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subserviente e tristonho. À tarde e à noite, nuns incoercíveis apuros de dinheiro,<br />
percorria as casas de jogo, jogando quando podia, e arranjando modos de jogar com<br />
as sobras dos alheios lucros, quando de todo lhe faleciam os próprios meios.<br />
Um dia recebeu a demissão.<br />
O que seria dele agora?... pensava desanimado. Ambrosina, porém, não se<br />
mostrou afligida ao receber tal notícia, declarou ao contrário que chegava a estimar<br />
o fato, pois assim o seu bebê ficaria dela exclusivamente.<br />
E a queda do desgraçado ganhou daí em diante vertiginosas proporções.<br />
Gustavo chegou a aceitar obséquios reais da amante, e muitas vezes encontrou nas<br />
algibeiras dinheiro, que ele não sabia donde procedia.<br />
Revoltou-se a princípio, mas Ambrosina, tapando-lhe a boca com a dela, lhe<br />
afogou a última reação do brio com a lama dos seus implacáveis beijos.<br />
E assim quase dois anos decorreram. Por essa época justamente morria<br />
Genoveva no hospital. A pobre mulher consentira em ir morar com a filha, mas não<br />
pudera suportar por muito tempo o triste papel, que ao lado daquela lhe impunham<br />
as fatais circunstâncias do meio. Tinha às vezes, bem a contragosto, coitada! de<br />
intervir nas degradações de Ambrosina, e isso lhe doía ainda por dentro, como se<br />
lhe fosse direito a algum ponto de sua alma, porventura conservado intacto. Doía-lhe<br />
a cumplicidade nos embustes e tramóias da filha contra a bolsa dos libertinos ricos,<br />
nas mentirosas desculpas aos amantes explorados e iludidos, na comédia, sempre<br />
repetida, da conta apresentada por terrível credor no melhor momento de um matinal<br />
idílio, cujo preço devia, em boa consciência, estar já compreendido nas largas<br />
despesas da noite anterior. E ainda mais lhe doía o ver-se em muitos casos<br />
obrigada a comissões degradantes, passando por hipócrita e ávida de propinas<br />
quando tentava revoltar-se, fazendo rir quando de todo não podia conter o pranto, e<br />
ouvindo monstruosidades quando tentava escapar aos estroinas, que lhe davam<br />
palmadas nas ilhargas e derramavam champanha pela cabeça.<br />
Em público, a <strong>Condessa</strong> <strong>Vésper</strong> achava muita graça em tudo isso, e<br />
aplaudia a estroinice dos seus libertinos com gargalhadas profissionais, mas em<br />
particular, quando se achava a só com a mãe, tinha para esta palavras de filha e<br />
pedia-lhe desculpa daquelas brutalidades. Genoveva, porém, não se consolava e,<br />
apesar das suas abstrações de demente, preferiu que a metessem num hospital, e<br />
no fim de contas lá morreu, inteiramente desamparada.<br />
Ambrosina chorou nesse dia, mas, para não dar na vista, foi até ao Alcazar,<br />
e não deitou luto.<br />
Pouco depois, Gustavo lhe apareceu uma bela manhã mais expansivo, e<br />
tomando-a pela cintura, disse-lhe que tinha arranjado um emprego rendoso, e queria<br />
propor-lhe uma cousa...<br />
— O que vem a ser?... perguntou ela.<br />
— Oh! uma cousa muito séria, cuja realização depende exclusivamente da<br />
resposta que me deres ao que te vou perguntar!<br />
— O que é?<br />
— Diz-me francamente, Ambrosina, tu me amas?...<br />
Ambrosina olhou em silêncio para ele, e riu-se.<br />
— Não zombes... Responde! Preciso saber se me amas deveras!...<br />
— Mas para quê?...<br />
— Preciso... Responde!<br />
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