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www.nead.unama.br<br />
depois partimos para cá. Mas, trazia comigo uma idéia que muito me preocupava; é<br />
que a pessoa encarregada de dar-me notícias tuas me havia escrito, dizendo que<br />
Ambrosina fugira com a filha do meu cocheiro; que este morrera de desgostos, e tu<br />
procuravas morrer de extravagâncias... Falaram-me de orgias, de desvarios, do<br />
diabo! Vinha, enfim, impaciente por tornar a ver-te, quando te acho neste estado de<br />
desespero... Já sei! Eugênia morreu, e tu sentes remorsos.. Mas eu cá estou para<br />
amparar-te! É preciso que te resignes ao sofrimento e à decepção; a vida, meu filho,<br />
não é outra cousa! Entretanto, no dia em que te visse perdido para sempre, creio<br />
que não resistiria a esse último golpe, pois és agora a única afeição que me resta...<br />
Desvelei-me por ti, fui teu pai, teu amigo e teu guia; suponho que me assiste o<br />
direito de pedir-te um favor... Esse favor é que vivas, que trabalhes! é que não te<br />
deixes morrer, quando por mais nada, ao menos em consideração a mim!<br />
— E que me importam a vida e o trabalho? Conto eu porventura com a<br />
existência? Ah! para o que tenha de viver ainda, não serão, de certo os meios<br />
pecuniários que me faltarão!<br />
— Tudo isso é um perfeito engano. Todo o homem precisa de trabalhar!...<br />
Quanto ao que possues, por mais que seja, não te chegará para gastares como<br />
gastas ultimamente. Lembra-te de que já fizeste vinte e três anos, e se não<br />
acentuares agora o teu caráter, se não constituíres a tua responsabilidade de<br />
homem, muito menos o conseguirás fazer mais tarde. Quero que mudes de vida,<br />
repito; quando já não seja por mim, seja ao menos pela memória de quem se vai<br />
enterrar hoje!...<br />
— Cala-te! gemeu Gabriel, abaixando o rosto.<br />
E nesse mesmo dia, ardendo em febre, abandonou o hotel "Provençaux", ao<br />
lado do padrasto que o reconduziu para casa.<br />
Esteve de cama uma semana inteira, chegando a perigar de morte.<br />
Vertiginosamente girava o seu delírio entre dois pólos bem opostos — Ambrosina e<br />
Eugênia. Cada um destes dois nomes não lhe saía dos lábios senão para dar lugar<br />
ao outro.<br />
Levantou-se da enfermidade, não com a suave melancolia dos<br />
convalescentes, mas abatido e triste, como se no fundo do organismo lhe ficasse o<br />
vírus de um mal sem cura. Não tinha ele então desses momentos de inefável gozo<br />
de reviver, que são como o doce esvair de um crepúsculo entre a moléstia e a<br />
saúde; ao contrário, dir-se-ia que o seu espírito, à medida que o corpo recuperava<br />
as forças, ia mais e mais se afundando em lôbregas cavernas de desalento. Negra<br />
hipocondria toldava-lhe o semblante, varrendo-lhe dos olhos e dos lábios os<br />
derradeiros sorrisos.<br />
Meses depois estendido numa chaise-longue, pés cruzados sobre a mesma,<br />
charuto ao canto da boca, olhos espetados no teto, quedava-se havia meia hora,<br />
silencioso e esquecido da presença do padrasto.<br />
— Mas enfim... perguntou este, batendo-lhe no ombro; que decides?..<br />
— Hein? balbuciou Gabriel.<br />
— Vais ou não?<br />
— Para onde?...<br />
— Ora essa! Viajar! Pois não acabamos de tratar disso?...<br />
— Ah! sim, respondeu o moço, fechando levemente os olhos e mudando de<br />
posição na cadeira.<br />
— Mas então?<br />
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