de alcatéia, e lhe ferrava na consciência a<br />
primeira alfinetada.<br />
Ele passou a mão pelos olhos, corou, e disse entredentes:<br />
— Não! Juro que serei forte! Juro que terei brio!<br />
Havia chegado defronte da porta de Jorge.<br />
Bateu na rótula.<br />
CAPÍTULO XXVII<br />
O DENTE DE COELHO<br />
Veio abrir a velha Benedita.<br />
Gabriel arquejava.<br />
A sua aparição, ali na casa do cocheiro, produziu alvoroço, tanto em<br />
Ambrosina, como em Laura. Esta, porém, retirou-se discretamente, deixando os<br />
amantes em completa independência, e a outra tratou de esconder a sua comoção.<br />
Toda a retórica, que o rapaz tinha alinhado previamente em seu espírito,<br />
como quem prepara a artilharia para uma batalha, espalhou-se e voou desfeita ao<br />
primeiro olhar de Ambrosina. Ao tomar nas suas mãos a mãozinha branca e suave<br />
da formosa moça, nem mais se lembrava ele de uma única palavra de imprecação.<br />
Foi com o aspecto triste e combalido que a contemplou da cabeça aos pés.<br />
Assentaram-se defronte um do outro silenciosamente.<br />
— Então, sempre lhe mereci uma visita?... disse ela com frieza, para<br />
principiar a conversa.<br />
— Venho despedir-me... respondeu Gabriel, quase em tom de quem pede<br />
desculpa.<br />
Ali, parecia ser ele o delinqüente, e ela a queixosa.<br />
— Despedir-se?... perguntou Ambrosina, evidentemente surpreendida com<br />
as palavras da visita, mas dissimulando a sua surpresa.<br />
— É! balbuciou ele; vou partir...<br />
— Eu já o sabia... disse a ensoneira, com ar de pouco caso.<br />
— Como já sabia!<br />
— Tinha um pressentimento...<br />
— Ah!<br />
— E calaram-se.<br />
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