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Ambrosina era uma mocinha pálida, de cabelos negros e crespos, lábios<br />
sensuais, dentes muito brancos, mãos finas, compridas e transparentes. Um todo<br />
linfático. Tinha os ombros estreitos, levemente contraídos, como por uma constante<br />
sensação de frio, os braços longos e fracos.<br />
Aos doze anos ainda se não lhe percebia que havia de ter seios, mas em<br />
compensação, possuía já um par de olhos retintos, bem guarnecidos e tão belos,<br />
que faziam, só por si, toda ela ficar bonita.<br />
O comendador babava-se pela filha e não media dinheiro para lhe dar o que<br />
ele chamava uma boa educação: o belo mestre de francês, mestre de piano, mestre<br />
de canto, mestre de dança, mestre de gramática e de retórica.<br />
Ambrosina, entretanto, logo que começou a fazer-se rapariga, dava-se com<br />
mais amor do que tudo isso à leitura dos romances franceses. Sabia de cor a Dama<br />
das Camélias, o Rafael, Olímpia de Clêves, Monsieur de Carmors e outras<br />
quejandas encantadoras vias de corrupção. Muita vez tinham que lhe guardar o<br />
jantar, porque ela não queria largar o diabo do livro!<br />
O pai dizia-lhe:<br />
— Olha lá, minha jóia! não vá isso fazer-te mal!... mas não se animava a<br />
contrariá-la.<br />
Ela não lhe dava ouvidos, e aparecia às vezes visivelmente excitada, com os<br />
olhos lacrimosos, o ar cheio de fastio, de má vontade e de maus modos.<br />
A mãe acudia-lhe com repreensões, porém o pai intervinha a favor da filha, e<br />
acabava sempre, para a esta tranqüilizar de todo, lhe prometendo trazer um vestido<br />
novo e quatro velhos romances de Alexandre Dumas.<br />
— Você está mas é estragando a pequena com essas bobagens! dizia<br />
Genoveva ao marido, com uma voz mole, como se saísse de uma boca de<br />
manteiga. Eu nunca tive desses mimos!...<br />
— E é justamente por isso que é quem é! replicava o comendador, pondo<br />
em sua frase uma intenção sutil e profunda. Le monde marche, minha rica senhora!<br />
e se fôssemos a ser o que foram nossos avós, você seria a estas horas... nem sei<br />
mesmo o quê!...<br />
— Se eu fosse o que foi minha avó, seria muito boa lavadeira. Minha mãe<br />
dizia constantemente que minha avó era a melhor lavadeira do Rocio Pequeno!<br />
— Ora, não esteja aí a dizer blasfêmias! repreendia o pai de Ambrosina a<br />
olhar para os lados. A senhora não sabe ao certo o que é, quanto mais o que foi sua<br />
avó torta! Ora; pelo amor de Deus, dona Genoveva!<br />
A Genoveva afastava-se, sem ânimo de protestar contra os remoques do<br />
marido.<br />
— O diacho do homem sempre tinha uns repentes! Credo!<br />
E assim cresceu Ambrosina fez-se mocetona, entre os enervantes zelos do<br />
pai e as inércias do amor de Genoveva.<br />
Reunia-se gente quase todas as noites em casa do comendador, e fazia-se<br />
um cavaco antes do chá. Ambrosina solfejava ao piano; as visitas fumavam ou<br />
bebiam cerveja, e o dono da casa falava de política ou de negócios.<br />
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