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fleuma, e falou-lhe da filha com franqueza. Gabriel representava um papel<br />
importante na triste sorte daquela menina.<br />
Gaspar principiou então a acompanhar de perto a moléstia de Eugênia.<br />
Ao ir ter com ela, o estado da rapariga o comoveu. Entretanto, a mísera não<br />
lhe queria confessar as causas verdadeiras do seu sofrimento; tinha um como pudor<br />
da desgraça. Gaspar, embalde, fazia por merecer-lhe a confiança, ela era sempre a<br />
mesma reservada e orgulhosa.<br />
Quando o médico lhe falava de Gabriel, a pobre enferma sorria tristemente e<br />
disfarçava as lágrimas.<br />
Impressionava ao vê-la, tão pálida e fraca, estendida sobre as almofadas de<br />
uma poltrona; entristecia contemplar o negrume arroxeado dos seus olhos e as<br />
sinistras manchas das suas faces descoradas. Estava outra! desaparecia-lhe a voz<br />
na garganta, e de vez em quando a tosse lhe sacudia todo o corpo, como para o<br />
despertar do marasmo que a prostrava.<br />
Acabada a crise, ela sorria.<br />
O Sr. Windsor andava estonteado, chorava. Ursulina fazia promessas aos<br />
santos, e até Emília parecia triste. A casa toda se cobriu de luto e melancolia.<br />
Gaspar persistia em lá ir, e mostrava-se incansável com a enferma.<br />
Foi então que ele procurou Gabriel pela terceira vez.<br />
O enteado, logo que o viu, notou-lhe a grande preocupação que lhe traía nos<br />
gestos; abaixou os olhos e corou.<br />
— Como até agora não me apareceste em casa, disse o Médico Misterioso,<br />
decidi vir à tua procura, disposto a cumprir com o meu dever, custe o que custar.<br />
— A meu respeito?...<br />
— Sim, meu filho, a teu respeito, e a respeito também de uma pobre menina,<br />
a quem estás assassinando, sem consciência do crime que cometes!...<br />
— Assassinando, eu?! Ah! trata-se de Eugênia, não é verdade?<br />
— É justamente dela que se trata; é desse pobre anjo, cujo coração<br />
encheste de ilusões, para depois cruelmente o despedaçares.<br />
Gabriel abaixou de novo os olhos, deixando agora pender a cabeça,<br />
intimamente aflito.<br />
— Cumpro um dever! continuou Gaspar. Venho buscar-te, e estou resolvido<br />
a lançar mão de todos os meios para te carregar comigo. Se não vieres, Eugênia<br />
morrerá, e serás tu o seu assassino...<br />
Gabriel não dava uma palavra. Arfava-lhe o peito.<br />
— Além disso, considerou o outro, aonde te poderá conduzir a existência<br />
que aqui levas? Principio a temer-lhe as conseqüências. Estás um perfeito ocioso; já<br />
não estudas, já não trabalhas!... Nada mais fazes do que amar uma diabólica<br />
mulher, que te absorve o espírito e te corrompe o coração!<br />
— Enganas-te, Gaspar!... Ambrosina não é o que supões...<br />
— De sobra conheço a vida para me haver enganado. Jamais conseguirás<br />
ser feliz, caminhando deste modo e vivendo no meio da escória que te cerca. Não<br />
serão os Regos e os Melos Rosas que te conduzirão ao bom caminho! Estás na<br />
idade em que todo o moço decide do seu destino... Se não mudares de conduta, se<br />
te não resolveres a trabalhar, se te não fizeres homem de bem, se não tratares<br />
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