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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

eu preciso descarregar do coração esta sede terrível, que se tem alimentado até<br />

hoje do meu próprio sangue; eu preciso arrancar da minha consciência o desespero<br />

de não haver cumprido o meu voto! Deixa-me seguir o destino da minha raça, deixame<br />

dar de beber ao meu ódio, e de mim farás depois o que entenderes! Poderás<br />

desprezar-me à vontade, e eu te beijarei os pés e te servirei como escrava! Mas<br />

deixa-me ir! o tempo urge! a hora da fortuna vai fugir! e amanhã o covarde sabe que<br />

quero matá-lo e esconde-se nos braços da mulher! Pelo amor que tens a teu pai,<br />

pelo respeito que te merece a memória de tua mãe, deixa-me passar, meu amigo,<br />

meu protetor!<br />

Gaspar levantou-a do chão e amparou-a nos braços.<br />

— Pois bem, vai disse ele; mas, antes deixa que te faça uma revelação<br />

suprema: Eu detesto Paulo Mostella; aborreci-o logo que me falaste dele, e<br />

abominei-o encarniçadamente quando o vi pela primeira vez. Até ai tinha por ele<br />

apenas um vago desprezo, mas ao vê-lo, moço forte, bonito e não repulsivo como o<br />

pintaste, odiei-o! odiei-o com ciúme, com inveja, com desespero! Lembrei-me que<br />

Paulo te gozou como eu nunca te gozarei, porque o miserável multiplicou os teus<br />

encantos com os mistérios do crime e com as alucinações do vício! Gozou-te pelo<br />

prisma do prazer pelo prazer, sem conseqüências, sem tédios, sem obrigações<br />

positivas; colheu com a boca, entre sorrisos, a flor do teu temperamento meridional,<br />

e deixou na haste os espinhos, para que eu neles sangrasse depois meu coração e<br />

meu lábios! Por isso o execrei com todo o ardor da minha vaidade de homem e do<br />

meu egoísmo de macho! Queria vê-lo cair aos golpes do teu punhal, porque a sua<br />

morte seria a minha vida; matando-o tu, eu te amaria muito mais! Porém não posso<br />

consentir em tal: esse homem que odeio, esse monstro que te enganou, é meu<br />

cunhado e é o marido de Virgínia, minha irmã mais moça! Matá-lo seria matar a<br />

mulher, porque ela o adora com todo o entusiasmo do primeiro amor e da primeira<br />

maternidade! E como posso eu ser cúmplice na viuvez de Virgínia, no luto de meu<br />

pai e no sacrifício de seu primeiro neto?!<br />

E Gaspar, segurando a oriental pela cintura, acrescentou com a voz<br />

suplicante:<br />

— Vê, reflete, minha doce amiga, minha estremecida companheira! Disse-te<br />

francamente os motivos por que não consinto que realizes os teus planos de<br />

vingança; confessei-te tudo, e peço-te agora com amor, com humilhação, que<br />

sacrifique ao bem de minha família alguma cousa da tua suposta ventura... Só no<br />

caso de não atenderes às súplicas de teu mal-aventurado amante, é que o irmão de<br />

Virgínia defenderá do teu punhal o marido de sua irmã!<br />

— Não será preciso, respondeu Violante, afastando-se. Uma vez que Paulo<br />

Mostella é necessário à felicidade de teu pai, ele viverá. Minha mão jamais se<br />

levantará para o ferir. Podes ficar tranqüilo...<br />

— Obrigado! obrigado! exclamou Gaspar, atirando-se aos pés da oriental.<br />

Bem sabia eu que em teu coração não tinha morrido ainda a idéia do bem e da<br />

justiça; obrigado! obrigado, minha amiga!<br />

— Não me agradeças cousa alguma. Eu cumpro um destino...<br />

E mudando de tom:<br />

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