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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

valem um obséquio praticado por um homem a outro homem! Tudo o que pode fazer<br />

o coração de uma mulher não vale um empréstimo de dinheiro, uma fiança, uma<br />

comenda, um elogio pela imprensa ou qualquer outra bagatela, que afague o amor<br />

próprio de algum parvo, ou salve a suposta honra de qualquer fátuo!<br />

— Minha senhora, eu peço-lhe mil perdões, se...<br />

— É melhor não dizer cousa alguma! Vamos, assine o vale, e depois há de<br />

preparar-se para jantar. Pode receber de minhas mãos o miserável serviço que me<br />

propus oferecer-lhe: em breve o senhor terá ocasião de prestar-me um outro muito<br />

maior.<br />

Com todo o gosto! respondeu Gaspar, assinando o vale e entregando-o à<br />

sua salvadora.<br />

Esta leu consigo a assinatura, e disse com sinais de satisfação: — Logo vi<br />

que me não tinha enganado! É justamente quem eu supunha!...<br />

Em seguida, retirou-se, sem dar tempo ao hóspede para voltar a si da<br />

estranheza daquelas palavras.<br />

Ele encostou-se a um móvel, e deixou-se arrastar por um cardume de<br />

raciocínios. — Quem seria aquela mulher tão extraordinária?... Que relação haveria<br />

entre ela e um pobre viajante, pouco conhecido em qualquer parte e inteiramente<br />

ignorado naquela cidade onde pisava pela primeira vez?<br />

Estava a fazer tais considerações, quando a porta se abriu de novo, e<br />

apareceu um homem de uns sessenta anos, acompanhado por um rapaz que trazia<br />

uma caixa na cabeça.<br />

O velho era limpo, discreto e sumamente cortês; via-se nele um desses bons<br />

servos do tempo da regência, que não sabiam aprumar-se como o criado inglês,<br />

nem sorrir maliciosamente como o francês. Foi a Gaspar e cortejou-o sem afetação<br />

e sem servilismo: fez o companheiro depor no chão a caixa que trazia, e principiou a<br />

tirar dela várias peças de roupa.<br />

— Meu amo tenha a bondade de escolher daqui o que lhe convém, disse<br />

ele, como se estivesse de muito tempo a serviço de Gaspar.<br />

Este tomou o expediente de deixar que as cousas corressem ao bel-prazer<br />

da fada que fazia girar a roda daquela fortuna, e escolheu a roupa de que podia<br />

precisar.<br />

O criado tomou-lhe a medida do pescoço e da cintura, e encheu uma gaveta<br />

com o mais completo enxoval de roupa branca. Em seguida, voltou-se para o rapaz<br />

da caixa e disse-lhe que podia retirar-se.<br />

Gaspar olhava para tudo aquilo, completamente intrigado.<br />

O sexagenário entregou-lhe uma carta com o dinheiro oferecido pela oriental<br />

e perguntou-lhe depois se já queria vestir-se. Passaram para a próxima saleta, que<br />

era um brinco de luxo e de bom gosto.<br />

Pois senhor meu amo, dizia o velho, a pentear a bonita barba castanha de<br />

Gaspar; estimo bem ver afinal vossemecê à testa de sua casa... Só dessa forma a<br />

minha pobre patroazinha passará uma vida menos amarga! Ela coitada, vivia tão<br />

triste, que metia dó!...<br />

Gaspar sentiu arrepios. Ia desembrulhar semelhante mistificação; mas,<br />

receoso de fazer alguma tolice, deliberou conter-se.<br />

— Então, a senhora, vivia muito triste?... perguntou ele.<br />

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