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atrapalhar-nos... O dia está quase aí! O corpo foi acomodado pelo melhor modo na<br />
boléia, e eu disse ao cocheiro: "Logo que chegarmos à casa, você chame o Jacó, e<br />
com ele trate de recolher este homem ao melhor aposento que se puder arranjar. É<br />
preciso que lhe não venha a faltar o mais insignificante cuidado."<br />
E Violante, voltando-me mais para Gaspar, resumiu nestas palavras a sua<br />
narrativa:<br />
— O senhor foi conduzido aqui por mão misteriosa, que o quis ligar aos<br />
meus segredos. Sua chegada a esta casa, não sei por que, diminuiu<br />
consideravelmente o sobressalto em que eu vivia. Sinto-me agora muito mais<br />
animada. O senhor inspira-me uma confiança inexplicável; só me falta saber se está<br />
disposto a auxiliar-me...<br />
Gaspar levantou-se e segurou as mãos da oriental: — Pode contar comigo!<br />
— Bem, disse ela, nesse caso o senhor principia por ser apresentado como<br />
meu marido; já é nesse estado que todos cá em casa o consideram. O senhor será<br />
em tudo, completamente em tudo, contrário do miserável que me colocou nesta<br />
situação. Ele era um marido de fato e não de direito, o senhor será...<br />
— O marido das aparências, concluiu Gaspar de bom humor; mas confessolhe,<br />
se mo permite, que preferia o outro lado da medalha.<br />
— Não zombe da minha triste situação.<br />
— De forma alguma; mas, desde que me apossei do meu cargo de marido<br />
honorário, tenho ao menos o direito de falar mal do outro, do marido de fato.<br />
— Espero que não nos havemos de arrepender do passo que vamos dar...<br />
— Pelo meu lado, farei por isso; mas o diabo é que meu pai me espera,<br />
talvez ansioso pela minha presença...<br />
— Para tudo há remédio neste mundo! Faça vir as suas malas; tranqüilize o<br />
seu bom velho com uma carta, e, para não ficar de braços cruzados, pode, como<br />
meu marido, negociar vantajosamente com os capitais que disponho...<br />
— Mas...<br />
— Por que não? Quando, porém, tivesse o senhor escrúpulos em especular<br />
com o capital que lhe franqueio na qualidade de sua esposa, poderia aceitá-lo, com<br />
juros, das minhas mãos de negociante. Hoje represento a antiga casa de meu<br />
defunto marido. Não tenho sócios, sou rica e posso dispor do que possuo como<br />
melhor entender...<br />
— Bem, nesse caso, serei um simples empregado seu.<br />
— Pois vá feito! contanto que, ao zelo pelo serviço, ligue sempre amigável<br />
interesse pela patroa. Amanhã o senhor será apresentado aos meus conhecidos<br />
como marido desta sua criada, e dentro de uma semana deixaremos Montevidéu.<br />
— Para onde vamos?<br />
— À toa! até encontrar o infame que zombou de mim.<br />
— E o que dele pretende?<br />
— Simplesmente matá-lo.<br />
E Violante estendeu o braço e disse resolutamente:<br />
— Juro por meu filho que lhe darei a morte!<br />
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