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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

subserviente e tristonho. À tarde e à noite, nuns incoercíveis apuros de dinheiro,<br />

percorria as casas de jogo, jogando quando podia, e arranjando modos de jogar com<br />

as sobras dos alheios lucros, quando de todo lhe faleciam os próprios meios.<br />

Um dia recebeu a demissão.<br />

O que seria dele agora?... pensava desanimado. Ambrosina, porém, não se<br />

mostrou afligida ao receber tal notícia, declarou ao contrário que chegava a estimar<br />

o fato, pois assim o seu bebê ficaria dela exclusivamente.<br />

E a queda do desgraçado ganhou daí em diante vertiginosas proporções.<br />

Gustavo chegou a aceitar obséquios reais da amante, e muitas vezes encontrou nas<br />

algibeiras dinheiro, que ele não sabia donde procedia.<br />

Revoltou-se a princípio, mas Ambrosina, tapando-lhe a boca com a dela, lhe<br />

afogou a última reação do brio com a lama dos seus implacáveis beijos.<br />

E assim quase dois anos decorreram. Por essa época justamente morria<br />

Genoveva no hospital. A pobre mulher consentira em ir morar com a filha, mas não<br />

pudera suportar por muito tempo o triste papel, que ao lado daquela lhe impunham<br />

as fatais circunstâncias do meio. Tinha às vezes, bem a contragosto, coitada! de<br />

intervir nas degradações de Ambrosina, e isso lhe doía ainda por dentro, como se<br />

lhe fosse direito a algum ponto de sua alma, porventura conservado intacto. Doía-lhe<br />

a cumplicidade nos embustes e tramóias da filha contra a bolsa dos libertinos ricos,<br />

nas mentirosas desculpas aos amantes explorados e iludidos, na comédia, sempre<br />

repetida, da conta apresentada por terrível credor no melhor momento de um matinal<br />

idílio, cujo preço devia, em boa consciência, estar já compreendido nas largas<br />

despesas da noite anterior. E ainda mais lhe doía o ver-se em muitos casos<br />

obrigada a comissões degradantes, passando por hipócrita e ávida de propinas<br />

quando tentava revoltar-se, fazendo rir quando de todo não podia conter o pranto, e<br />

ouvindo monstruosidades quando tentava escapar aos estroinas, que lhe davam<br />

palmadas nas ilhargas e derramavam champanha pela cabeça.<br />

Em público, a <strong>Condessa</strong> <strong>Vésper</strong> achava muita graça em tudo isso, e<br />

aplaudia a estroinice dos seus libertinos com gargalhadas profissionais, mas em<br />

particular, quando se achava a só com a mãe, tinha para esta palavras de filha e<br />

pedia-lhe desculpa daquelas brutalidades. Genoveva, porém, não se consolava e,<br />

apesar das suas abstrações de demente, preferiu que a metessem num hospital, e<br />

no fim de contas lá morreu, inteiramente desamparada.<br />

Ambrosina chorou nesse dia, mas, para não dar na vista, foi até ao Alcazar,<br />

e não deitou luto.<br />

Pouco depois, Gustavo lhe apareceu uma bela manhã mais expansivo, e<br />

tomando-a pela cintura, disse-lhe que tinha arranjado um emprego rendoso, e queria<br />

propor-lhe uma cousa...<br />

— O que vem a ser?... perguntou ela.<br />

— Oh! uma cousa muito séria, cuja realização depende exclusivamente da<br />

resposta que me deres ao que te vou perguntar!<br />

— O que é?<br />

— Diz-me francamente, Ambrosina, tu me amas?...<br />

Ambrosina olhou em silêncio para ele, e riu-se.<br />

— Não zombes... Responde! Preciso saber se me amas deveras!...<br />

— Mas para quê?...<br />

— Preciso... Responde!<br />

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