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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Gabriel não respondia, chorava encostado a um móvel, com a cabeça<br />

escondida nos braços.<br />

Jorge abriu à carta, sobressaltado por ter reconhecido a letra de Laura.<br />

É proporção que lia, uma terrível palidez ganhava-lhe o semblante. Os olhos<br />

foram-se-lhe dilatando com uma expressão de espanto e desespero, os lábios se<br />

contraindo, as ventas se distendendo, até que da fronte lhe começou a porejar o frio<br />

suor das grandes agonias.<br />

De repente, passando da palidez a uma vermelhidão apopléctica,<br />

escancarou a boca com um bramido de dor, e caiu de borco sobre o soalho.<br />

A casa tremeu, como se houvesse desabado ali no chão um colosso de<br />

bronze.<br />

CAPÍTULO XXXI<br />

DESTROÇOS DA TEMPESTADE<br />

A carta que lançou por terra o cocheiro Jorge era uma despedida da filha,<br />

declarando a seu modo os motivos que a arrastavam naquela viagem clandestina.<br />

Educação, temperamento, insuficiência de meio social, tudo isso ressaltava das<br />

palavras que a infeliz dirigia ao pai; este porém, nada viu nem compreendeu senão<br />

que a filha abandonava a casa paterna, e tanto bastou para fulminá-lo.<br />

Laura, todavia mostrava-se na carta muito comovida e fazia ardentes<br />

promessas de boa conduta. Nada serviu para suavizar o golpe.<br />

O pobre homem permanecia de bruços no chão. Gabriel correu a socorrê-lo,<br />

arrastou-o até a cama, e conseguiu com dificuldade estendê-lo sobre ela. Jorge não<br />

dava acordo de si, e tinha o rosto congestionado.<br />

A situação tornava-se cada vez mais penosa. Gabriel chamou várias vezes<br />

por ele, sacudiu-lhe vigorosamente os ombros. Nada! o homem continuava<br />

inanimado, a tirar da garganta uns grunhidos aterradores.<br />

O rapaz correu então à sala, abriu as janelas. Estava aflito! precisava de<br />

alguém que se encarregasse do cocheiro, porque ele não podia deixar de ir a bordo.<br />

Mas o silêncio da rua desesperou-o. A tarde fechava-se de todo, e os primeiros<br />

lampiões constelavam o arrabalde com a sua luz ainda vermelha.<br />

Gabriel deu lume a outros bicos de gás, e resignou-se a aguardar os<br />

acontecimentos. A cabeça andava-lhe aí roda e estalava de febre. Entretanto urgia<br />

tomar qualquer resolução; aquele homem podia morrer ali, se lhe não ministrassem<br />

prontos socorros!... Era preciso descobrir um médico! Que falta fazia o Gaspar<br />

naquela ocasião!...<br />

Gabriel havia já resolvido sair, a chamar algum vizinho, quando ouviu tocar a<br />

campainha do jardim.<br />

— Enfim! disse ele, como se esperasse por quem batia.<br />

E, pouco depois, entrava na sala Genoveva, pelo braço de Alfredo.<br />

A viúva do comendador Moscoso vinha sufocada de ansiedade.<br />

— Estimo que chegassem! exclamou Gabriel, assim que os viu; precisava<br />

sair imediatamente, e não tinha ânimo de deixar aqui este pobre homem sozinho!<br />

Tenham a bondade de ficar com ele... Eu já volto ...<br />

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